27 jun, 2024 - 17:40 • Redação
Viver numa gruta, durante 500 dias, sem luz do sol não é algo muito comum, mas Beatriz Flamini escolheu viver esta experiência. Em novembro de 2021, entrou numa gruta nos arredores de Granada.
À Renascença, a alpinista espanhola explica o que a levou a viver durante mais de um ano, a 70 metros de profundidade: “Eu queria treinar a minha força mental e emocional. Sou uma montanhista e era esse o objetivo: treinar a mente e as emoções como uma atleta de elite”.
A experiência foi acompanhada por uma equipa da Federação Andaluza de Espeleologia, a partir do exterior, que ia monitorizando a alpinista.
A alpinista não levou consigo qualquer tipo de espelho, “para não ter contacto humano”, nem aparelhos eletrónicos. Além disso, só ouvia música inglesa, para que não corresse o risco de “começar a ouvir vozes na sua cabeça”.
A espanhola Beatriz Flamini fez parte de uma exper(...)
Beatriz ocupava o seu tempo a pintar, tricotar e escrever. Chegou até a escrever uma ficção com 700 páginas, e quando chegou a altura de sair da gruta, a alpinista “queria ficar mais tempo”.
“Para mim eram sempre as 4h30 da manhã, passou muito rápido. Eu não queria sair porque me diverti muito. O problema é que o ser humano não pode viver numa gruta”, afirmou Beatriz.
O destino da próxima aventura de Beatriz Flamini é na Mongólia, para a qual já está a treinar.
Também sem acesso à luz do sol, foi há precisamente dez anos que seis aquanautas desceram 20 metros no mar, para durante 31 dias viverem num laboratório marinho, naquela que foi a Missão 31. A mais longa expedição científica, num laboratório marinho subaquático. Fabien Cousteau, neto de Jacques Cousteau- conhecido oceanógrafo francês- foi um dos aquanautas que viveu e trabalhou debaixo de água durante esse período.
Em entrevista, à Renascença, durante a GLEX, cimeira de exploradores que acontece na Ilha Terceira nos Açores, Fabien Cousteau conta como foi a experiência.
“Nós estivemos na zona onde acaba o mergulho e começa a vida de um aquanauta. Lá o ar que respiramos é três vezes mais denso e espesso do que o ar que respiramos normalmente. Mergulhamos cerca de 10/12 horas por dia e tínhamos acesso direto às experiências, à Ciência e à engenharia que pretendíamos fazer no recife de coral. Ou seja, com a nossa presença, conseguimos observar o comportamento de predadores e presas, analisar o carbono dissolvido na água para questões relacionadas com as alterações climáticas, a poluição por hidrocarbonetos, e também microplásticos…”, refere.
Com 31 dias conseguiram o equivalente a três anos de investigação científica. Para saírem em segurança do laboratório, foi necessário realizar uma subida lenta, naquilo a que chamam descompressão. No final da missão, os aquanautas demoraram 16 horas a voltar à superfície.
O laboratório subaquático chamava-se Aquarius e era na altura a única estação no mar. Atualmente, não há nenhuma estação de investigação submarina.
“O meu avô [Jacques Cousteau] construiu os primeiros habitats subaquáticos, seguido pela Marinha dos EUA e outros. Houve mais de 70, de vários tipos, na história, desde 1960, normalmente construídos para fins específicos, mas nunca foram mantidos por um período de tempo muito longo”, explicou o aquanauta.
“Por isso, é ainda mais urgente construir o Proteus”. Fabien Cousteau está a desenvolver uma estação espacial internacional no mar, que está prevista ser instalada em 2026. O explorador pretende “utilizar o modelo que funcionou no espaço, com pessoas a viver no espaço e aplicá-lo ao submarino como uma colónia”. O objetivo é “analisar a investigação a médio e longo prazo sobre coisas, não só sobre biologia marinha, mas também sobre necessidades energéticas, sobre fisiologia humana, psicologia, telemedicina, novas descobertas em robótica e engenharia”, acrescenta.
“Sempre que vou ao mar, resolvo um mistério e há mais dez que se desvendam à nossa frente. Por isso, para mim, a paixão e a curiosidade que me desperta a resolução destes mistérios é o que me leva a continuar”, conta.
Para Cousteau, o oceano é um lugar “alienígena”, e por isso “um lugar muito corrosivo, difícil, e excitante para novas abordagens e descobertas”. O aquanauta descreve o oceano como a “floresta tropical do planeta a partir da qual fomos criados”.
O explorador acredita que “a próxima cura para o cancro, ou para a doença de Parkinson, ou Alzheimer, o que quer que seja” pode estar “num coral de águas profundas, no lodo, no sedimento, a 200 metros de água.”
“Não sabemos, não procurámos. O oceano é um lugar fantástico de soluções à espera de acontecer. 90% das criaturas do oceano ainda precisam de ser descobertas. Portanto, ainda há muitos mistérios por descobrir. O oceano pode ser a solução para os grandes problemas da Terra”, acrescentou.