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"The Boys". Quarta temporada dos super-heróis mais maléficos estreia esta quinta-feira

13 jun, 2024 - 13:00 • João Malheiro

A narrativa da quarta temporada arranca com uma campanha eleitoral para as Presidenciais dos EUA, o que promete ser chão fértil para muito humor e crítica. A Renascença explica como a série se tornou um fenómeno.

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Se há coisa que "The Boys" ensinou aos fãs é que podem estar sempre à espera do inesperável. Desde que a série da Amazon Prime Video estreou, em 2019, os espectadores já viram algumas das imagens mais loucas, inusitadas, chocantes e violentas dos últimos anos da televisão.

Agora, antes de estrear a quarta temporada, já se sabia uma coisa: "The Boys" vai mesmo acabar. O criador e argumentista Eric Kripke (responsável também por conceber a série "Sobrenatural") confirmou que "sempre foi o plano" fazer apenas cinco capítulos e que, o quarto que arranca esta quinta-feira, será, na prática, o início do fim.

Não será, contudo, o fim da marca de ficção mais forte da Amazon Prime, desde que o serviço de streaming arrancou. A série spin-off "Gen V" - sobre uma universidade de super-heróis - e outros projetos devem continuar, mesmo depois do fim da narrativa principal.

Na verdade, a garantia de que "The Boys" terá uma conclusão é uma boa notícia. O final da terceira temporada já revelava alguma repetição de ideias e uma manutenção forçada do status quo das personagens, para garantir mais conflito em futuros episódios. Sabendo agora que o desfecho está próximo, os oito episódios que começam a estrear já esta semana prometem ser mais emocionantes.

Mas, para os mais esquecidos ou para quem não conhece bem a série, vamos recapitular os pontos essenciais de "The Boys" e tentar perceber por que é que tanta gente adora uma série em que os vilões são os próprios super-heróis.

Dos quadradinhos para a televisão

Criado por Garth Ennis, a banda desenhada "The Boys" foi lançada em 2006 e concluiu em 2012. A narrativa principal é simples: os super-heróis que tanto veneramos são, na verdade, o pior que a Humanidade tem para oferecer, um grupo de criminosos depravados que fazem atos horríveis e são protegidos pela fama. Para combater contra esta injustiça, um grupo de pessoas sem poderes, os tais "The Boys", unem-se para os matar a todos.

A premissa pode parecer até demasiado simplista e, a verdade, é porque o é. Garth Ennis disse várias vezes que criou a banda desenhada por odiar o género de super-heróis e pretender fazer uma paródia ácida.

Apesar de muito violenta e obscena, ou talvez precisamente por isso, a obra ganhou uma popularidade de culto e captou a atenção de Hollywood. Em 2008, chegou mesmo a dar-se os primeiros passos para desenvolver uma longa-metragem baseada na banda desenhada.

Na altura, o realizador Adam McKay era o escolhido para liderar o projeto. No entanto, diferenças criativas fizeram cair por terra a produção.

Entretanto, precisamente em 2008, estreava o primeiro "Homem de Ferro" e arrancava o Universo Cinematográfico da Marvel. A indústria do Cinema viraram do avesso e o género de super-heróis tomou conta da cultura pop.

De repente, tudo o que podia gerar novo conteúdo de collants com superforça e capas voadoras foi vasculhado para se reformular em série ou filme. Por mais que a personagens fossem desconhecidas, se usavam uma máscara ou tinham superpoderes podiam muito bem ser rentabilizadas pelas grandes produtoras audiovisuais. E, assim, de forma natural, o interesse por "The Boys" renasceu.

Em 2016, arrancaram os planos para se tentar adaptar a banda desenhada de novo. Desta vez, em formato série, liderada por Eric Kripke e apoiada e distribuída pela Amazon Prime.

"The Boys" estreou três anos depois e tornou-se um sucesso instantâneo.

A decadência da América

A fórmula química do sucesso de "The Boys" passa por ser fiel a certos pontos da banda desenhada original e a alterar substancialmente outras componentes.

A série reteve a violência caricatural e humorística da obra original e até a expandiu de forma muito ambiciosa em termos de efeitos especiais. Não há uma temporada que não cubra os atores em litros e litros de sangue falso e misture cenários práticos e a computador.

As personagens são encarnadas por um elenco superlativo e carismático, em que o destaque claro vai para Karl Urban como o antihéroi trágico Billu Butcher, e Antony Starr no papel do antagonista principal Homelander. É este último que tem feito das melhores atuações em toda a televisão, nos últimos anos, já que este super-herói é um vilão perturbado, impiedoso, incorrigível, mas interpretado de forma minuciosa e sempre surpreendente. Erin Moriarty, Jack Quaid, Chace Crawford e Karen Fukuhara são outros dos destaques do elenco.

Não obstante, Eric Kripke soube perceber que a premissa de "The Boys" permite ir mais longe do que a mera paródia superficial a personagens de banda desenhada. Em vez de ficar por aí, a série utiliza os super-heróis como um retrato dos Estados Unidos atuais, simbolizando o culto de personalidade, os bastidores do mundo do entretenimento e a divisão política do país.

Também terá sido uma coincidência benéfica que a série tenha estreado a meio de 2019, poucos meses depois de "Vingadores: Endgame" ter estreado nas salas de Cinema e marcado o auge dos filmes da Marvel, antes de ter ser instalado, nos últimos anos, uma fadiga das audiências perante filmes de super-heróis tradicionais.

A verdade é que "The Boys" encabeça um movimento paralelo a este fenómeno cultural, que se dedica a desconstruir e gozar com super-heróis. Outras séries, como "Invincible", revertem os clichés que associamos a figuras como Super-Homem, Batman, Homem-Aranha, entre outros. E, no caso de "The Boys", a sátira vai mais longe.

Homelander, um homem loiro que passa uma imagem de força e usa a bandeira dos EUA como capa é uma metáfora evidente para Donald Trump e, ao longo das temporadas, tem ganho seguidores fanáticos que o apoiam. A última cena da terceira temporada termina com Homelander a matar uma pessoa em público, pela primeira vez, e, depois de pensar que iria ser odiado, os seus apoiantes acabam por o celebrar - uma clara referência a uma declaração em que Donald Trump dizia que podia dar um tiro na rua a alguém e nada lhe acontecer.

A narrativa da quarta temporada arranca com uma campanha eleitoral para as Presidenciais dos EUA, o que promete ser chão fértil para muito humor e crítica à volta do ato que, em novembro, vai mesmo colocar o país num momento de alta tensão política e sociocultural.

"The Boys" é, assim, uma das grandes estreias de junho que dominará as atenções durante as primeiras semanas do verão.

Os fãs podem ter muitas teorias, mas nada é realmente certo para lá de sangue, muito sangue e mais sangue.

Resta saber se Eric Kripke saberá direcionar a propriedade mais bem sucedida da Amazon Prime para um desfecho satisfatório que, certamente, será sempre explosivo.

Os primeiros três episódios da quarta temporada de "The Boys" já estão disponíveis na plataforma de streaming.

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