Morreu Sebastião Salgado, mestre da fotografia documental

23 mai, 2025 - 16:17 • Ricardo Vieira , Pedro Mesquita

Fotógrafo brasileiro morreu esta sexta-feira aos 81 anos. Mestre da fotografia a preto e branco deixa uma vasta obra dedicada à natureza, migrações, alterações climáticas ou exploração laboral.

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Sebastião Salgado, considerado o maior fotógrafo brasileiro e um dos mais importantes das últimas décadas, morreu esta sexta-feira aos 81 anos, anunciou o Instituto Terra.

O mestre da fotografia a preto e branco vivia atualmente em Paris e trabalhava em parceria com a companheira Lélia Deluiz Wanick Salgado.

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A sua obra fica marcada por um olhar especial para problemas do planeta e da humanidade, como a natureza, migrações, alterações climáticas ou a exploração laboral.

Para o álbum de imagens "Gold", fotografou o trabalho duro dos mineiros da Serra Pelada, a maior mina de ouro ao ar livre do mundo.

Em "Amazónia", imortalizou a beleza do pulmão verde do planeta.

Sebastião Salgado percorreu o mundo para publicar "Genesis", uma coleção de imagens de natureza muitas vezes ameaçada e de tribos em zonas remotas.

Outro dos seus trabalhos mais marcantes é o livro "Terra", dedicado à causa do movimento camponês dos "Sem Terra". A obra conta com a participação de José Saramago e de Chico Buarque.

"Um dos melhores de sempre"

O fotógrafo Alfredo Cunha considera que a principal marca de Salgado "é o testemunho do tempo que viveu", "é o testemunho da verdade, da justiça e de um mundo melhor".

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Alfredo Cunha recorda fotógrafo Sebastião Salgado

À Renascença, Alfredo Cunha recorda que Sebastião Salgado viveu em Portugal, logo após o 25 de Abril de 1974, e não tem dúvidas de que, apesar de ter começado relativamente tarde na fotografia, se transformou "num dos melhores fotógrafos de sempre".

Em declarações à Renascença, Rui Lourosa, diretor do Curso Superior de Fotografia na Escola Superior Artística do Porto, considera que Sebastião Salgado foi um dos melhores de sempre, na fotografia documental.

“As marcas do Sebastião Salgado são as suas marcas pelo documental, o interesse pela descoberta de povos pelo mundo inteiro com características sui generis e sempre com visualismos diferentes. Muitas vezes também foi atrás do drama da Humanidade, mas foi sempre atrás de uma imagem forte. Era um excelente fotógrafo. No documental houve poucos que o conseguiram igualar durante o tempo que ele trabalhou”.

"Com imenso pesar, comunicamos o falecimento de Sebastião Salgado, nosso fundador, mestre e eterno inspirador", avança o Instituto Terra, numa mensagem publicada no Instagram.

Sebastião Salgado apresenta exposição Amazónia. Foto: How Hwee Young/EPA
Projeção de imagens de Sebastião Salgado ao som de música de Heitor Villa-Lobos e Philip Glass, interpretada pela Orquestra do Gran Teatre del Liceu. Foto: Enric Fontcuberta/EPA
"Amazónia". exposição de fotografias de Sebastião Salgado. Foto: Isaac Esquivel/EPA
Lelia Wanick Salgado. Foto: How Hwee Young/EPA

Sebastião Salgado "foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos do nosso tempo", sublinha a publicação.

"Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora", refere o Instituto Terra, liderado pelo próprio fotógrafo e pela sua esposa, que tem como missão o reflorestamento e o ensino relacionado com as questões do meio ambiente.

As raízes de Salgado e a missão reflorestação

Sebastião Salgado nasceu em Aimarés, no estado brasileiro de Minas Gerais, em 1944. Com formação superior em Economia, foi obrigado a abandonar o Brasil devido às suas posições políticas incompatíveis com a ditadura militar.

Foi em Paris que, na década de 70 do século passado, nasceu a paixão pela fotografia, arte que estudou e aprofundou em Londres.

Trabalhou para várias agências de fotografia como a Gamma, a Sigma e a Magnum.

Foi distinguido com vários prémios, como o Eugene Smith de Foto Humanismo, em 1982, o Prémio Kodak, de 1984, o prémio Oscar Barrock de 1985, o prémio Rei de Espanha, de 1988, o World Press de Jornalismo e o Prémio Príncipe das Astúrias, em 1997.

Sebastião Salgado e a mulher Lélia Wanick Salgado também foram agraciados com o Prémio Gulbenkian para a Humanidade, em 2023, pelo seu trabalho de reflorestação de uma parte da Mata Atlântica, no Brasil.

Naquela que foi a primeira Reserva Particular do Património Natural, foram plantadas mais de 2,5 milhões de árvores em 25 anos e recuperados mais de 600 hectares de floresta com espécies autóctones.

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  • Maria
    23 mai, 2025 Palmela 17:02
    Maior pra voces" eu nunca ouvi falar dele!

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