15 jun, 2025 - 09:30 • Henrique Cunha (Rádio Renascença) e Octávio Carmo (Agência Ecclesia)
O padre Manuel Fernando Silva, pároco de Alfena, na diocese do Porto, e ex-jogador e ex-treinador da equipa de futsal dos padres portugueses, considera que falta formação aos dirigentes desportivos.
“Os dirigentes deviam ter uma formação ao nível das leis do jogo e da ética desportiva”, diz o sacerdote, em entrevista à Renascença e à Agência Ecclesia.
No fim de semana do Jubileu do Desporto, que decorre no Vaticano e conta com a participação do treinador de futebol Sérgio Conceição, Manuel Fernando Silva, que também é dirigente desportivo, garante que, ao contrário de atletas e de árbitros, os dirigentes não apostaram na melhoria da sua formação e "não acompanharam” as preocupações de jogadores, de treinadores e de árbitros na formação.
“Deviam, sobretudo, ter uma perceção de que o desporto tem de ser alimentado, mas não só com dinheiro: é com formação”, sublinha.
"Encontramos dirigentes que se portam mal e que, com os seus insultos, incendeiam as bancadas"
Manuel Fernando Silva diz que a ânsia de querer ganhar leva a comportamentos condenáveis de muitos dirigentes. “Em algumas situações, o que nós encontramos por este país fora é uma vergonha, porque vemos esta ansiedade, um enorme frenesim de ter de ganhar e, depois, encontramos dirigentes que se portam mal e que, com os seus insultos, incendeiam as bancadas”, descreve.
“É importante definir bem que o desporto é para valorizar o homem, para o dignificar e para construir pontes entre todos. Não pode servir de batalha campal nem de protesto pelo que quer que seja."
O sacerdote encontra no Jubileu do Desporto a possibilidade de se “escutar, partilhar experiências”, sempre com a preocupação da “verdadeira dignificação do desporto” e percebendo que o “desporto também pode contribuir para a santificação, pode contribuir para a valorização da pessoa”.
“Eu sei que nós, hoje em dia, olhamos para o desporto como negócio, olhamos para o desporto nesta questão de poder e, às vezes, como uma rampa de lançamento para outras coisas, mas é importante não esquecer que o desporto, antes de mais, constitui um ponto de comunhão, de partilha”, acrescenta.
"É importante definir bem que o desporto é para valorizar o homem, para o dignificar e para construir pontes entre todos"
Comecemos pelo Jubileu do Desporto, que vai ter a participação de um português, neste caso, o treinador Sérgio Conceição, numa conferência promovida pelo Dicastério para a Cultura e Educação. Como é que classifica esta preocupação da Igreja em chegar aos mais diversos campos de atividade neste Jubileu de 2025?
Eu creio que esta é a única forma de se conseguir fazer chegar esta voz e conseguir ter a oportunidade de conciliar as várias perspetivas e várias ideias e várias experiências sobre o desporto. Num Jubileu do Desporto, não se pode pensar só nos desportistas, não se pode pensar só nos que dirigem os desportistas, é também importante pensar nos dirigentes. Ou seja, há aqui uma trilogia de pessoas responsáveis, que têm intervenção muito direta e que, de alguma forma, podem tornar as coisas dignas, valorizá-las ou, porventura, podem contaminá-las. Quanto ao Sérgio Conceição, eu sabia que estava a ser contactado para isso e muito bem, até porque ele também tem a experiência como desportista, agora como treinador, e, mais do que isso, também é pai de família, é pai de desportistas. Ele tem uma visão diferente, ou melhor, mais abrangente do que apenas focada só no desporto como atleta ou só no desporto como treinador.
"O desporto, antes de mais, constitui um ponto de comunhão, de partilha"
Qual poderá ser a importância de ouvir estes testemunhos de antigos atletas, de antigos treinadores para a celebração do Jubileu?
Creio que o Vaticano tem sido assertivo nestas matérias, tem procurado, realmente, constituir plataformas que possam dinamizar encontros, que possam incutir algo também nos agentes que podem estar um bocadinho mais fora, nas periferias, nesta linguagem também ecuménica, porque não podemos esquecer que o ecumenismo não é só ao nível da religião. Também tem esta vertente de tentar chamar, de escutar, de partilhar experiências. Desse modo, procura dar toque de verdadeira dignificação do desporto, percebendo justamente que o desporto também pode contribuir para a santificação, pode contribuir para a valorização da pessoa e pode, naturalmente, constituir uma plataforma de elevação daquilo que nos parece a coisa mais bonita do desporto.
Há, naturalmente, disputa, mas não podemos esquecer-nos de que há aqui uma metáfora fundamental para a vida: no desporto também se aprende a valorizar o que ganha e o que ganha aprende também a respeitar o que perde. Há aqui uma linguagem universal, com múltiplas dimensões, que são também a metáfora da vida e isto não pode constituir um elemento à parte, porque eu sei que, hoje em dia, olhamos para o desporto como negócio, olhamos para o desporto nesta questão de poder e, às vezes, como uma rampa de lançamento para outras coisas, mas é importante não esquecer que o desporto, antes de mais, constitui um ponto de comunhão, de partilha.
"Num Jubileu do Desporto, não se pode pensar só nos desportistas (…) é também importante pensar nos dirigentes"
Não deve ser por acaso que a Noruega, um país pequeno, tem o sucesso que tem no desporto: os seus atletas, até à idade de 13 anos, têm todos que ter o mesmo número de minutos de competição e não se valoriza a vitória nem a derrota...
Exatamente. Eu creio que temos um aspeto que é, realmente, caricato, até tem algum exotismo, que é a questão do cartão branco, o cartão branco que valoriza o fair play, e isto às vezes é...
Mas poucas vezes é utilizado...
É tido quase como um adorno. Naturalmente que a disputa, mesmo viril, pode ser uma disputa leal e eu creio que, no fundo, o que o Vaticano nos quer dizer, transmitir e incutir nas pessoas que ali estão é este sentido de responsabilidade, que o que cada um faz, o que cada um diz tem um impacto enorme e é importante que os agentes que são responsáveis por esta valorização do desporto e pela sua dignificação procurem sempre constituir plataformas de entendimento, de partilha de ideias, para que a ambição e até uma certa ganância não esvaziem o desporto daquilo que tem de belo, que é esta partilha diversa com pessoas de vários países. Aliás, eu próprio também tenho a experiência daquele pequeno exemplo que é o Campeonato Europeu de Padres: a certa altura, esquecemos quem é que ganhou, passou já da ideia... Se eu lhes perguntar a vocês e a outros quem é que ganhou, ninguém sabe, também não interessa. O que importa...
... sabemos que Portugal ganhou muitas vezes....
Portugal ganhou muitas vezes, exatamente. Agora eu estou a dizer isto porque a minha amnésia é naturalmente provocada pelas derrotas recentes. É seletiva.
Mas o que fica mais são as experiências, o encontro, a diversidade de países, de padres, de culturas, de jeitos até de rezar de forma diferente. O desporto acaba por ser esta ponte que depois constitui um elo fundamental que nos liga a todos. E é importante definir bem que o desporto é para valorizar o homem, para o dignificar e para construir pontes entre todos. Não pode servir de batalha campal nem de protesto pelo que quer que seja.
"A disputa, mesmo viril, pode ser uma disputa leal"
Já falámos de várias atitudes que não dignificam a atividade, também no desporto de alta competição, mas sobre especificamente a violência no desporto parece que ainda é um tema um pouco tabu. Não deveria existir uma reflexão crítica mais abrangente sobre este tema?
Obviamente que sim. Este é um problema que vem de longa data e nós, às vezes, constituímos fóruns de discussão e isto é colocado sempre à margem. Ouvi, ontem, as declarações de um dirigente desportivo - quando são os da minha cor ou do meu lado, tento logo dizer que isto é comum a todos os clubes, mas quando eu me sinto ofendido eu ergo a bandeira de que estou a ser martirizado, estou a ser discriminado, então, quero que os outros me peçam desculpa.
Então, é preciso melhorar a formação destes agentes desportivos...
Sem dúvida, sem dúvida, porque, depois, qualquer coisa é sempre o árbitro e todos nós temos motivos de queixa de termos sido desfavorecidos.
Eu não tenho dúvidas de que tem sido melhorada a formação dos árbitros, tem sido melhorada a formação dos atletas, cada vez mais. Ainda recentemente, quando Portugal ganhou esta competição da Liga das Nações, imediatamente a seguir, ao términus do jogo, foi entrevistado um dos nossos jogadores, neste caso o Vitinha, e é importante olhar para aquela entrevista e ver a elevação com que ele consegue transmitir a sua opinião. Depois daquela descarga de adrenalina de ter ganho, de ter, realmente, explodido de alegria com os seus colegas, que é legítimo, e onde também se notou que Portugal não foi favorecido nem foi prejudicado, foi um jogo até muito leal, muito digno, olhamos para o jogo até com essa satisfação, porque não foi uma questão de sorte, foi uma questão, realmente, de brilho, de qualidade, de excelência. Depois, vemos um jogador que chega a um "flash interview", ali logo, imediatamente a seguir, com uma elevação, com uma dignidade... Isto mostra. claramente. que há uma formação dos desportistas, cada vez mais, com as academias...
Os dirigentes não acompanharam?
Tenho essa certeza: os dirigentes não acompanharam, mas a todos os níveis, porque também os dirigentes deviam ter uma formação ao nível daquilo que são as leis do jogo, que não percebem, só percebem quando são prejudicados. Deviam ter formação ao nível daquilo que é ética desportiva, sem dúvida, e deviam, sobretudo, ter uma perceção de que o desporto tem de ser alimentado, mas não só com dinheiro: é com formação.
E o desporto tem esta vertente, isto é, alimentamos o futuro do desporto criando camadas jovens, onde também é preciso pensar e refletir no que se vê. Em algumas situações, o que nós encontramos por este país fora é uma vergonha, porque vemos esta ansiedade, um enorme frenesim de ter de ganhar e, depois, encontramos dirigentes que se portam mal e que, com os seus insultos, incendeiam as bancadas. Também aqui era importante uma atitude muito proactiva no sentido de valorizar o desporto e de entender que, às vezes, uma derrota para os mais novos é um grande ensinamento e tem uma grande pedagogia. O desporto tem estas várias dimensões. A derrota num jogo não significa a fraqueza, porque a grandeza do desporto está nesta capacidade de aprendizagem constante e nisto não tenho dúvida de que os dirigentes não acompanharam, porque também tudo isto é feito com aquele estilo fleumático das massas associativas. E as pessoas têm dificuldade em admitir que o outro ganhou por mérito próprio, não é?
"No desporto também se aprende a valorizar o que ganha e o que ganha aprende também a respeitar o que perde"
Eu quero introduzir aqui na conversa o novo Papa, porque em pouco mais de um mês o Leão XIV já recebeu...
Desculpem, mas há aqui uma piada à volta do Papa, porque o campeonato português estava perto das grandes decisões, quando foi feita a eleição do Papa Leão XIV e eu disse "pronto, o Benfica que arrume as botas"... Mas, tecnicamente, ele até surgiu de vermelho e branco, portanto enfim, acho que ali tentou ser o mais neutro possível.... (risos) E é importante dizer que este Papa eleito é uma boa notícia, uma boa surpresa para a Igreja.
E é também desportista.
E também desportista, exatamente. Exatamente por isso, pouco depois de ser eleito recebeu o Jannik Sinner, o grande tenista italiano, recebeu uma delegação do Nápoles, os campeões da Itália em futebol sénior masculino, e, depois, esteve também com os ciclistas da Volta a Itália. Já percebemos que vamos ter um Papa atento ao fenómeno desportivo.
E ele falou de um tema importante: da importância da qualidade moral na prática desportiva. Quantas pessoas é que são capazes de refletir sobre isto, a fundo?
Mas é isso que o Vaticano quer que lá seja refletido. É isso que ele quer. Porque, antes de mais, o rosto e a dimensão humana do Papa está também aí: gosta do desporto. Quer dizer, o Papa João Paulo II gostava de fazer alpinismo e ski. Aliás, quem for ao museu na terra dele, na casa dele, tem lá os artefactos do ski com que praticava. Era também desportista.
Há esta dimensão fundamental da qualidade moral do desportista, que também precisa de testemunhos, e, neste aspeto, não tenho dúvidas de que os treinadores, os formadores, os dirigentes são realmente importantes para ajudar os desportistas a ter esta dimensão. Porque há aquele aspeto dos que querem ganhar com todo o tipo de aldrabices. Veja-se a questão do doping, toda uma série de esquemas que são realmente terríveis. E temos agora uma coisa ainda pior, que são as apostas.
Sim e que são um fator de corrupção muito significativo…
Exatamente. Veja-se que, por exemplo, o número de vezes em que os jogadores caem fora de jogo também é motivo de aposta.
"Alimentamos o futuro do desporto criando camadas jovens, onde também é preciso pensar e refletir"
Então, o padre Manuel Fernando prevê um Papa muito atento a este fenómeno do desporto e ao impacto que ele poderá ter na sociedade...
Sem dúvida. O Papa percorreu vários mundos, vários sítios e neste percurso que faz nos Estados Unidos e na América Latina sabemos que o desporto, o futebol está no sangue daqueles jovens que estão na rua. Mesmo aquele desporto de rua não deixa de ser desporto, é momento de convívio. E o Papa está, seguramente, atento a isto. Aliás, não está só atento, como a Igreja tem de estar muito atenta. A Igreja tem de ter aqui uma palavra firme, não basta fazer só a bênção e o discurso para o mundo inteiro, é necessário criar estes fóruns. E o Jubileu do Desporto é, sem dúvida, uma oportunidade fundamental para, neste ano em estamos todos mais sensíveis a esta dimensão mais festiva, o desporto é também uma arte. Nós temos de ver esta capacidade, este empoderamento das qualidades de cada um, para, depois, esta fibra ética se manifestar em todas as dimensões, no ganhar e no perder.
E, realmente, o Papa vai estar atento, Creio que ele, também com os seus conselheiros, estará realmente instruído e orientado e terá essas ajudas, mas ele próprio tem esta dimensão e eu estou convencido de que este é um ponto fundamental deste Jubileu.
"A derrota num jogo não significa a fraqueza, porque a grandeza do desporto está nesta capacidade de aprendizagem constante"
Falemos, agora, um pouco da importância do desporto no quotidiano, em particular, no dia a dia de um sacerdote. É um importante auxílio ao equilíbrio emocional?
Também. É importante para este equilíbrio emocional porque o desporto aproxima-nos. Eu vejo da minha parte, e eu posso falar aqui de uma forma teórica, mas posso falar também na perspetiva daquilo que é a minha experiência pessoal.
Desde sempre me habituei ao desporto, ao futebol. Agora, estou ligado a uma equipa que de hóquei em patins e também a uma associação desportiva de patinagem artística. Também estive ligado à área do futebol e do futsal como dirigente desportivo e tudo isso é fundamental, porque com o desporto nós também nos cruzamos com outros públicos, mesmo aquele público que não vai à igreja, aquele público que não está tão ligado à vida paroquial, à vida comunitária. Mas aí, necessariamente, também se encontram qualidades e a possibilidade de relacionamento, de um relacionamento saudável que também é importante para nós.
Quando falamos de ir ao encontro das periferias, é importante percebermos que o desporto nos dá uma leitura muito transversal da sociedade, daquilo que são as suas preocupações, as suas ansiedades e do modo como vibramos com uma vitória. Eu já fui ver um jogo de hóquei em patins e é interessante ver os miuditos, os pais a vibrar com os miúdos pequenitos, alguns que mal conseguem pegar no stick. Isto é importante porque nos aproxima. No fundo, completa-nos.
"Quando falamos de ir ao encontro das periferias, é importante percebermos que o desporto nos dá uma leitura muito transversal da sociedade"
Por falar dessa aproximação, julgo que não vou cometer nenhuma inconfidência se disser que, por exemplo, às quartas-feiras, há um grupo de padres que se encontra em Alfena para um jogo de futebol...
Sim, para um jogo de futebol e, depois, para o almoço, porque aquilo é um convívio. Aliás, é isso que tem que ser o desporto. Realmente, é às quartas-feiras. Quando começa a preparação para o Europeu, é aos domingos, já noutro sítio, mas, sim, às quartas-feiras, quase de forma rigorosa, encontrámo-nos. Até temos um grupinho do Whatsapp que é "Fieis à Bola".
O grupinho é "Fieis à Bola" porque é assim que nós nos tratamos, e está bem, está muito bem assim. Encontrámo-nos para jogar em Alfena, no pavilhão, que é um pavilhão da paróquia. E é curioso que há pessoas que não jogam porque não podem, ou porque estão lesionadas, ou por qualquer motivo, mas vêm para o almoço.
Ou seja, há aqui uma dimensão muito mais alargada daquele momento desportivo que não é só o desporto.
É a importância do encontro?
Sim, é a importância do estar e não tenho dúvidas que aquele momento é um momento de verdadeira oxigenação para todos nós. As pessoas que estão completamente à vontade, descontraídas, estamos entre irmãos.
Por vezes, também temos leigos neste nosso encontro. São pessoas que fazem parte do nosso caminho e que participam da mesma forma, que nos ajudam, que estão connosco, que vibram, também, e que são capazes de fazer esta comunhão à volta da mesa. Acho que o desporto tem esta beleza fundamental e nós, padres, de vez em quando, pedimos ali umas ajudas técnicas, porque os padres não conhecem tudo. Mas há uma coisa sempre interessante: é que podemos ser poucos para a bola, mas para o almoço somos sempre mais.
"Temos um grupinho do Whatsapp que é 'Fieis à Bola'"
Quando surgem as notícias do Europeu de futsal de padres, há sempre alguém que manifesta alguma estranheza por ver padres a jogar à bola, mas isso acho vai passando com o tempo. Esta experiência de participar, e já falou, aliás, em torneios internacionais, em contato com colegas de outros países, pelo que eu percebi também, quase sempre, com uma competição saudável, trouxe alguma coisa de novo para a sua vida sacerdotal?
Trouxe, trouxe, e creio que traz sempre. Cada experiência é sempre uma experiência diferente. Estes encontros que fazemos a nível europeu, vamos fazendo em vários países e até tem sido, maioritariamente, na Zona Leste. Isso dá-nos uma outra visão do estilo do país, da cultura, da forma de viver, de rezar, das dificuldades. E depois há uma outra coisa importante, seja qual for o país: já fomos a países com mais condições e a outros com menos, mas há sempre um gosto enorme em acolher bem. Aquilo é extraordinário.
As comunidades conseguem-se engalanar para preparar, para cuidar, mesmo com as suas limitações, e para nós é sempre bom, porque sentimos a alegria de quem nos acolhe e nós procuramos também viver e usufruir do momento. Usufrur de uma forma múltipla: não é só pelo desporto, mas pelo encontro, pela partilha e, depois, pela questão da oração. Desta vez, foi na Hungria e o próprio governo, que é liderado por Victor Orbán, que está nas bocas todo mundo, não propriamente pelos melhores motivos, mandou um representante ler um discurso e entregaram uma capazinha com o discurso.
Há esta comunicação e vemos como as pessoas vão vibrando. Para as comunidades, é fundamental. E o que é que nós ganhamos? Ganhamos conhecimento, porque o conhecimento não é só dos livros, é também desta partilha e ganhamos, sobretudo, esta visão mais universal daquilo que é a nossa dimensão da fé, daquilo que é a nossa presença no mundo. Percebemos que, afinal de contas, também o desporto tem esta linguagem universal que proporciona a comunhão. E o desporto é belo quando consegue fazer isso. Realmente, há uns que têm de ganhar, há outros que têm de perder, mas, no fundo, cada um sabe estar e sabe aceitar as qualidades, as suas limitações e também ficamos felizes quando tudo isso acontece num ambiente de descontração. A tensão da final passa e as coisas, por vezes, são bravas. Nas imagens dá para ver isso, mas depois termina o jogo e tudo passa.
É um momento de crescimento, de afirmação e, depois, de valorização do vencedor e de agradecimento a todos os quantos colaboraram e contribuíram para a vitória, porque para uma vitória de uma equipa que se mostra muito capaz é necessário o trabalho daqueles que tratam da relva e de tantas outras coisas. Há muita gente envolvida para que tudo corra bem e é importante não esquecer que no desporto, quando se faz um disparate qualquer, como agora tem acontecido, isso mancha tudo. Ou seja, há aqui uma máquina tão grande e é toda esta máquina que é posta em causa. É importante ter este cuidado, nós temos aprendido imenso. Desde a Bósnia, desde a Romênia, desde a Bielorrússia também percebemos os problemas e dificuldades. Na Bielorrússia, havia colegas nossos que nem queriam falar, nem queriam falar sobre questões políticas, porque os telefones estavam sob escuta. Portanto, nós apercebemo-nos deste mundo diverso, das dificuldades e eu acho que isso que nos ajuda a sermos mais solidários, mais atentos, mais comprometidos e mais respeitadores das diferenças.