Partido Socialista

Não é a "cadeira de sonho", mas Brilhante Dias admite ser líder parlamentar e coloca Medina e Vieira da Silva na direção de Carneiro

23 mai, 2025 - 20:52 • Susana Madureira Martins

“Era preciso ser rápido”. O dirigente socialista responde às críticas de Fernando Medina e Mariana Vieira da Silva sobre a pressa com que José Luís Carneiro avançou com a candidatura à liderança do PS, que justifica com a necessidade de “afrontar com eficácia o próximo combate eleitoral que são as eleições autárquicas”.

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Brilhante Dias admite voltar a ser líder parlamentar e coloca Medina e Vieira da Silva na direção de Carneiro
Ouça a entrevista a Eurico Brilhante Dias

Eurico Brilhante Dias não exclui voltar a ser líder parlamentar do PS na próxima legislatura, mas vai dizendo que também não é a sua “cadeira de sonho”. Apoiante da candidatura de José Luís Carneiro para a liderança do partido, o dirigente socialista admite que Fernando Medina e Mariana Vieira da Silva venham a fazer parte do secretariado do futuro secretário-geral. “São gente de muita qualidade, que faz muita falta ao PS”, reconhece.

Em entrevista à Renascença, o antigo líder parlamentar responde às críticas sobre a pressa com que José Luís Carneiro se posicionou para a corrida à liderança do PS. “Era preciso ser rápido”, justifica, argumentando que “o PS tem eleições autárquicas que nos obrigam a ter um foco muito particular”.

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Sobre governabilidade, Eurico Brilhante Dias diz que o PS tem de “saber ler os resultados eleitorais” e, perante um Governo minoritário aconselha: “não devemos ser obstáculo à natureza dos resultados eleitorais” e “temos de perceber que não devemos entregar a AD nas mãos do Chega”.

Este sábado, realiza-se a Comissão Nacional do PS, convocada para definir o calendário e os moldes da eleição da nova liderança do partido, e Brilhante Dias elogia a "rapidez" do presidente do partido, Carlos César, em resolver a "vacatura" do secretário-geral. "Entendeu que a questão da vacatura se devia resolver rapidamente com uma solução dos órgãos, mais uma vez, mostrando inteligência, saber, ponderação e experiência", defende o dirigente socialista.

É público que é apoiante da candidatura de José Luís Carneiro à liderança do PS. Houve aqui pressa a mais em avançar, como têm defendido, por exemplo, Fernando Medina ou Mariana Vieira da Silva?

Penso que nós, no domingo, todos, sem exceção, percebemos que a derrota do PS ia muito para além das nossas expectativas iniciais. Mesmo aqueles mais pessimistas, percebendo que podíamos não ganhar as eleições, não estimaram que o impacto fosse tão violento como foi. O PS teve uma derrota considerável, que não é uma derrota que deva ser exclusivamente imputada ao secretário-geral, bem pelo contrário, agora, é evidente que o PS tem eleições autárquicas que nos obrigam a ter um foco muito particular.

Perante a vacatura, perante a decisão do Pedro Nuno Santos, o PS tinha de ter um secretário-geral novo e não podia fazer arrastar um processo interno. Era preciso ser rápido. Um processo interno que nos levaria a que a discussão interna fosse confundida com o período de campanha autárquica. Os autarcas do PS e os candidatos às diferentes câmaras e juntas de freguesia percebem que o partido deve estar unido e se deve focar no combate externo, que é um combate muito importante.

Mas como é que viu declarações de Fernando Medina que referiu que essa pressa do José Luís Carneiro impediu um amplo debate e uma reflexão interna?

A reflexão é necessária, não está feita, tem de se fazer, mas nós precisamos de um líder, precisamos de um rosto e precisamos, evidentemente, que esse rosto esteja ao lado dos autarcas e que não se arraste este processo interno para o período de campanha eleitoral autárquica, até porque logo a seguir às autárquicas teremos imediatamente a seguir o Orçamento do Estado de 2026. O Fernando Medina é um dos nossos melhores, assim como a Mariana Vieira da Silva, a Ana Catarina Mendes, a Alexandra Leitão. Todos eles fazem parte do futuro.

Que lugar é que terão numa eventual direção de José Luís Carneiro?

Pessoalmente, considero que devem pertencer aos órgãos do partido.

Pelo menos à Comissão Política?

Não, eu diria mais, não vejo razões para que muitos deles não sejam membros do Secretariado Nacional, se isso for entendido como pertinente.

O Secretariado Nacional é um órgão executivo do partido, o Grupo Parlamentar terá uma direção. São gente de muita qualidade, que faz muita falta ao PS. Precisamos de enfrentar as autárquicas, precisamos de estar ao lado da Alexandra Leitão em Lisboa, como do Manuel Pizarro no Porto, como da Ana Abrunhosa em Coimbra, do António Pina em Faro. É um conjunto de camaradas muito qualificados, com uma enorme experiência no partido, mas também em funções governativas, e até autárquicas, como é o caso do Fernando [Medina] que é um dos nossos melhores, continuará a ser um dos nossos melhores, a participação dele é muito relevante.

Temos agora uma provável candidatura de Miguel Prata Roque, que diz que só está à espera dos resultados da Comissão Nacional deste sábado, para dizer ao que vem. É para levar a sério?

Levar a sério levo todos os militantes do PS. O Miguel Prata Roque, aparentemente, por aquilo que vai aí dizendo, está num processo de reflexão esperando os resultados da Comissão Nacional, e, portanto, vamos ter de aguardar também o resultado da Comissão Nacional, e acima de tudo a reflexão que ele fará a partir desses resultados.

É um destacado militante do PS. Nós devemos contar com todos e também com o Miguel, portanto, não estou a excluir ninguém.

Acha que a Comissão Nacional vai ser uma reunião pacífica?

Não sei. É a primeira Comissão Nacional depois do resultado eleitoral e é normal que os participantes reflitam também sobre a natureza dos resultados e das razões e sobre o trabalho que há a fazer, é perfeitamente legítimo. O presidente, Carlos César, marcou com esta rapidez a Comissão Nacional porque entendeu que a questão da vacatura era uma questão que se devia resolver rapidamente com uma solução dos órgãos e, mais uma vez, mostrando inteligência, saber, ponderação, experiência, marcou a Comissão Nacional e tem como ponto importante uma decisão sobre como resolver esta questão da vacatura do secretário-geral. E isso é o ponto central. Carlos César mostra que teve uma preocupação em que o partido, unido e em conjunto, tivesse uma solução que permitisse afrontar com eficácia o próximo combate eleitoral que são as eleições autárquicas.

Até haver um líder do PS, as orientações do partido serão tomadas por quem? Pelo presidente do partido?

É evidente que o presidente do partido terá de ser sempre considerado e, aliás, em qualquer circunstância, mas, em particular nestas circunstâncias, será considerado, terá de ser considerado. Evidentemente, teremos de ouvir também os deputados, mas, repito, sem o quadro claro da Comissão Nacional, com a proposta do presidente do partido, acho difícil estarmos a alvitrar datas e, em particular, o momento em que o secretário-geral, o novo secretário-geral entraria em funções.

Pedro Nuno Santos tinha pensado, muito antes de toda esta crise política acontecer, em realizar Estados Gerais do Partido, para uma reflexão sobre a alternativa política do Partido Socialista. É algo que poderá ser recuperado mais à frente?

É evidente que o partido terá de encontrar fóruns de debate interno, não só sobre a sua proposta política posterior. Devemos refletir em função dos resultados eleitorais, da natureza, dos grupos de cidadãos, de forma mais ou menos homogénea, que optaram por outras candidaturas.

Porque é que nós não recolhemos o voto de alguns cidadãos, por exemplo, nas periferias de Lisboa e do Porto? O voto jovem, que é uma coisa que nos vem acompanhando, mas também a forma como nos organizamos internamente, como somos capazes de comunicar dentro da estrutura, de como nos relacionamos com os militantes. Essa reflexão deve ser feita.

Na minha opinião, no curtíssimo prazo, o importante é termos um movimento autárquico importante, apoiar os autarcas do PS, fazer uma convenção autárquica que mobilize os autarcas e o partido para este combate político tão importante. É por isso que eu separo muito essa ideia de termos uma liderança, que é necessária, rapidamente, para afrontar este calendário, que é um calendário difícil, da reflexão que temos que fazer.

A reflexão não se vai esgotar sequer num futuro próximo congresso, não é?

O congresso é um momento importante, porque teremos moções alternativas, seguramente, ou teremos várias moções, mesmo de natureza setorial, mas teremos seguramente outros momentos e outros passos para refletir sobre a proposta política e sobre a forma como nos devemos organizar. Estou muito de acordo com aqueles que dizem que o partido precisa de fazer uma reflexão, ou seja, que a natureza dos resultados, pela sua atipicidade, devem merecer uma reflexão mais profunda. Mas ela não se esgota num momento, num congresso. Temos que olhar para este momento, fazer oposição ao governo, naturalmente, oposição democrática ao governo, preparar as autárquicas, mas não adiar uma reflexão necessária, que terá várias etapas, seguramente.

O PS está como que obrigado a viabilizar, quer o programa de governo, quer os Orçamentos do Estado da AD, para garantir a tal estabilidade de que se tem falado no partido?

O PS é um partido democrático e, portanto, nós temos de saber ler os resultados eleitorais que resultaram num governo minoritário e não devemos ser obstáculo à natureza dos resultados eleitorais.

Pessoalmente, penso que temos de olhar para a natureza dos resultados e também de perceber que não devemos entregar a AD nas mãos do Chega. Somos um partido de diálogo, há áreas da governação que merecem um diálogo entre as forças democráticas. Nunca nos furtámos a esse diálogo, mesmo com Pedro Nuno Santos, em diferentes circunstâncias. Podemos ter momentos de diálogo, cabe ao doutor Luís Montenegro e à AD interpretar os resultados eleitorais. Penso que a AD deve perceber que, se fizer uma equivalência entre o Chega e o PS, está a fazer um mau serviço à democracia portuguesa e está, em grande medida, a negociar e a colocar-se ao lado da extrema-direita antissistema democrático, com discurso racista e de xenófobo.

O que lhe pergunto é se o PS vai dar essa garantia de estabilidade ao viabilizar documentos importantes como o Orçamento do Estado?

Não vou antecipar. O José Luís Carneiro não está sequer eleito e nós devemos respeitar esse momento, as opções que há a tomar na Comissão Nacional ainda não foram tomadas, não devemos antecipar uma discussão que neste momento não existe. O grupo parlamentar do Partido Socialista será constituído, esperemos que com mais deputados que os 58, vamos ver os resultados da emigração.

Como disse ainda há pouco tempo o próprio Fernando Medina, o PS tem uma obrigação democrática de não se colocar numa perspetiva em que empurra a AD para o Chega e cuja garantia de estabilidade apenas se pode fazer com a participação de um partido que é antissistema democrático.

São essas garantias de governabilidade e de estabilidade que o PS vai poder dar já na próxima semana ao Presidente da República?

O principal responsável pela governabilidade e pela estabilidade é o Dr. Luís Montenegro.

Mas o PS também pode dar um sinal, não é?

Não tomo decisões sozinho. Cada coisa no seu tempo. Temos um momento muito importante agora com a Comissão Nacional e depois teremos momentos posteriores. E devo dizer que, na minha opinião, temos de ser democratas e ter uma leitura clara sobre o processo eleitoral que terminará com o escrutínio dos votos dos portugueses que vivem no estrangeiro. Houve um processo de negociação e de conversa para o Orçamento do Estado de 2025 sobre diferentes temas. Luís Montenegro entregou a proposta de Orçamento de 2025 sem acordo do PS, entendeu fechar esse processo à revelia de qualquer entendimento com o PS. Por isso digo que cabe ao Governo criar as condições de governabilidade, numa leitura dos resultados eleitorais, em que aquilo que se pede ao Dr. Luís Montenegro é que escolha dialogar com os democratas e não com o partido que tem propostas antissistema democrático.

Em relação à eleição do presidente do Parlamento, que é algo um pouco mais imediato, o PS pode concertar-se de novo com a AD ou a AD tem de arranjar a sua própria solução?

Da última vez que esse processo ocorreu, eu ainda era líder parlamentar e devo dizer que aquilo que correu profundamente mal foi uma visão arrogante da AD, que entendeu apresentar o nome sem a mínima concertação.

E agora?

O que se pede, mais uma vez, e eu penso que é o primeiro passo também para um diálogo, é que quem propõe o candidato a presidente da Assembleia da República deve encetar, na minha opinião, os passos que devem ser dados para podermos eleger um presidente ou uma presidente da Assembleia da República.

Há essa disponibilidade para conversar?

A força mais votada, não tendo maioria, deve dialogar com as forças políticas que estão no Parlamento. Aliás, sem exclusões, porque parece-me talvez pouco inteligente, querer governar como se se tivesse uma maioria absoluta, quando, de facto, no Parlamento não tem uma maioria absoluta.

Podemos ter, de novo, o Eurico Brilhante Dias como líder parlamentar do PS?

Lembro-me sempre do André Villas-Boas [antigo treinador e atual presidente do Futebol Clube do Porto], que dizia que tinha uma cadeira de sonho. Ser presidente do grupo parlamentar não é a minha cadeira de sonho, não tenho essa perspetiva. Já fui líder parlamentar num período muito concreto da vida do país, gostei do que fiz, acho que fui eficaz e tive o reconhecimento dos secretários-gerais do PS com quem trabalhei.

Estou disponível para servir o partido, isso é um lugar-comum que se diz nestas circunstâncias. O partido tem outros deputados e deputadas a quem eu reconheço competência e capacidade para ser líder parlamentar. Não estou a dizer que isso não vai acontecer, porque isso depende também da escolha do secretário-geral e depende depois da escolha também dos deputados. Mas não vou colocar uma circunstância dessas, um cenário destes.

Está disponível, mas...

Quer dizer, quem vive nesta vida, dizer assim, "jamais", "nunca", isso seria tonto da minha parte.

Seria um bom sinal que fosse escolhida, por exemplo, Mariana Vieira da Silva?

É uma escolha do secretário-geral. A Mariana é um dos nossos melhores quadros. É, seguramente, das pessoas mais competentes que conheci no Governo. Tem uma enormíssima capacidade de análise, fizemos muito bem combate político na área da Saúde no Parlamento nesta última legislatura e a Mariana Vieira da Silva é um dos quadros mais qualificados do partido e tenho a certeza que contará para o futuro próximo.

Esse era um sinal que podia ser dado?

Há outras personalidades e eu penso que nós não devemos fechar-nos em soluções únicas. O grupo parlamentar do PS tem, neste momento, 58 deputados eleitos, esperemos que tenha mais. E, dentro dos 58, há gente com muita experiência e capacidade de poder ser líder parlamentar também.

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