04 jul, 2025 - 22:19 • Diogo Camilo
O público português conhece-o pelas suas participações como jurado em programas de talentos na televisão portuguesa, como o “Ídolos”, ”Uma Canção Para Ti” e “A Tua Cara Não Me é Estranha”, mas na indústria da música, Luís Jardim fica conhecido como o produtor que trabalhou com grandes estrelas do pop. O percussionista morreu esta sexta-feira, no dia do 75.º aniversário.
Nascido na Madeira a 4 de julho de 1950, o produtor musical tem um vínculo familiar com Alberto João Jardim, antigo presidente da região da Madeira e seu primo mais velho. No currículo tem um Grammy, em 1986, pela participação como instrumentalista no tema "Slave to the Rhythm" de Grace Jones.
Em jovem, Luís Jardim começou por ser guitarrista na banda Demónios Negros, com a qual lançou um disco em 1964. A banda segue o estilo dos Beatles da altura, com um pop-rock e Jardim chega a fazer uma versão portuguesa de “Yesterday”, em homenagem aos quatro de Liverpool.
Mas a música só surgiu como forma de vida mais tarde. “Não gostava de música. Até aos 9 anos não me interessava. Era bom a jogar futebol. Era guarda-redes, toda a gente dizia que podia ser profissional”, confessa numa entrevista ao podcast Posto Emissor da Blitz, em 2021, para dizer que começou mexer nas guitarras após o pai falecer.
No futebol, Luís Jardim jogou nos juniores do Marítimo e nas equipas de formação do Chelsea, antes de optar definitivamente pela música.
Aos 16 anos, Luís Jardim parte para Inglaterra, para estudar Direito. Acaba no curso de Administração Comercial e começa a sua carreira como músico de sessão. Faz parte dos Rouge, que venderam mais de quatro milhões de discos nos anos 70, e dos Casablanca, que editaram no selo Rocket, de Elton John.
A sua vida muda em 1969 quando Mick Jagger o vê atuar num pub londrino por coincidência e no dia seguinte recebe um telefonema, com os Rolling Stones a convidarem-no para tocar como percussionista num concerto no Hyde Park, em Londres.
“A porta abriu-se. Toda a gente que me viu disse: ‘Quem é este gajo?’ Comecei a ter chamadas aqui e acolá e fui criando um nome”, revela na mesma entrevista.
É nessa altura que começa a trabalhar com outros artistas e que “não tinha tantas dores de cabeça”, como afirma numa entrevista à RTP em 2009. “Comecei a desinteressar-me pelos meus projetos. Mas comecei a perceber que, para manter o nível de trabalhar com artistas grandes, tinha que estudar”, afirma, para justificar os estudos nos Estados Unidos.
Pelo meio da sua carreira, trabalha com nomes como os Rolling Stones, Elton John, Rod Stewart, Tina Turner, George Michael, Celine Dion, Diana Ross, Mariah Carey, Seal, Tom Jones, os Asia, Trevor Horn e Cher.
Em Portugal trabalhou com músicos como Rui Veloso e João Pedro Pais.
Entrevista
Em entrevista à Renascença, o produtor e músico po(...)
Numa entrevista à Renascença, a propósito da morte de Tina Turner em maio de 2023, Luís Jardim recordou um episódio que o fez ganhar a confiança da artista: “No meu primeiro concerto ela pagou-me uma quantia grande. Tivemos a digressão de longos meses e estávamos no avião. Ela mandou um envelope com dólares. Eu verifiquei que tinha 300 dólares a mais. Eu disse ao pianista, que era o líder da banda, que ela se tinha enganado. Ele disse: ‘Queres um conselho, vai devolver os 300 dólares porque senão para a semana já não estás com a banda’. Foi um teste para ver se eu era honesto.”
Jurado em vários concursos de televisão, Luís Jardim nunca escondeu as suas críticas à indústria da música em Portugal, defendendo que há “meia dúzia de excelentes cantores e depois uma tralha de gente que não canta nada".
"De cada vez que aparece uma canção portuguesa na rádio apetece-me sair do carro, porque é muito raro haver um artista português que se concentre na boa disposição", afirmou na mesma entrevista à Blitz.
Jardim revelou ainda algumas histórias caricatas dos programas musicais: "No concurso dos miúdos cheguei a ter uma mãe que me atirou uma garrafa de água quando estava no palco porque eu disse que o filho, coitadinho... Até fui delicado, disse: 'Desenrasca-se, mas não tem grande futuro'", confessa.