22 abr, 2025 - 20:04 • João Pedro Quesado, enviado especial a Roma
Nunca Portugal teve tanto peso na eleição de um novo Papa. Ainda sem data marcada, o conclave onde vai ser escolhido o sucessor do Papa Francisco vai ter quatro cardeais portugueses na Capela Sistina. Longe de estar nas periferias que o Papa não deixava esquecer, foram todos nomeados por Francisco.
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“Sois o mais jovem entre os jovens que aqui estão”, disse D. Manuel Clemente sobre o Papa Francisco em 2023, na missa de envio da Jornada Mundial da Juventude. Depois da morte do Santo Padre, o patriarca emérito de Lisboa lembrou Francisco como um Papa “que nós ainda demoraremos muito tempo a apanhar tudo aquilo que ele fez e que ele nos deixou”. E acrescentou que “as fronteiras do Papa Francisco foram sempre as do Evangelho”.
D. Manuel foi nomeado patriarca de Lisboa nos primeiros meses de pontificado de Francisco, em 2013, mas apenas passou a ser cardeal em 2015. Nascido em Torres Vedras em 1948, sucedeu a D. José Policarpo na liderança do Seminário dos Olivais e no Patriarcado. Agora descreve-se como “caixeiro-viajante”.
Reportagem
Desde que deixou de ser Patriarca de Lisboa, tem p(...)
Licenciado em História e doutorado em Teologia Histórica, D. Manuel Clemente coordenou estudos sobre a relação da Igreja com a sociedade e foi bispo do Porto entre 2007 e 2013. Depois de tomar posse no Patriarcado de Lisboa, foi líder da Conferência Episcopal Portuguesa até 2020.
O então cardeal patriarca foi o representante português na cimeira convocada pelo Papa Francisco sobre o tema dos abusos sexuais, em 2019. Mas não escapou, em 2022, a críticas e escrutínio pela decisão de não comunicar às autoridades uma denúncia de abusos sexuais de menores por um sacerdote do Patriarcado.
Aos 76 anos, é a primeira vez que D. Manuel Clemente vai participar num conclave, e as hipóteses de ser a única vez que enfrenta o peso de eleger o sucessor de Pedro são grandes.
Em entrevista à Renascença, afirma que a “centralidade das periferias não sairá do coração dos que vão eleger o sucessor de Francisco”
“O Papa iniciou processos que agora precisam de ser continuados”, disse esta terça-feira o cardeal D. António Marto, apontando que o mundo vive “novas condições, novos desafios, que exigem novas respostas, novos caminhos, novos métodos, novas linguagens”.
Perto de celebrar 78 anos, D. António Marto é o mais velho dos quatro cardeais eleitores portugueses, mas foi o segundo a ser criado pelo Papa Francisco — em 2018, já depois das celebrações do centenário das aparições de Fátima.
Leiria-Fátima
Jubileu será assinalado neste domingo em Fátima. C(...)
D. António Marto presidiu a essas celebrações como bispo da diocese de Leiria-Fátima, nomeação do Papa Bento XVI que recebeu em 2006, quando era o bispo diocesano de Viseu. O atual cardeal tinha chegado a Viseu em 2004, já depois de quatro anos como bispo auxiliar na Arquidiocese de Braga.
De perfil mais discreto, foi condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa em 2022, mas não deixou de remeter a distinção para o Santuário de Fátima.
“Hoje em dia, quando se pede ao cidadão comum que indique os mestres contemporâneos da esperança, um dos nomes mais citados é o do Papa Francisco”, disse D. José Tolentino de Mendonça, a 12 de março, numa das recitações do Rosário pela saúde de Jorge Bergoglio, então internado. As “palavras e gestos” do Papa, acrescentou, foram derrubando “barreiras de incompreensão” até na diplomacia internacional.
Talvez o nome português que mais aparece nos clubes de favoritos para suceder a Francisco, o apelo de D. José Tolentino de Mendonça chega a setores onde a Igreja tem, muitas vezes, dificuldade em entrar. O teólogo é mais conhecido por ser poeta, tendo dezenas de obras publicadas em português. Os prémios literários superam a dezena, e incluem o importante Prémio Pessoa, atribuído em 2023.
Notícia Renascença
A peça vai subir ao palco do Festival Utopia, em B(...)
Madeirense natural de Machico, Tolentino foi pároco antes de ser nomeado capelão da Universidade Católica em Lisboa. Foi ainda reitor da histórica Capela do Rato, palco de um dos episódios mais tensos do final do Estado Novo, em que a ditadura quis acabar com uma vigília pela paz.
Foi Bento XVI que introduziu D. Tolentino de Mendonça à Cúria Romana, quando o nomeou, em 2011, para consultor do que é atualmente o Dicastério para a Cultura e Educação — que lidera desde 2022.
Nomeado arcebispo em 2018 — depois de orientar os exercícios espirituais do retiro da Quaresma do Papa e da Cúria — para ser Arquivista e Bibliotecário da Santa Sé, foi criado cardeal em 2019.
Atualmente com 59 anos, D. Tolentino já foi condecorado três vezes, por três Presidentes da República — em 2001, por Jorge Sampaio, em 2015 por Cavaco Silva, e em 2024 por Marcelo Rebelo de Sousa. Marcelo também o convidou a presidir às comemorações do 10 de Junho de 2020.
“O Papa Francisco é essa pessoa, funciona muito mais pelo gesto, pelo impacto que o gesto tem na sua dinâmica transformadora do que propriamente só por uma filosofia, por uma teologia, por uma afirmação doutrinal, ou até por uma reforma organizativa”, recordou o bispo de Setúbal no dia da morte de Francisco.
Com 51 anos, D. Américo Aguiar é o mais jovem do grupo de cardeais eleitores portugueses. Ao mesmo tempo que foi pároco no Porto, desempenhou várias funções na Diocese do Porto, até ser nomeado presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia em 2016 — assim como diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, da Conferência Episcopal Portuguesa, cargo que deixou ao ser nomeado bispo auxiliar de Lisboa, em 2019.
HORA DA VERDADE
O cardeal e bispo de Setúbal considera que a Igrej(...)
Depois do anúncio que a Jornada Mundial da Juventude (inicialmente de 2022) seria em Lisboa, D. Américo assumiu a organização do evento. Ainda antes da JMJ acontecer, o Papa Francisco anunciou que seria cardeal, sendo nomeado poucos meses depois bispo da diocese de Setúbal.
Calejado nas exigências da comunicação, D. Américo Aguiar tem sido uma das vozes mais prementes entre os bispos portugueses em assuntos como os abusos sexuais na Igreja, ou a proposta de uma amnistia para reclusos. Essa posição, impulsionada pela organização da JMJ, tem-lhe dado destaque na comunicação social.
Mas o atual grupo de cardeais portugueses é composto por seis pessoas. Contudo, como os mais velhos têm mais de 80 anos, não fazem parte do grupo de 135 eleitores que vai fazer parte do Conclave.
D. José Saraiva Martins tem atualmente 93 anos. Cardeal desde 2001, criado por João Paulo II, o teólogo natural da Guarda foi ordenado sacerdote em Roma, em 1957, sendo nomeado secretário da então Congregação para a Educação Católica. Depois, em 1998, passou a prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, onde continuou no pontificado de Bento XVI, até 2008. A idade já o impediu de participar no conclave de 2013, que elegeu Jorge Mario Bergoglio.
D. Manuel Monteiro de Castro, natural de Guimarães, tem atualmente 87 anos. O trabalho na Igreja foi principalmente no corpo diplomático, que o fez passar por nunciaturas desde o Vietname e Camboja ao México e ainda Austrália, além das Antilhas, Honduras, El Salvador e África do Sul. De grande importância foi a missão como núncio apostólico em Espanha, entre 2000 e 2009. Cardeal desde 2012, foi nesse ano nomeado penitenciário-mor da Penitenciária Apostólica, o tribunal interno da Santa Sé.