21 abr, 2025 - 21:19 • Ana Catarina André
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A 8 de julho de 2013, menos de quatro meses depois de ter sido eleito Papa, Francisco, que morreu esta segunda-feira, 21 de abril, aos 88 nos, visitou a ilha italiana de Lampedusa, nessa altura o principal ponto de chegada de migrantes e refugiados à Europa, vindos de África.
Naquela que foi a primeira viagem do seu pontificado, Francisco chamou a atenção para os homens, mulheres e crianças que morriam no mar, durante a travessia do Mediterrâneo. Na visita à ilha, criticou a “globalização da indiferença” e lamentou a perda de capacidade de chorar com o sofrimento dos outros.
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A viagem acabaria por ser uma das marcas de Jorge Mario Bergoglio, o primeiro jesuíta e o primeiro argentino a tornar-se Papa. Desde a eleição, a 13 de março de 2013, as periferias sociais e existenciais foram assumidas como prioridade. Aliás, a decisão de ter escolhido Francisco, como nome a usar no seu pontificado, – uma homenagem a São Francisco de Assis e à sua dedicação aos pobres e à promoção da paz – foi, desde logo, um sinal dessa opção.
Pouco depois de ter ido a Lampedusa, esteve no Rio de Janeiro, no Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude – nessa altura, encontrou-se com jovens detidos e visitou as favelas da cidade.
“Não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma”, disse o Papa na comunidade de Varginha, em Manguinhos, pedindo aos jovens peregrinos que não deixem “a cultura do descartável” entrar nos seus corações.
Ainda nesse ano, na exortação apostólica “Evangelii Gaudium” – a primeira do seu pontificado –, Francisco afirmou que “a Igreja não é uma alfandega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fadigosa”. “Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há de chegar a todos, sem exceção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos”, escreveu, então.
Também nas viagens apostólicas – foram mais de 40 –, Francisco preferiu países mais pobres e realidades com menor presença mediática, sublinhando inúmeras vezes a necessidade de ir ao encontro dos mais excluídos.
Quando esteve na República Centro-africana, em 2015, visitou um dos bairros mais problemáticos do país e fez questão de ir a um campo de refugiados. Na Quinta-Feira Santa, lavou os pés, por diversas vezes, a grupos de presos. “Cada um tem a sua história, mas o Senhor espera-nos sempre e nunca se cansa de perdoar”, disse em 2024, perante 12 reclusas, na prisão romana de Rebibbia.
Este desejo de que todas as pessoas sejam acolhidas ficou célebre na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, em 2023, quando, diante de uma multidão de jovens disse, no Parque Eduardo VI, que “na Igreja há lugar para todos”.
“Jovens e velhos, sãos e doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos”, repetiu, entusiasmado. “‘Padre, mas para mim que sou um desgraçado, que sou uma desgraçada, também há lugar?’ Há espaço para todos”, garantiu.