LEGISLATIVAS 2025

A noite de uma “derrota pesada” que tem tudo para dias de facas longas. Um psicodrama socialista

19 mai, 2025 - 03:37 • Susana Madureira Martins

Ainda a demissão de Pedro Nuno Santos não estava consumada e, nos bastidores, o PS começava a mexer-se. A meio da noite, elementos de um grupo restrito do PS de Lisboa começaram a receber mensagens da candidata autárquica à capital, Alexandra Leitão, a pedir mobilização, que não responde se entra na corrida à liderança. Carneiro avança já na Comissão Nacional.

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“Nãaaaao.” Foi um bruá na sala do hotel Altis, em Lisboa, quando Pedro Nuno Santos anunciou a decisão de demitir-se do cargo de secretário-geral do PS. Alguns dirigentes do partido, de resto, cedo deram sinal de que isso podia acontecer. Duarte Cordeiro, amigo próximo do ainda líder socialista, tinha sido taxativo na televisão NOW. Se o partido ficasse atrás do Chega, Pedro Nuno tinha de sair. Resta saber em que lugar ficará o partido de André Ventura, após o apuramento dos votos da emigração.

Logo à entrada para o quartel-general do Altis, Pedro Nuno Santos vinha de semblante carregado, sabendo já de antemão o resultado das projeções das televisões que davam todas a vitória à AD. E já corria entre os jornalistas que o PS podia estar taco a taco com o Chega a disputar o segundo lugar. Logo aí, o líder socialista ignorou a pergunta, feita por duas vezes, se ainda acreditava numa vitória do PS. Era preciso “aguardar”, pediu.


Ao longo de toda a noite, o ambiente no Altis nunca teve oscilações, foi sempre soturno, com poucos militantes e apoiantes na sala e a dada altura todos os dirigentes mais próximos de Pedro Nuno Santos desapareceram de cena. António Mendonça Mendes, Pedro Vaz e João Paulo Rebelo foram os que apareceram para comentar a abstenção, as primeiras projeções e eclipsaram-se. A reunião do Secretariado Nacional iria durar praticamente até ao anúncio oficial de demissão do líder.

PS em choque e num “momento gravíssimo”

“Uma tragédia”, dizia à Renascença um dirigente socialista pertencente à ala moderada do PS quando questionado sobre a hecatombe do partido e um outro destacado dirigente do partido usava a mesma formulação e não escondia a frustração: “Estou meio desorientado, preciso de recuperar da tragédia”, acrescentando que o momento é “gravíssimo” e “exige reflexão e ponderação”.

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A meio da noite, na emissão especial da Renascença, Mariana Vieira da Silva, membro do Secretariado Nacional do PS, o núcleo duro da direção de Pedro Nuno, falava de uma “derrota pesada” e a da necessidade de o partido “se concentrar nos motivos e refletir”, acrescentando que era preciso “perceber que eleitores perdeu”.

O próprio Pedro Nuno Santos sabe que as razões da “tragédia” eleitoral vão agora ser dissecadas internamente e que vai arder em lume brando dentro do próprio partido. “Acho que a avaliação agora vai ser feita por muitas pessoas diferentes, cada um tem uma opinião sobre o que correu mal, eu aliás vou ter muito interesse em ouvir as diferentes explicações que já tenho começado a ouvir”, disse Pedro Nuno em resposta à pergunta sobre as razões do desastre eleitoral.

Carneiro e Leitão: um PS a mexer-se

Ainda a demissão de Pedro Nuno Santos não estava consumada e nos bastidores o PS começava a mexer-se. A Renascença sabe que, a meio da noite, elementos de um grupo restrito do PS de Lisboa começaram a receber mensagens da candidata autárquica à capital, Alexandra Leitão, a pedir mobilização.

Vamos recuperar o centro-esquerda e a esquerda a partir de Lisboa! A partir de amanhã [hoje, segunda-feira]”, escreveu a dirigente do PS na mensagem a membros do partido em Lisboa, acrescentando que “Lisboa será o primeiro momento da recuperação, camaradas e amigos”.

São mensagens que estão a ser entendidas por diversos socialistas como um posicionamento de Alexandra Leitão perante o abandono de Pedro Nuno da liderança e o certo é que a dirigente do PS nunca escondeu, nas entrevistas que foi dando, que candidatar-se a secretária-geral não estava fora do seu radar. A líder parlamentar socialista já esta madrugada não quis responder na CNN se é candidata à liderança, referindo que é candidata à câmara e é nisso que quer concentrar-se.


O risco que alguns socialistas veem neste eventual avanço de Leitão é que a corrida autárquica em Lisboa possa ficar desguarnecida a escassos meses das eleições e já com a campanha no terreno.

O Expresso noticiou, entretanto, que José Luís Carneiro, dirigente do PS e candidato à liderança do PS derrotado por Pedro Nuno Santos, terá vontade de avançar para a corrida interna de novo e apresentar-se na reunião da Comissão Nacional que deverá ser convocada para sábado. A Renascença tentou confirmar com o próprio Carneiro, mas não foi possível até ao momento.

Resta saber, entretanto, o que vai fazer Fernando Medina, ex-ministro das Finanças e que se colocou de fora das listas de candidatos a deputados, por opção própria e tem espaços fixos de opinião quer na Renascença quer na estação de televisão NOW.

Quanto a Pedro Nuno Santos prometeu andar por aí. “Enquanto líder do PS, no último ano e cinco meses, também fui ouvindo muitas opiniões sobre aquilo que eu devia fazer, de ex-líderes, de atuais dirigentes, muitas vezes em discordância comigo e, portanto, isso faz parte da vida de um partido, quer dizer, não podem pedir a mim que deixe de dizer o que é que eu penso, ou fazer como toda a gente fez. Estarei cá para dizer o que penso sobre o país e o meu partido”, disse o ainda secretário-geral socialista, antecipando intensos dias de facas longas no partido.

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  • Americo
    19 mai, 2025 Leiria 13:09
    Boa tarde. A "herança" de Costa.........

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