Renascença em Roma

Dias de azáfama em Roma. O comércio está preparado, mas os transportes públicos estão a falhar

24 abr, 2025 - 11:30 • Alexandre Abrantes Neves, enviado especial a Roma

O funeral do Papa Francisco está marcado para sábado e há cada vez mais gente na cidade. O comércio e a polícia dizem estar prontos para uma enchente de turistas e fiéis, mas o mesmo não acontece com os transportes públicos — há quem fique horas até conseguir chegar ao Vaticano.

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Dias de azáfama em Roma. O comércio está preparado, mas os transportes públicos estão a falhar
Ouça aqui a reportagem da Renascença. Foto: Christoph Reichwein/dpa via Reuters Connect

Na estação de Roma Termini, todos estão habituados a lidar com o caos, mas até aqui os próximos dias prometem ser desafiantes. Das escadas rolantes, a descer para apanhar um táxi ou entrar no metro, veem-se batinas e hábitos, apressados, de bilhete numa mão e de mala simples na outra. Destino: Praça de São Pedro.

“Em todo o lado, estão em todo o lado. Só em meia hora, vi 20 pessoas, vestidas assim. Devem ir ver o Papa, absolutamente”. Os olhos de Elise estavam distraídos, mas agora vão rodopiando pelo átrio de entrada da estação, funcionando quase como um contador de padres e freiras. Esta azáfama era expectável na zona do Vaticano, claro, mas os efeitos no resto da cidade já surpreendem.

“Acho que afastou a confusão nas outras ruas. Está menos cheio do que estava poucos dias antes da Páscoa. Hoje à tarde era fácil andar de autocarro”, assinala à Renascença esta estudante universitária, que rapidamente tem de largar a conversa para ajudar a amiga a comprar uma viagem de comboio.

Andamos dois passos e rapidamente percebemos que Elise estava certa – ainda mal chegámos às linhas de comboio e já nos cruzamos com Sobraltina, freira da congregação das Franciscanas Missionárias de Maria. Aqui o caso é o contrário: vem de regresso da Praça de São Pedro.

“Tanta gente mostra que todos o amam, todos lhe queriam bem. Veem-se logo imensas pessoas no comboio. Por isso, viemos fazer uma última homenagem, agradecer e rezar”, conta, ladeada por mais três irmãs da mesma congregação.

Na Praça, com água e farnel para aguentar a fila

Do lado de fora da estação de Termini, veem-se fardas e carros caracterizados, da polícia de Roma, também da Arma dos Carabineiros (o equivalente à GNR, em Portugal) e ainda do exército italiano. São o reflexo da mais complexa operação de segurança dos últimos anos na cidade: entre quarta e quinta-feira, segundo a Santa Sé, mais de 50 mil pessoas passaram pela Praça de São Pedro.

O número só tende a aumentar e, por isso, os transportes públicos, nomeadamente as linhas de comboio e autocarro, já foram reforçados entre o Vaticano e as zonas limítrofes da cidade.

Ou, pelo menos, dizem ter sido. Para Joana Barreiros, chegar até às muralhas junto ao Palácio Apostólico foi uma tarefa hercúlea. “Está tudo cheio, é muito difícil entrar e sair”, critica.

Chegou no início da semana para celebrar o aniversário com o namorado. Guardaram o dia para vir ao Vaticano e, apesar de intencionarem prestar uma última homenagem ao Papa, já acabaram com os planos estragados devido às longas filas.

“Queríamos ir para o Museu do Vaticano. Deparámo-nos com um guia turístico a dizer que era uma fila para uma segunda ou terceira fila. Não é nada que o Google Maps não ajude, mas estávamos na fila errada, na fila para a Basílica”, conta o namorado Cláudio, num riso que mistura um tom envergonhado e apressado.

Não lhes queremos tomar mais tempo, até porque nestas longas filas – algumas com mais de um quilómetro – o que não falta é gente disponível para conversar. Debaixo de um guarda-chuva (ou será de sol?), Cher aproveita a sombra e tenta refrescar-se encostada às grades montadas pela polícia.

A espera vai longa e ainda só no início. “Espero que não sejam muitas horas!”, diz à Renascença, entre risos. É responsável por um grupo de 20 adolescentes de uma escola católica da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Estão todos preparados, com almoço, bebidas e passatempos. Mas há um drama que pode vir a ser um grande problema nas próximas horas: “Dissemos para eles utilizarem a casa de banho, sim, vamos ver”.

Vão ver e esperar que, nos próximos dias, também o Vaticano coloque pelas imediações casas de banho portáteis. O pé já pregou a fundo no acelerador e, por aqui, todos têm de se começar a preparar para os próximos dias, nomeadamente para o funeral no sábado.

“No funeral de João Paulo II, chegou muita gente e então acreditamos que aconteça também”, prevê Lourenzo Renato, italiano fluente em português e que é chefe de sala num restaurante mesmo à entrada de Borgo Pio, uma das vias mais movimentadas na zona do Vaticano.

Por aqui, é impossível adicionar mais mesas, mas já foi contratado mais um empregado para as próximas semanas. “É isto, também é otimizando a cozinha, otimizando a maneira de gerir as reservas”, tenta resumir, sem compromisso de que tudo corra sem percalços. Agora, só lhe resta acreditar – e rezar – de que vão aguentar a enchente de fiéis e turistas que está prestes a chegar a Roma.

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