29 mai, 2024 - 19:35 • João Malheiro
Terminou este sábado a 77.ª edição do Festival de Cannes, deixando para trás mais uma lista infindável de recomendações para cinéfilos.
Ao todo, o evento foi palco de 22 estreias mundiais, permitindo o primeiro contacto com várias obras que prometem dar que falar até ao final do ano e marcar as galas de prémios de 2025.
Alguns foram galardoados no final do festival, enquanto outros ficaram de fora das premiações, mas fizeram furor ou criaram polémica. É sempre assim quando o Cinema é celebrado em Cannes.
A Renascença elabora uma cábula para ajudar os espectadores que precisam de saber quais foram os filmes em destaque no Festival de Cannes.
Começamos pelo vencedor. Sean Baker já tinha dado cartas com filmes como "Tangerine", "The Florida Project" e "Red Rocket" e teve este ano em Cannes o momento de consagração da carreira.
"Anora" é uma comédia dramática que fala de uma stripper jovem que acaba por casar com o filho de um oligarca russo, que está a viver em Nova Iorque.
Uma história de quem vai do submundo até ao topo e que conta com uma interpretação muito elogiada da atriz Mikey Madison, no papel principal.
A vitória do Palme d'Or é a quinta consecutiva da distribuidora Neon, que espera, tal como tem acontecido nos últimos anos, que "Anora" consiga aproveitar o prestígio ganho em Cannes para lutar por estatuetas no próximo ano.
O filme que ficou em segundo lugar foi o primeiro vindo da Índia a competir no festival em 30 anos.
Escrito e realizado por Payal Kapadia, trata-se de uma história sobre duas enfermeiras em Mumbai que decidem viajar juntas até a uma praia.
A crítica considerou a longa-metragem um conto feminista muito rico e um dos melhores filmes do evento.
O terceiro lugar de Cannes foi para o mais recente filme de Jacques Audiard, já vitorioso no festival em 2015.
É uma comédia musical sobre uma mulher que é contratada para ajudar uma traficante de droga mexicana transgénero a fugir das autoridades e a fazer cirurgia de reafirmação de género.
Zoe Saldaña é a protagonista de um elenco que conta com Selena Gomez, Adriana Paz e Karla Sofía Gascón, no papel titular.
Para além de receber o terceiro prémio, o filme surpreendeu na categoria de Melhor Atriz. As quatro artistas principais foram surpreendidas com uma vitória a quatro na categoria, demonstrando a força do elenco e dos papéis interpretados.
Gravar durante a pandemia não terá sido fácil, mas as dificuldades certamente terão valido a pena. O filme "Grand Tour" trouxe a Miguel Gomes o prémio de Melhor Realizador em Cannes.
A longa-metragem, filmada a preto e branco, fala de um homem que vive em Burma (atualmente Myanmar) em 1917 e decide fugir de todas as responsabilidades quando chega a hora de casar com a mulher Molly.
Gonçalo Waddington e Crista Alfaiate assumem os papéis do casal principal que se coloca nesta aventura insólita, melancólica e contemplativa.
O filme foi gravado em Itália, mas também inclui imagens e sons registados por Miguel Gomes durante uma viagem à Ásia.
Os prémios e o reconhecimento não têm faltado a Yorgos Lanthimos. O realizador grego foi concorrente forte nos Óscares pelos seus últimos dois filmes "A Favorita" e "Pobres Criaturas" - este último foi dos grandes vencedores deste ano.
A parceria criativa com Emma Stone continua em "Kinds of Kindness", um regresso mais forte às sensibilidades surreais e provocadoras do cineasta.
São três curtas histórias levemente relacionadas, em que todos os atores do elenco assumem uma personagem distinta em cada.
Emma Stone, Willem Dafoe, Margaret Qualley, Hong Chau, Joe Alwyn e Hunter Schafer são os pesos pesados do elenco. No entanto, foi Jesse Plemons a receber o reconhecimento de Melhor Ator em Cannes, pelo seu trabalho neste filme.
Sete anos depois do seu primeiro filme, Coralie Fargeat regressou em grande com "The Substance", um filme de terror provocador que levou a uma reação intensa de amor-ódio da crítica em Cannes.
Demi Moore faz de Elisabeth Sparkle, uma mulher que começa a sentir o peso da idade e decide testar um novo tipo de tratamento. O produto faz com que seja criada uma versão jovem da protagonista, interpretada por Margaret Qualley.
O problema é que tem de haver um equilíbrio: As duas versões alternam semana sim, semana não, sobre quem assume a vida de Elisabeth.
O filme acabou por valer o prémio de Melhor Argumento a Coralie Fargeat.
Era o filme que chamava mais às atenções, antes do começo do evento. Francis Ford Coppola, de regresso passados 13 anos, finalmente conseguiu terminar a história que mais o apoquentou ao longo da carreira.
"Megalopolis" está a ser desenvolvido pelo cineasta desde os anos 90, mas só agora é que conseguiu apresentar a longa-metragem épica ao mundo.
Foi preciso investir cerca de 120 milhões de euros do seu próprio dinheiro, que acumulou devido aos seus negócios no setor da vinicultura, e aguentar muitas peripécias e complicações relacionadas com uma produção tão ambiciosa, sem apoio de um estúdio.
O resultado? Um filme que dividiu a crítica ao meio, entre espectadores que adoraram o trabalho de Coppola e quem preferia nem ter aguentado as mais de duas horas de filme. No entanto, há um consenso sobre a qualidade visual da obra e de um elenco que conta com Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Jon Voight, Laurence Fishburne, Jason Schwartzman e Dustin Hoffman.
"Megalopolis" é um épico que se propõe recriar a queda do império romano, através de Nova Iorque moderna e promete ser dos filmes mais controversos do ano.
Dois anos depois de ter estado em Cannes por "Crimes do Futuro", o cineasta canadiano regressa para um filme de terror extremamente pessoal, em que, através da ficção, acaba por refletir sobre a morte da sua esposa, em 2017.
Vincent Cassel assume o papel de um homem recentemente viúvo que decide criar uma tecnologia que permite acompanhar o estado dos cadáveres enterrados dos seus entrequeridos. Um dia, várias campas, incluindo da mulher do protagonista, interpretada por Diane Kruger, são destruídas, o que leva a uma investigação sobre a responsabilidade do ato.
Originalmente, "The Shrouds" estava a ser desenvolvido em formato série para a Netflix. No entanto, a plataforma de streaming escolheu cancelar a produção, o que levou Cronenberg a optar por uma longa-metragem.
Ao estilo habitual do realizador, os críticos não chegaram a consenso sobre a mais recente obra de Cronenberg. Mas não deixa de ser uma obra de Cronenberg, ou seja, mais um filme sempre a ter em conta.
Não recebeu um prémio, mas teve direito a uma menção honrosa, pois não podia ser esquecido pelo festival.
Depois de fugir do Irão, devido a uma sentença de oito anos de prisão, o cineasta Mohammad Rasoulof foi acolhido em Cannes para exibir o seu novo filme que fala de verdades inconvenientes que o regime do seu país não quer ouvir.
A longa-metragem fala de Iman, um homem que acaba por ser nomeado juíz e vê-se obrigado a sentenciar pessoas à morte, sem avaliar as provas justamente.
As exigências da sua carreira profissional colidem com as duas filhas feministas e uma sociedade cada vez mais à beira da revolução.
Uma crítica evidente ao Irão que foi aclamada pela crítica.