17 out, 2024 - 08:00 • Alexandre Abrantes Neves
6 de agosto de 2023. Uma data inesquecível para o padre Guilherme Peixoto – o dia em que foi despertador para mais de um milhão de peregrinos na Jornada Mundial da Juventude.
“Aqueles trinta minutos demoraram-me um mês a preparar. Selecionei palavras-chave da mensagem do Santo Padre e depois foi criar o final do set, a pensar ‘era interessante se os jovens levassem um resumo deste momento’. A seguir, foi trabalhar até às quatro e ir de direta”, recorda, com um sorriso rasgado nos lábios.
O DJ set que apresentou antes da missa de envio da JMJ trouxe o DJ e padre Guilherme para as luzes da ribalta. Desde aí, houve “muito mais trabalho”, obrigou-o a criar uma equipa para gerir as atuações e conseguir dedicar-se “a este conceito em que unimos o padre ao DJ”.
Esta imagem dupla é bem visível na casa paroquial onde nos recebe, na localidade de Amorim, na Póvoa de Varzim. No piso de baixo, deixámos as alvas, as velas e as caixas com material da paróquia. Cá em cima, a sala de estar divide-se entre o estúdio onde experimenta as batidas e os sofás virados para as estantes onde repousam vinis e bíblias.
A vontade de espalhar a mensagem de Deus através da música começou ainda no Seminário Interdiocesano de Braga, criou uma banda com mais quatro colegas, com quem tocava e cantava músicas de “pop rock”.
Festival Rejoice
20 bandas de jovens católicos sobem ao palco este (...)
Com a saída para as paróquias, o projeto acabou, venderam o material e ainda viajaram por Portugal durante quinze dias. O padre Guilherme arrumou o sonho por uns tempos, até ter uma ideia para pagar as dívidas e recuperar a igreja de Laúndos, na Póvoa de Varzim, outra paróquia pela qual é responsável.
“Surgiu a ideia de explorar um espaço no cimo do Monte São Félix. Chamámos-lhe Ar de Rock Laúndos e começámos a criar lá uns eventos, começámos a fazer umas noites de karaoke com os comes e bebes habituais. O certo é que o karaoke começou a funcionar muito bem”, recorda.
Corria de vento em popa, mas as músicas eram “demasiado calmas”, então decidiu começar a passar “umas com umas batidas mais fortes”. Estava, finalmente, a começar a explorar a música eletrónica quando os planos tiveram de ficar em pausa uma vez mais – como capelão do quartel da Póvoa do varzim, acompanhou as tropas portuguesas em missão no Kosovo.
Quando voltou a Portugal, tirou os discos da gaveta, aventurou-se pela música eletrónica, depois pelo tecno e apostou em formação – mas nem tudo foi fácil.
“Desde o início até hoje, sempre senti crítica. Mas eu acho que é importante levar algo aos jovens, àqueles que estão fora há anos. Esta é uma das formas, não é a única, de lhes levar Cristo”, acredita.
“Vão ser 50 minutos de música para tocar nos corações dos jovens. São mensagens da Bíblia, do Antigo Testamento, do Novo testamento, do Papa Francisco, do Papa João Paulo II, do Marthin Luther King... Elementos não vão faltar. Cada concerto é diferente e o elemento surpresa também é muito importante”.
Quando subir ao palco montado debaixo da pala do Pavilhão de Portugal, o padre Guilherme vai levar consigo os auscultadores abençoados pelo Papa em 2019. Francisco nunca esteve na plateia de um dos DJ sets, mas, se isso chegar a acontecer, vai exigir muita preparação.
“O Papa Francisco não se ia levantar da cadeira e dançar. Portanto, só aí muda tudo pronto. Que tipo de música é que eu vou fazer para uma pessoa que não vai dançar? Quanto à mensagem, desde pegar na Sagrada Escritura até às palavras dele, conseguia compor uma hora e meia para ele”, assegura, enquanto os olhos parecem já imaginar o cenário.
"Não faltes, vem, adere!", pede o patriarca numa m(...)
O festival Rejoice, que decorre este fim de semana no Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações, em Lisboa, pretende invocar o espírito da JMJ e preparar o Jubileu dos Jovens, marcado para Roma no próximo ano. O programa está recheado de propostas culturais, desde logo a 25.ª edição do Festival da Canção Cristã, onde só vão participar bandas de jovens católicos.
Também para sábado à tarde, está marcado um concerto do cantor Matay e à noite, pelas 21h30, começa uma vigília de oração, com dois testemunhos de jovens sobre relação da fé com a paz.
Já no domingo, o dia começa com encontros Rise Up, de catequese e oração, espalhados pela cidade de Lisboa e, depois do almoço, o festival Rejoice fecha com uma missa de envio.