23 abr, 2025 - 15:40 • João Pedro Quesado , enviado especial a Roma
“Ir a Roma e não ver o Papa” é um atalho português para dizer que alguém passou ao lado do que era mais importante. Mas, desde segunda-feira, é uma frase que se aplica a pessoas de todas as nacionalidades, muitas das quais não conseguem entrar na Basílica de São Pedro, devido à elevada afluência dos fiéis que querem velar Francisco.
No dia em que acolheu o corpo do Papa Francisco, na trasladação para Basílica de São Pedro, a Praça com o nome do mesmo apóstolo recebe ainda muitos turistas, cientes do momento, mas facilmente identificáveis pela azáfama que criam — quer através do movimento constante entre as barreiras, quer pelas conversas claramente animadas ao mesmo tempo que a procissão da trasladação entra na Basílica, ao som da Ladainha dos Santos.
Daniele não tinha viagem marcada para estar em Roma nestes dias. O jovem italiano é de Rocca Priora, tão longe do Vaticano como o famoso Castel Gandolfo, onde Francisco nunca passou as férias que outros Papas aproveitaram. Distingue-se na multidão por estar parado, de rosário na mão enquanto está atento à celebração, que vê através dos ecrãs gigantes.
Com 21 anos, decidiu vir a Roma quando soube da morte do Papa. “Estou muito triste porque ele era uma grande pessoa. Fiquei muito abatido com a notícia da morte, por isso quis vir dizer adeus”, explica Daniele, receando não ser “capaz de ficar na fila” para homenagear o Santo Padre na Basílica.
“Acho que o mundo perdeu uma pessoa muito importante, assim como a Igreja”, continua. Sem saber o que o futuro reserva à Igreja, Daniele espera que “outros possam confiar mais do que hoje” na instituição, e que ela se “abra aos pedidos dos jovens”.
Pouco depois, já no fim da cerimónia da trasladação, ouviram-se aplausos na Praça. O burburinho que se ouve entre cânticos e orações é interrompido por alguns gritos de “viva o Papa”. Em vez da alegria da Jornada Mundial da Juventude, a que Daniele não conseguiu ir, o que se ouvia era tristeza pela morte de Francisco.
As cadeiras da Praça de São Pedro, a parte mais próxima da Basílica, foram-se esvaziando pesarosamente. Alguns, acabados de chegar, ajoelham-se no chão a rezar. Outros orientam amigos perdidos, referindo-se ao obelisco no centro como “a torre grande” que é “difícil não ver”.
Os fiéis começaram a criar fila para homenagear Francisco, preparados para esperar horas para entrar. Há quem se sente no chão sempre que pode; quem se apoie nas barreiras para conversar, ler passagens da Bíblia ou simplesmente poupar energia.
Giuseppe usa as barreiras para pensar sobre o pontificado de Francisco. “Tudo o que ele fez durante 12 anos, as grandes aberturas, a grande humildade, a observação próxima da pobreza”, sublinha, apontando que o Papa “costumava enviar o seu esmoler para as colunatas”.
“Nestes 12 anos ele foi um precursor dos eventos mundiais. No último ano ele pediu a paz, gritou por Myanmar, pelo povo da Palestina, pediu sempre paz, paz, paz”, sublinha Giuseppe, na fila que agora domina a Praça de São Pedro.
Durante a procissão da transladação do corpo da Ca(...)
“De cada vez que uma família em luto — até em luto terrível — encontra a força para guardar a fé e amor que nos une aos que nós amamos, isso já impediu a morte de levar tudo”, disse o Papa Francisco numa audiência geral em 2015, quando falou sobre morte nas catequeses sobre a família. Em palavras que podem aliviar os católicos que agora lamentam a sua morte, Francisco afirmou ainda que “os nossos entes queridos não ficam perdidos na escuridão do nada: a esperança assegura-nos que eles estão nas mãos boas e fortes de Deus”.
Resumindo, acrescentou: “O amor é mais forte que a morte.”