02 ago, 2023 - 06:19 • Fábio Monteiro
Dois grupos de 50 peregrinos ucranianos – uns de Kiev, outros de uma cidade fronteiriça da Polónia - chegaram a Lisboa, na terça-feira à tarde, após quase uma semana de viagem de autocarro. Vieram, claro, para estar na presença do Papa Francisco. Na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) esperam ouvir uma mensagem sobre a guerra na Ucrânia.
Com olheiras profundas, mas também entusiasmados, os jovens mal tiveram tempo de desfazer as malas e tomar um banho, antes de se porem a caminho do Parque Eduardo VII, para a missa inaugural da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Eram 14h30, quando pisaram a capital. Menos de uma hora depois, já cirandavam pelas ruas.
A viagem foi “desconfortável”, conta Anna Shaban, líder do grupo que partiu de Kiev, à Renascença. “Viajar durante a noite, conseguir dormir, foi especialmente difícil.”
Durante a jornada, os peregrinos fizeram uma pequena pausa para descansar no Lago de Garda, nos arredores de Milão, Itália, e aproveitaram para visitar o santuário de Nossa Senhora de Lourdes, França. O resto foram quilómetros sobre rodas.
Feliz por estar em Portugal para a JMJ, Anna, de 17 anos, é responsável por um grupo de 47 peregrinos, dos quais apenas quatro homens, três menores e um adulto.
“Sei de muitos jovens, especialmente rapazes, que estão na Ucrânia e queriam estar também nesta festa. Mas agora, por causa da guerra, não é possível. Estamos aqui para representar essas pessoas”, lembra.
Sair de Kiev – com o país em guerra – foi uma experiência “muito emocional”, confessa ainda. Deixar pais, família e amigos, mesmo que por duas semanas, foi “duro”.
Mais que turismo, a vinda até Lisboa para os peregrinos ucranianos é uma missão.
Para a irmã Marta Turash, responsável pelo grupo que partiu da Polónia, é importante estar em Portugal por estes dias. A viagem foi “dura”, sentiu falta de ter “um chuveiro por perto”. Mas findo o percurso de milhares de quilómetros, o foco agora é outro.
“A nossa presença aqui é uma espécie de demonstração de que nós estamos a rezar, estamos a lutar, estamos vivos e estamos a pedir a toda a Igreja Católica que reze por nós”, diz à Renascença.
Na JMJ, a religiosa tem a esperança de ouvir do Papa Francisco algumas palavras sobre o conflito na Ucrânia.
“Esperamos receber uma mensagem do Papa Francisco, mas não é fácil. É uma situação muito dolorosa. Estamos à espera de palavras de apoio e orações do Papa, porque somos os seus filhos. Somos como filhos à espera de uma palavra de apoio do pai”, admite.
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Apesar de o clima da JMJ ser de festa, a irmã Marta Turash diz que terá dificuldade em desfrutar – ou fazer turismo. O conflito que decorre no seu país é uma dor sempre presente.
“Precisamos que todo o mundo se lembre do sofrimento do nosso país. Para nós, é importante. É como quando temos uma dor nos dentes, permanente, não podemos estar felizes e descansar. Porque sabes, não te esqueces que tens uma dor. Estamos felizes [por estar aqui], tentaremos partilhar experiências, mas nós temos uma dor e é uma dor muito forte”, afirma.
As mensagens que o Papa Francisco irá trazer para a JMJ não são conhecidas.
E recorde-se: o bispo auxiliar de Lisboa e coordenador da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), D. Américo Aguiar, há alguns meses, falou sobre um possível encontro entre peregrinos ucranianos e russos na JMJ, mas essa iniciativa acabou por não avançar.
Volodymir Kundzir está em Lisboa para a JMJ. Porém a sua cabeça, coberta por um chapéu panamá, está noutro sítio.
O homem adulto, o único do grupo de peregrinos, assim que começa a falar com a Renascença, tira o telemóvel do bolso e abre uma aplicação que rastreia os alertas de bombardeamento em Kiev.
“Só nas últimas 24 horas, houve três alertas”, diz, enquanto mostra o ecrã.
Além de uma experiência religiosa, Volodymir está nas Jornadas “pela Ucrânia”. É por isso que, não há surpresa, quando diz:
“Queremos mostrar que somos fortes, queremos mostrar ao mundo que nós somos um país independente, não a presa de outra nação.”