08 mai, 2025 - 18:19 • Diogo Camilo
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O cardeal Robert Francis Prevost foi eleito esta quinta-feira como o novo Papa, líder da Igreja Católica, com o nome de Leão XIV.
Nasceu a 14 de setembro de 1955, em Chicago, nos Estados Unidos, e torna-se o primeiro papa norte-americano e da América do Norte - e também peruano, já que obteve a cidadania em 2015. Leão XIV é também o primeiro Papa agostiniano, a ordem religiosa de Santo Agostinho.
Foi uma figura central da administração do Papa Francisco, onde era prefeito para o Dicastério dos Bispos e membro em outros oito dicastérios.
Após a morte de Francisco, Prevost disse existir ainda “muito a fazer” na transformação da Igreja.
“Não podemos parar, não podemos andar para trás. Temos que ver como o Espírito Santo quer que a Igreja seja hoje e amanhã, porque o mundo de hoje, em que a Igreja vive, não é o mesmo mundo de há 10 ou 20 anos atrás”, disse ele, no mês passado, ao Vatican News.
É considerado como "moderado e construtor de pontes" e o jornal italiano "La Repubblica" chamou-o de "o menos americano dos americanos", tendo passado muito tempo da sua vida como missionário no Peru e no Vaticano.
Filho de pai com origens francesa e italiana, Louis Marius Prevost, e de mãe com origem espanhola, Mildred Martínez, tem dois irmãos: Louis Martín e John Joseph.Considera-se um jogador de ténis "amador".
Em 2023, quando foi feito cardeal por Francisco, contou que no Peru teve poucas oportunidades de jogar e que esperava regressar aos courts em Roma. Gosta de ler, fazer longas caminhadas e viajar.
"Pessoas diferentes podem enriquecer grandemente as nossas vidas", defende este agostiniano, marcado pela abertura aos outros, para quem as amizades autênticas são "uma das maiores dádivas de Deus".
O jornal católico "The Pillar" relata que os pais eram profundamente ligados à Igreja: ele era catequista; ela ajudava na paróquia e cantava no coro da igreja. Mas foram sobretudo os pratos "irresistíveis" da mãe "Millie", uma excelente cozinheira, que atraíam muitos padres à casa da família nos anos 60.
Passou a juventude e adolescência com a família e estudou primeiro no Seminário dos Padres Agostinianos e depois na Universidade de Villanova, na Pensilvânia, onde em 1977 se formou primeiro em Matemática e também estudou Filosofia.
Aos 27 anos foi enviado a Roma para estudar Direito Canónico na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino, tornando-se sacerdote em 1982. Depois de uma licenciatura em 1984, foi enviado para trabalhar na missão de Chulucanas, em Piura, Peru, entre 1985 e 1986. E no ano seguinte obteve o doutoramento com a tese: "O papel do prior local da Ordem de Santo Agostinho".
Em 2014 foi nomeado pelo Papa Francisco como administrador apostólico da Diocese de Chiclayo, do Peru, tendo sido ordenado como bispo nesse mesmo ano. Em setembro do ano seguinte, foi nomeado bispo de Chiclayo em Peru. Desde março de 2018, é adjunto do vice-presidente da Conferência Episcopal Peruana.
Em 2019 foi nomeado membro da Congregação para o Clero e membro da Congregação para os Bispos em 2020, tendo sido tornado prefeito para o Dicastério dos Bispos, substituindo o cardeal canadiano Marc Ouellet.
Em janeiro de 2023 tornou-se presidente da Comissão Pontífice para a América Latina. A 30 de setembro desse mesmo ano, foi criado cardeal pelo Papa Francisco. A 6 de fevereiro de 2025, Francisco promoveu-o à Ordem dos Bispos.
Até agora, além de prefeito do Dicastério para os Bispos, era também membro dos dicastérios da Evangelização, Doutrina da Fé, Igrejas Orientais, Clero, Cultura e Educação, entre outros. Fez ainda parte da Comissão Pontifícia do Estado da Cidade do Vaticano.
Como chefe do Dicastério, participou nas últimas viagens apostólicas do Papa Francisco e na primeira e segunda sessões da 16.ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre sinodalidade, realizadas em Roma de 4 a 29 de outubro de 2023 e de 2 a 27 de outubro de 2024, respetivamente.
Durante o internamento do Papa Francisco no Hospital Gemelli, no mês de março, presidiu à oração do Rosário pela saúde do Papa Francisco na Praça de São Pedro.
É conhecido por ser um "homem muito calmo e discreto" e em discurso considerou-se um "filho de Santo Agostinho".
Na varanda da Basílica de São Pedro, Leão XIV pediu ajuda aos fiéis: "A Humanidade precisa dele [Cristo] como de uma ponte para chegar a Deus. Ajudem-me também vós a construir pontes no diálogo, com encontros, unindo-nos todos para sermos um povo que acredita na paz", disse.
Em 2023, quando assumiu o dicastério para os bispos, numa entrevista ao Vatican News, disse que um bispo é um pastor, não um gestor. "Estamos muitas vezes preocupados em ensinar doutrina, mas arriscamo-nos a esquecer que o nosso primeiro dever é o de comunicar a beleza e a alegria de conhecer Jesus".
Explicou que mesmo ao assumir a nova função no Vaticano depois de anos de serviço no Perú, e que implicava auxiliar o Papa Francisco a escolher novos bispos, continuava a considerar-se um missionário.
O último Papa Leão foi Leão XIII, entre fevereiro de 1878 e julho de 1903, que ficou marcado por ser o pontífice "das encíclicas".
Curiosamente, a eleição de Leão XIII também foi das mais curtas que se conhece: o cardeal Gioacchino Vincenzo Raffaele Luigi Pecci foi eleito à terceira votação, em apenas dois dias - a mais curta a par com a eleição de Pio XII, o Papa eleito em 1939.
Robert Francis Prevost foi eleito à quarta eleição e ao segundo dia, à semelhança de Bento XVI e com menos uma votação que Francisco - que foi eleito à quinta votação.
Os outros Papas que escolheram Leão como nome foram eleitos nos anos de 1823, 1605, 1513, 1049, 963, 936, 928, 903, 847, 795, 682 e 440.
Cinco deles - os papas Leão I, Leão II, Leão III, Leão IV e Leão IX - foram canonizados santos.
"Habemus papam"
Robert Francis Prevost é o novo Papa Leão XIV. Dec(...)
Membro do Sínodo da Sinodalidade, Leão XIV fez parte do maior projeto lançado pelo Papa Francisco em 2021, de tornar a Igreja mais inclusiva, e não hesitou em dizer que o processo de seleção dos candidatos para o episcopado deve ser mais sinoidal, ou seja, envolver padres e fiéis.
Ao mesmo tempo, no início de 2024, esteve entre os bispos da Cúria romana que bloquearam o Sínodo Alemão, que pretendia permitir a eleição democrática de representantes na Igreja Católica na Alemanha.
Sobre o papel da mulher na Igreja, Leão XIV segue a linha de pensamento de Francisco, descartando a possibilidade de mulheres no sacerdócio, uma decisão que arriscaria a "clericalização" das mulheres, mas defendia uma maior preponderância da mulher, reconhecendo o seu papel como "enriquecedor".
Conclave 2025
Próximo de Francisco e de perfil reservado, Robert(...)
"Julgo que a sua nomeação é mais do que um gesto da parte do Papa de agora dizer que também há mulheres aqui. Há uma real, genuína e significativa participação que podem oferecer nas nossas reuniões quando discutimos os dossiês dos candidatos", afirmou.
Sobre a sinodalidade, Leão XIV aponta que "devemos ser capazes de nos escutarmos uns aos outros" e que a Igreja não serve para "discutir uma agenda política" ou "tentar promover os assuntos que interessam".
"Precisamos de aprender a ouvir realmente o Espírito Santo e no espírito da procura da verdade que vive na nossa Igreja. Passarmos de uma experiência em que a autoridade fala e está em todo lado, para uma Igreja que valoriza os carismas, dádivas e ministérios que existem nela.