Cinema

Denis Villeneuve vai realizar o próximo James Bond – mas como será o seu 007?

05 jul, 2025 - 12:48 • The Conversation/Reuters

A nomeação de Villeneuve, no entanto, é vista como uma jogada estratégica para reposicionar Bond como uma marca de prestígio cinematográfico – e não como mais um produto do streaming.

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A franquia James Bond está em silêncio há quatro anos, desde que Daniel Craig se despediu do papel em No Time to Die. Um impasse legal entre os produtores da saga, Michael G. Wilson e Barbara Broccoli, e os estúdios Amazon, deixou a produção do próximo filme de 007 em suspenso.

Durante esse tempo, não faltaram rumores sobre quem será o próximo intérprete do espião criado por Ian Fleming – com o mais recente nome associado ao papel a ser o de Tom Holland, antigo Homem Aranha.

Mas a grande novidade surgiu em junho de 2025: Denis Villeneuve, realizador de Dune, foi confirmado como o director do 26.º filme da saga. A escolha surge após a aquisição da MGM pela Amazon, consolidando a Amazon MGM como os novos guardiões de Bond – algo que inicialmente gerou receios junto de fãs e críticos.

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Muitos temiam que Jeff Bezos estivesse mais interessado em maximizar assinaturas da Amazon Prime através de spin-offs e merchandising, do que em proteger o legado de Fleming. A nomeação de Villeneuve, no entanto, é vista como uma jogada estratégica para reposicionar Bond como uma marca de prestígio cinematográfico – e não como mais um produto do streaming.

Um realizador com estatuto de autor

Villeneuve já havia recusado realizar No Time to Die, por estar comprometido com os filmes de Dune. A sua escolha agora representa mais do que um simples regresso: marca a primeira vez que um verdadeiro auteur, reconhecido internacionalmente, assume o leme de 007 desde Sam Mendes (Skyfall, Spectre).

Críticos como Peter Bradshaw, do The Guardian, descrevem-no como “um mestre cinematográfico ao nível de Christopher Nolan”. Villeneuve não é apenas um realizador técnico – é um contador de histórias exigente, atento ao detalhe, à atmosfera e à densidade emocional.

Desde a sua transição do cinema independente canadiano para Hollywood com Prisoners (2013), Villeneuve construiu uma filmografia impressionantemente diversa: do thriller realista (Sicario, 2015), ao surrealismo de Enemy (2013), e à ficção científica contemplativa de Arrival (2016), Blade Runner 2049 (2017) e Dune (2021, 2024).

Que tipo de Bond fará Villeneuve?

Embora Sicario possa ser o projeto mais próximo do universo Bond em termos de género, a verdade é que é difícil prever o que será um 007 sob a batuta de Villeneuve.

Há quem aponte que o estilo do realizador – por vezes lento, introspectivo e carregado de simbolismo – possa não encaixar num universo onde o humor subtil, o charme e a ironia são parte da fórmula. Benjamin Svetkey, crítico da Hollywood Reporter, foi direto: “Falta-lhe leveza. E um certo piscar de olho ao espectador é essencial para Bond.”

Neste momento, pouco se sabe sobre o projeto: não há argumento, nem guionista, nem sequer ator confirmado para o papel principal. Mas tudo indica que será um “reboot” completo da saga, tal como aconteceu com Casino Royale em 2006.

Villeneuve já afirmou que vê Bond como “território sagrado” e que pretende respeitar a tradição. Mas o próprio ADN da série reside na sua capacidade de se reinventar.

Um espião moldado pelo seu tempo

Como escreveram os sociólogos Tony Bennett e Janet Woollacott no clássico Bond and Beyond, o personagem tem sido “diferentemente construído ao longo do tempo”, refletindo preocupações culturais e ideológicas distintas em cada geração.

O Bond de Sean Connery era viril e imperial. O de Roger Moore, cómico e estilizado. O de Pierce Brosnan, tecnologicamente delirante. Daniel Craig trouxe-lhe densidade emocional e vulnerabilidade. E agora?

Villeneuve nomeou Casino Royale como o seu Bond favorito – o que pode dar uma pista sobre a direção estética e tonal que pretende seguir: realismo, intensidade, e complexidade psicológica.

Mas sendo quem é, é pouco provável que Villeneuve se limite a repetir o passado. Se algo podemos esperar, é que o próximo Bond seja tanto um thriller de ação como uma reflexão cinematográfica – visualmente deslumbrante, emocionalmente ambígua, e talvez com mais deserto do que casinos.

Comentários
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  • Maria Manuela
    05 jul, 2025 Sintra 13:25
    Que tal para o ator principal o turco? Can Yaman?

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