08 mai, 2025 - 21:36 • João Pedro Quesado
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A Igreja Católica tem um novo Papa, Leão XIV. Robert Francis Prevost, com 69 anos, entrou cardeal no Conclave de 2025, e saiu como bispo de Roma e Pontífice Romano.
O novo Papa - o primeiro nascido nos Estados Unidos - não tem muitas entrevistas na imprensa, e a presença nas redes sociais tem uma postura mais de partilha do que publicação ativa. Mas as declarações que podem ser encontradas permitem perceber um pouco do pensamento de Leão XIV.
Leão XIV
O novo Papa tem 69 anos e escolheu o nome de Leão (...)
Não são palavras em discurso direto mas, nas poucas vezes que utilizou as redes sociais em 2025, o cardeal Robert Francis Prevost fez questão de criticar o novo governo dos Estados Unidos da América.
A 3 de fevereiro, Prevost partilhou um texto de opinião a dizer que "JD Vance está errado". Isto depois de o vice-presidente norte-americano ter dito, numa entrevista na Fox News, que há "um conceito cristão" de "priorizar o resto do mundo" depois de "amar a tua família e depois amar o teu vizinho, e depois amar a tua comunidade, e depois os teus concidadãos".
Depois, a 14 de abril, partilhou um tweet em que é criticada a deportação "por engano" de Kilmar Abrego Garcia para El Salvador. Nesse tweet está a ligação para um texto de opinião do bispo auxiliar da arquidiocese de Washington, critico da política de deportação dos EUA.
Numa entrevista ao Vatican News antes de ser cardeal, Prevost apontou que as redes sociais "podem ser uma ferramenta importante para comunicar o Evangelho e chegar a milhões de pessoas".
"Receio que por vezes a preparação esteja em falta. Ao mesmo tempo, o mundo hoje, que está sempre em mudança, apresenta situações em que temos mesmo de pensar várias vezes antes de falar ou de escrever uma mensagem no Twitter", disse o então bispo, declarando ser necessário para "responder ou até apenas a colocar questões de uma forma pública, à vista de todos. Por vezes há o risco de alimentar divisões e controvérsia".
"Há uma grande responsabilidade em usar as redes sociais, a comunicação, correctamente, porque é uma oportunidade, mas também um risco", acrescentou ainda.
Numa conferência de imprensa no Vaticano, em 2023, afirmou que o foco da Igreja deve estar em acolher as pessoas.
"O nosso trabalho é alargar a tenda e deixar toda a gente saber que são bem-vindos dentro da Igreja", disse na altura o novo Papa, na linha de Francisco, que defendeu uma Igreja aberta a "todos, todos, todos", durante a Jornada Mundial da Juventude de 2023, em Lisboa.
No mesmo ano, na entrevista ao Vatican News, apontou que "a primeira tarefa" dos bispos e cardeais é "ensinar o que significa conhecer Jesus Cristo".
"Não devemos esconder-nos atrás de uma ideia de autoridade que já não faz sentido hoje. A autoridade que temos é para servir, acompanhar padres, ser pastores e professores", afirmou quando foi nomeado prefeito do Dicastério para os Bispos, acrescentando que "divisões e polémicas na Igreja não ajudam nada", e os bispos "especialmente devem acelerar este movimento em direção à unidade e comunhão na Igreja".
É um dos poucos tweets que escreveu com suas próprias palavras. Em 2015, num dia em que vários órgãos de comunicação social católicos dos EUA se uniram para pedir o fim da pena de morte no país, Robert Prevost fez o mesmo.
Na mesma entrevista, o agora Papa Leão XIV comentou a nomeação de três mulheres para o Dicastério para os Bispos, afirmando que "em muitas ocasiões vimos que o ponto de vista delas é um enriquecimento".
"Muitas vezes a perspetiva delas coincide perfeitamente com o que outros membros do dicastério dizem; enquanto noutras vezes, a opinião delas introduz outra perspetiva e torna-se uma importante contribuição para o processo", afirmou Robert Prevost, que declarou as nomeações de mulheres "mais do que apenas um gesto da parte do Papa para dizer que agora também há mulheres aqui".
No mesmo ano, já como cardeal, falou sobre possibilidade de ordenação de mulheres como diáconas, sublinhando que "a tradição apostólica é algo que tem sido sublinhada muito claramente, especialmente se queremos falar da questão da ordenação das mulheres para o sacerdócio".
Citado pelo National Catholic Register, Prevost disse que "algo que é preciso dizer é que ordenar mulheres — e algumas mulheres têm dito isto, interessantemente —, 'clericalizar mulheres' não resolve necessariamente um problema, pode criar um novo problema".
Sobre a questão dos abusos sexuais dentro da Igreja Católica, o então cardeal Prevost afirmou que "o silêncio não é uma resposta".
"Silêncio não é uma solução. Devemos ser transparentes e honestos, devemos acompanhar e ajudar as vítimas, porque de outra forma as feridas deles nunca vão sarar. Há muita responsabilidade nisto, para todos nós", sublinhou o até agora responsável pelo Dicastério para os Bispos, apontando que "ainda temos muitos esforços a fazer para responder a esta situação que está a causar tanta dor na Igreja".
Robert Prevost afirmou também que "ainda há muito a aprender" na "urgência e responsabilidade de acompanhar as vítimas", já que "um bispo deve estar próximo dos seus padres, mas ele também deve estar próximo das vítimas".
Numa conferência de imprensa sobre o atual Sínodo sobre a sinodalidade, em outubro de 2024, o cardeal Robert Prevost argumentou que é preciso mais autoridade doutrinal para as conferências episcopais nacionais — comentando assim as reservas de bispos africanos à declaração "Fiducia supplicans", emitida em 2023 pelo Dicastério para a Doutrina da Fé para permitir bênçãos espontâneas a pessoas em "situações irregulares", referindo-se a casais homossexuais.
"Os bispos nas conferências episcopais de África estavam basicamente a dizer que, na África, a realidade cultural é muito diferente... Não era rejeitar a autoridade de Roma, era dizer que a situação cultural é tal que aplicação deste documento simplesmente não vai funcionar", disse Prevost, citado pelo site de notícias da conferência episcopal das Filipinas, recordando que "ainda há locais em África que aplicam a pena de morte, por exemplo, para pessoas que vivem numa relação homossexual".
Na entrevista ao Vatican News em 2023, Prevost defendeu o caminho sinodal iniciado por Francisco, afirmando que "devemos ser capazes de nos escutarmos uns aos outros, de reconhecer que não é uma questão de discutir uma agenda política ou simplesmente tentar promover os assuntos que me interessam a mim ou aos outros."
"Precisamos de aprender a ouvir realmente o Espírito Santo e no espírito da procura da verdade que vive na nossa Igreja. Passarmos de uma experiência em que a autoridade fala e está em todo lado, para uma Igreja que valoriza os carismas, dádivas e ministérios que existem nela", apontou, afirmando que "o ministério episcopal faz um serviço importante, mas depois devemos pôr tudo isto ao serviço da Igreja neste espírito sinodal que simplesmente significa caminharmos juntos, todos nós, e procurar juntos o que o Senhor nos está a pedir".