10 jun, 2025 - 00:41 • Alexandre Abrantes Neves
Mochila às costas, como boa peregrina. Nervosismo no sorriso e na fala, por sentir o peso da responsabilidade. “Aqui, sente-se muito mais. Tem muito mais gente. É outra experiência, é outra coisa”.
Sofia tem 13 anos e voou do Funchal para vir conhecer Fátima. À felicidade da estreia no chamado altar do mundo, juntou-se a honra de ser a cara de milhares de jovens: faz parte do grupo que recitou o terço aos microfones da Capela das Aparições, na vigília que inaugurou mais uma Peregrinação das Crianças do Santuário. “Até tenho medo de me esquecer de como rezar!”, confessava uma amiga de Sofia, minutos antes do início da recitação, que juntou dezenas de pessoas.
Na cabeça e orações destes jovens, há uma palavra que parece ir ecoando: esperança. Seja pelo fim das guerras ou pela erradicação da “maldade que afeta tantas pessoas”, Sofia espera receber um mundo melhor daqui a um par de anos, quando chegar à maioridade. A receita para isso tem tanto de simples como de complicado.
“É ter esperança que isto melhore. Apesar de tudo, temos de estar todos juntos e nunca desistir. É seguir o exemplo de amor incondicional de Maria”, apela, combinando numa só frase (e sem se aperceber) as duas inspirações para a Peregrinação das Crianças deste ano: Nossa Senhora e o Jubileu da Esperança, comemorado em 2025 pela Igreja Católica.
A iniciativa, que acontece a 9 e 10 de junho, conv(...)
Ao longo desta segunda e terça-feira, centenas de pessoas são esperadas em Fátima, para aquela que é uma das peregrinações mais conhecidas do Santuário e que se comemora desde 1977, reunindo crianças, adolescentes e jovens.
Para este grupo da Madeira, estes dois dias são uma oportunidade para aproximar mais novos e mais velhos: “É sempre bom estar ali para eles”, conta Sofia à Renascença, enquanto mira os companheiros de peregrinação com oito e nove anos de idade e cuja Primeira Comunhão aconteceu há poucas semanas.
Neste espírito de comunhão, os mais velhos – que parecem já estar cientes da responsabilidade que, tantas vezes, se pede aos católicos – vestem a capa de professor e tentam ensinar alguma coisa aos mais pequenos.
“Estamos a usar muitos combustíveis fósseis. As pessoas deviam optar mais por transportes públicos, como autocarros, ou andar de bicicleta ou ir a pé”, aponta Leonor, de 13 anos, enquanto os mais pequenos a escutam atentamente.
O Papa Francisco e a encíclica Laudato Si’ fizeram com que o cuidado do meio-ambiente e da casa comum saltasse para o topo das preocupações dos católicos — e, para Leonor, essa é uma das razões para que Francisco fosse tão apreciado pelo mundo fora.
“Ele era muito amável com as pessoas. Muita gente gostava dele — era muito compreensível e brincalhão também”, relembra, de sorriso de orelha a orelha. A expressão na cara não muda quando passamos para Leão XIV — também o novo Papa já agrada aos mais novos. “Penso que ele também é bom. Se ele foi escolhido, deve ter uma razão”.
O futuro da Igreja aos olhos das crianças e o nome de Leão XIV prometem marcar as orações dos muitos que por aqui vão passar nestes dois dias, recheados de convívio e amizade.
Neste grupo de madeirenses, há quem diga que a peregrinação “sabe a pouco” e que devia durar mais, mas uma coisa é certa – ainda agora começou e já deixou memórias duradouras. “É recordar o que fizemos. Contar aos nossos familiares tudo o que aconteceu, mostrar as fotos…”, antecipa Sofia.
Para a catequista Ana Silva, se isto acontecer e se estes jovens levarem “Jesus no coração e o passarem para os filhos e para os amigos” a missão já está cumprida. Do lado de Gustavo, com oito anos, não parece haver preocupação. Quando lhe perguntam se está a gostar, responde sem hesitações: “Maravilhoso!”.