18 set, 2025 - 19:30 • Diogo Camilo
O apresentador de televisão e humorista norte-americano Jimmy Kimmel viu o seu programa na ABC ser suspenso indefinidamente após comentários sobre a morte de Charlie Kirk, o ativista de extrema-direita assassinado na quarta-feira da semana passada enquanto discursava numa universidade em Utah.
A decisão da Disney, que detém a estação de televisão, foi tomada após pressões da Nexstar Media Group Inc., o grupo que possui várias afiliadas da ABC, ter anunciado que iria "substituir o programa por outras programação", considerando que as declarações de Kimmel foram "ofensivas e insensíveis numa altura crítica para o discurso político nacional".
No seu tradicional monólogo do “Jimmy Kimmel Live”, no dia após o assassinato de Charlie Kirk, o apresentador começou por dizer que os Estados Unidos estão ainda a "tentar descortinar o insensível homicídio" de quem descreveu como um "popular podcaster e ativista conservador", criticando quem aplaude a sua morte: "Nunca vou conseguir entender", disse, passando a criticar Trump pela sua resposta ao ataque.
Nesse programa, logo após a morte, o discurso do monólogo foi dirigido a Trump, com piadas sobre a sua presença num evento de homenagem ao 11 de setembro, sobre o caso Epstein, em que o presidente está indiretamente envolvido, e sobre a sua decisão de demitir o comissário do Departamento de Trabalho e Estatística.
O homicídio de Charlie Kirk não foi mais mencionado durante o monólogo.
No início desta semana, na segunda-feira, Kimmel começou novamente o seu monólogo com Donald Trump, mas pelos seus comentários sobre futebol americano. O programa seguiu depois para o caso do homicídio de Kirk, com Kimmel a sugerir que o movimento político de Donald Trump, MAGA - Make America Great Again - quis aproveitar a situação.
"O gang MAGA está desesperadamente a tentar caracterizar este miúdo [Tyler Robinson, suspeito] que assassinou Charlie Kirk como nada como um deles e a fazer tudo para colher pontos políticos a partir disso", disse, transmitindo a primeira reação de Trump na Casa Branca após a morte de Kirk, em que o presidente norte-americano aproveita para falar da construção de um salão de baile na residência oficial.
"Ele está na quarta fase do luto: a construção. Isto não é como um adulto faz o luto de alguém a quem chama um adulto. Isto é como uma criança faz o luto de um peixinho-dourado", disse Kimmel, passando depois imagens de Trump na Fox News, onde voltou a falar da construção do salão de baile na Casa Branca, contando a sua reação à morte de Kirk.
Ainda não são conhecidos os motivos do suspeito detido, Tyler Robinson, embora autoridades tenham adiantado que a sua família era conservadora e que o jovem "se inha tornado mais político e inclinado à esquerda". Embora Kimmel não tenha sugerido que o suspeito é apoiante de Trump, as suas declarações levaram a críticas duras do movimento MAGA.
Em entrevista esta quarta-feira, Brendan Carr, o líder da Comissão Federal das Comunicações nomeado por Trump, disse que Kimmel fez um "esforço concertado para mentir ao povo americano" e que os seus comentários são uma "tentativa para gerar a narrativa de que esta era uma pessoa republicana ou do movimento MAGA".
Nesse programa de segunda-feira, Kimmel não abordou apenas a morte de Kirk: voltou a falar da lista dos ficheiros Epstein e sublinhou a hipocrisia de republicanos na resposta à morte de Kirk.
No dia seguinte, no seu último programa, Kimmel falou da visita oficial de Trump ao Reino Unido e criticou o incidente do presidente norte-americano com um jornalista australiano, que lhe perguntou quão mais rico ficou desde que assumiu a presidência.
"É de onde? Está a prejudicar a Austrália. O vosso líder vem visitar-me muito em breve. Vou falar-lhe de si", afirmou Trump. Kimmel riu-se da situação e chamou-lhe de "queixinhas".
"Trump tem de tomar uma decisão. Quer ser um ditador [dictator] ou só um idiota [dick]?", disse Kimmel.
No mesmo programa, Kimmel apontou baterias ao vice-presidente norte-americano, JD Vance, que alegou que "a maioria dos lunáticos na política dos EUA estão à esquerda", afirmando que isso é uma "total treta", lembrando o ataque ao Capitólio de janeiro de 2021. "Isso foi a esquerda liberal? Ou o exército dos desdentados?", questionou o apresentador.