Legislativas 2025

César propõe diretas no PS para junho e congresso pós autárquicas. Opção não é consensual

19 mai, 2025 - 19:20 • Susana Madureira Martins

Um eventual terceiro lugar nas legislativas implica uma redução da subvenção partidária e dirigentes do PS detetam um problema imediato para além da escolha do novo líder: como é que o partido vai pagar a campanha nacional numa altura em que há várias campanhas autárquicas a decorrer pelo país?

A+ / A-

Pedro Nuno Santos irá manter-se em funções até sábado, sabe a Renascença. É precisamente o dia em que se realiza a Comissão Nacional do partido que já foi, entretanto, convocada. A partir daí será o presidente do PS, Carlos César, a substituir o secretário-geral socialista, que se demitiu este domingo à noite, após os resultados das eleições legislativas.

A Renascença sabe que Carlos César irá apresentar à Comissão Nacional uma proposta para haver eleição do novo secretário-geral do PS em final de junho ou no primeiro fim-de-semana de julho e o congresso poderá ocorrer depois das autárquicas, se o novo líder assim o desejar.

No entanto, o partido está dividido. Na ressaca do resultado das legislativas deste domingo, em que o PS perdeu não só as eleições, como se arrisca a ficar atrás do Chega na contagem dos votos da emigração, os socialistas veem-se confrontados com o dilema de quando escolher o novo secretário-geral e sucessor de Pedro Nuno Santos. Antes, como defende César, ou depois das eleições autárquicas?

Há uma maioria no PS que defende que as eleições diretas para a escolha do novo líder só deveria ser feita após as autárquicas do outono e que até lá deveria ser o presidente do partido, Carlos César, a fazer a gestão corrente. Esta segunda parte é a que já está garantida. E é essa, por exemplo, a opinião de Ascenso Simões, antigo governante e ex-deputado que à Renascença é taxativo quando é questionado sobre como fica até lá a liderança: "Para que serve o presidente do partido?"

Eleições e congresso depois das autárquicas é o que defende também um presidente de câmara do PS contactado pela Renascença. Recandidato ao cargo, este autarca está há meses com uma campanha no terreno que não quer ver, de novo, interrompida e desta vez por uma eleição interna que perturbe a dinâmica. "O foco total e único é nas autárquicas", diz esta fonte.

Na mesma linha desta maioria vai um dirigente de Pedro Nuno Santos que, à Renascença, defende que Carlos César deve "gerir a coisa tranquilamente e depois encontra-se uma liderança". A mesma fonte do PS diz que o presidente do partido "sabe coser e fazer as pontes entre as diferentes tendências do partido".

Também Porfírio Silva, dirigente do PS e diretor do Ação Socialista, o órgão oficial de informação do partido, defendeu já esta segunda-feira no seu blogue pessoal que "não faz sentido que o PS entre num processo eleitoral interno em paralelo com as autárquicas", referindo que o partido tem "órgãos em funcionamento" e o "foco" tem de ser o das autárquicas.

Mesmo Francisco Assis, dirigente socialista que pertence à ala moderada do partido, já veio defender em entrevista ao Observador que "O PS não se deve precipitar no imediato com a realização de um congresso", acrescentando que "se deve esperar pelas autárquicas".

Esta é uma solução que tem vários problemas, nomeadamente uma vacatura do lugar de secretário-geral numa altura em que é preciso tomar decisões sobre governabilidade do país, com alguns socialistas a assinalarem como problemático que o presidente do partido fique com o ónus de tomar decisões que possam condicionar o futuro líder do PS.

A solução intermédia: diretas já, congresso depois

A solução que estará a ser ponderada, segundo apurou a Renascença, é algo intermédio e que possa resultar a contento das várias tendências. Marcar eleições diretas para a escolha do novo líder já e realizar o congresso depois das autárquicas. De resto, Pedro Nuno Santos foi o primeiro a mostrar urgência na sua própria substituição logo na noite eleitoral

Fonte do PS diz à Renascença que este esquema de calendário pré-autárquicas "parece ser mais ajuizado, mesmo fazendo o congresso só depois". Isso permitiria ter, por exemplo, um secretário-geral eleito a tempo da apresentação do programa de Governo e de tomar decisões sobre o posicionamento do PS num Parlamento já com a posse tomada.

Um presidente de uma das maiores federações do PS admite à Renascença que "quem está nas concelhias e a preparar as autárquicas não quer diretas agora", mas também valida que "o partido não pode cair no vazio" e que deve ser encontrada a tal "solução intermédia".

A mesma fonte não vê problemas, por exemplo, em que o novo secretário-geral eleito fique a gerir tudo com os atuais órgãos de direção, sendo que os novos só seriam eleitos num congresso a realizar após as autárquicas. "O partido não está com qualquer espírito de fricção com um eventual novo líder", garante este dirigente socialista.

Sendo assim, a nova liderança teria o secretariado nacional e a comissão política escolhidos por Pedro Nuno Santos, mas o presidente de federação do PS já citado diz à Renascença que o partido "está consciente" do problema que tem em mãos, apelando ao mesmo tempo para que surja uma candidatura única à liderança.

Na mesma linha, um dirigente de uma das mais importantes concelhias do PS diz à Renascença que não acredita sequer que Carlos César deseje ou aceite ficar a fazer a gestão do partido sem uma nova liderança. "É insustentável achar que podem aguentar sem líder até depois das autárquicas", diz este dirigente.


Há um problema, por exemplo, que o partido tem de resolver no imediato que é o da redução substancial da subvenção partidária. O mesmo dirigente concelhio já citado dia à Renascença que esse é mesmo o "maior problema" do PS, colocando a questão: "Como é que vai pagar a campanha das legislativas quando tem não sei quantas campanhas autárquicas a decorrer?"

Carneiro na rampa de lançamento

Praticamente dada como certa é a candidatura de José Luís Carneiro à liderança do PS, numa segunda tentativa, após ter sido derrotado por Pedro Nuno Santos em 2024. Um presidente da federação já citado diz à Renascença que "não vai haver condições para ninguém avançar", a não ser o ex-ministro da Administração Interna de António Costa.

Já esta manhã, fonte próxima de Carneiro dizia à Renascença que o ex-ministro "está a ser contactado por militantes do PS e pela sociedade civil" e que este é "o momento de ouvir, ponderar e depois decidir". A mesma fonte adianta que José Luís Carneiro "está, como sempre esteve, disponível para servir o PS" e que "falará no momento oportuno".

Quanto a Alexandra Leitão, que este domingo na CNN não afastou taxativamente uma eventual candidatura à liderança do PS e se disse concentrada na candidatura autárquica a Lisboa, poderá ter a vida dificultada.

À Renascença, um presidente de federação do PS salienta que Leitão poderá não ter "condições de apoio das estruturas" e que a coisa só mudaria de figura entrando em cena uma Mariana Vieira da Silva ou Fernando Medina, que dificilmente deverão avançar para uma corrida à liderança.

O mesmo assume um dirigente concelhio à Renascença: "Alexandra Leitão não tem condições na estrutura do partido", sobretudo numa altura em que as autárquicas em Lisboa estão a ser preparadas "com mais intensidade", surgindo esta hipótese como eventual "conversa para arranjar confusão".

Saiba Mais
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+