26 fev, 2025 - 06:00 • Alexandre Abrantes Neves, enviado especial a Roma
Andar perto destas colunatas transporta Francisco Brito para uma das mais bonitas imagens de altruísmo que guarda na memória. Estávamos em março de 2020, plena pandemia. O Papa Francisco percorreu a Praça de São Pedro no Vaticano – sozinho – para a bênção Urbi et Orbi.
“Há cinco anos, ele estava a rezar nestas ruas por nós, sozinho. Acho que hoje é o nosso dever – no mínimo – estar aqui a rezar por ele”, conta à Renascença, mesmo à entrada para a recitação do terço, conduzida na última noite pelo cardeal filipino, Luis Antonio Tagle.
Está em Roma a passear com a namorada, mas nos últimos dias não lhe sai da cabeça o estado de saúde do Papa. Esta terça-feira à noite, pegou no casaco, enfrentou o frio e veio pedir pela recuperação de Francisco – o homem que lhe deu uma injeção de reforço na fé.
“Não o podemos perder já. (…) É o Papa que faz a diferença, humanista, da missão (…) Tantas e boas reformas que a Igreja precisa e, tenha ele saúde, vai continuar a fazer. Sinto que a Igreja consegue atrair mais os jovens. Ele agrega ‘todos, todos, todos’ sem exceção, nomeadamente as comunidades LGBT”.
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Percebe-se pelo ritmo da conversa que ficaria aqui toda a noite, a falar e a elogiar o Papa “que faz a diferença, humanista, da missão”. Francisco (o português) acaba interrompido pela música de fundo que vai acompanhar o terço. Já só tem tempo de respirar fundo e de pensar em voz alta o que diria ao homem com quem partilha o nome.
“Um ‘obrigado’ nunca vai chegar. Um agradecimento nunca será devido. Acima de tudo, que nunca se esqueça que é para nós uma fonte de inspiração e exemplo – o que, hoje em dia e infelizmente, temos pouco”. E sai a correr Praça São Pedro adentro – o silêncio que se instaurou indica que o terço está prestes a começar.
É apenas a segunda noite a rezar pela saúde do Papa, mas há quem já tome esta recitação do terço como um hábito. Maria Teresa Margarida chegou a Roma há sete anos, vinda de Angola e já consagrada das Irmãs Consoladoras de Jesus Cristo Sumo-Eterno Sacerdote.
Ficar em casa estes dias não é opção. Está solidária e preocupada com a saúde do Santo Padre – que, segundo diz, não acompanha o passo do espírito e da mente de Franciso.
“Ele tem feito muita coisa positiva. E faz questão de apelar aos jovens para serem novos não com a idade, mas com o coração. Ele sempre se considerou assim: um jovem do coração. E ainda tem muito a dar ao mundo inteiro”, considera, antes de descrever o palmarés do Santo Padre.
A irmã Celestina realça o papel de Francisco em alertar para a crise climática e também as mensagens que tem deixado por paz na Ucrânia e na Palestina. Mas, se lhe perguntarmos qual é o tema mais importante do Pontificado até agora, não resiste a escolher aquele que sente na pele.
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“Ele tem feito um trabalho muito importante. É um dos que reconhece, dentro da Igreja, o que fazem as mulheres, nomeadamente as consagradas”.
Veio acompanhada de outras três religiosas da mesma congregação. Nenhuma fala diretamente das reformas e temas sensíveis que Francisco fez questão de enfrentar desde que foi eleito Papa.
Mas quando toma a palavra, a irmã Celestina não hesita em dizer que o Santo Padre ainda tem “muita coisa para fazer”, como Papa “diferente” que é. Mas diferente em quê?
“É um Papa do meu tempo”, termina entre risos – como quem tenta sintetizar o que tantos pensam para vir até aqui rezar esta noite.