70 anos de carreira de Aurélio Carlos Moreira. "Dediquei à rádio toda a minha paixão"

30 out, 2025 - 20:30 • Alexandre Abrantes Neves

A fazer rádio desde 1955, o locutor Aurélio Carlos Moreira ainda tem ideias de novos programas: "Mas isso não transmito, alguém pode ficar com elas, não é?". O auditório do Grupo Renascença Multimédia encheu-se de figuras conhecidas para homenagear o "eterno Paju" - de que até o Presidente da República se recorda.

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70 anos de carreira de Aurélio Carlos Moreira. "Dediquei à rádio toda a minha paixão"
Ouça a peça do jornalista Alexandre Abrantes Neves, sobre os 70 anos de carreira de Aurélio Carlos Moreira. Foto: Ricardo Fortunato/RR

“Julgava que era aldrabice”. A surpresa com a homenagem não faz alterar a postura que Aurélio Carlos Moreira mantém há 70 anos, quando se sentou pela primeira vez ao microfone: sorriso na cara, com a cabeça a fervilhar de ideias para colocar “no ar”.

“E ainda estou a pensar em muita coisa que hei de fazer ainda. Mas isso é a novidade, a cacha, que eu não transmito. Alguém pode apanhar a ideia, não é verdade?”, interroga perante o microfone da Renascença, do qual é íntimo há tantos anos.

Entrou para grupo em 1957 e ainda anda por aqui, hoje em dia com maior presença nos podcasts, com “Eu sou um Romântico” e “A Música não tem idade”. Para trás, ficam décadas de programas que marcaram a rádio em Portugal, nomeadamente o Paju (abreviatura de Passatempo Juvenil) que durou 48 anos e marcou várias gerações – incluindo a do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

“Disse-me que fui a inspiração musical na juventude dele. Ele ouviu o programa e diz que o ouvia atentamente por causa da música que eu punha”, conta, sobre o telefonema que recebeu de Marcelo esta quinta-feira, que participou na homenagem também com um vídeo.

No auditório da Quinta do Bom Pastor em Lisboa, sede do Grupo Renascença Multimédia, marcaram presença inúmeras figuras públicas, muitas delas que já passaram pelos corredores desta rádio. Um deles foi Júlio Isidro, que se relembra de Aurélio Carlos Moreira “desde sempre, de vê-lo na rádio, mas também na televisão, a fazer a Volta a Portugal”. De agora em diante, espera que esta homenagem se perpetue.

“Estamos na altura de respeitar cada vez mais o talento, a experiência, o conselho do cabelo branco. O cabelo branco em Portugal não tem que ser só saudade, tem de ser futuro”, apela.

Entre as caras da televisão, também Júlia Pinheiro (que trabalhou na Renascença no final da década de 1980 e que regressou brevemente em 2020) quis marcar presença. Porquê? “Ele é muito charmoso, é bem vestido, muito cheiroso, as camisas estão sempre muito bem passadas a ferro”, explica, entre risos.

A primeira vez que se cruzou com Aurélio ainda foi no antigo edifício da Renascença, na Rua Ivens, no Chiado. Desses tempos, recorda um radialista já “transversal, uma coisa que há cada vez menos” e também a perspicácia.

“Ele foi dos primeiros a ver que eu e o meu marido estávamos a ficar seriamente comprometidos. No outro edifício da Rádio Renascença, deve ter dado uns conselhos também ali ao meu marido, na altura”, recorda.

Das muitas aventuras das sete décadas de rádio, grande parte das mais recentes foram passadas na Rádio Sim, onde trabalhou desde a fundação até à descontinuidade, entre 2008 e 2020, e se dedicou à produção de conteúdos virados para um público mais sénior. O vídeo projetado no ecrã do auditório passou em revista muitas dessas memórias, desde as Grandes Galas Rádio Sim até momentos de confraternização de colegas, e muitos delas vividas na presença da Dina Isabel.

“É um grande locutor e produtor de rádio, muito criativo desde sempre, muito à frente do tempo dele. E, para além disso, como colega, como aquela pessoa que se cruza connosco todos os dias e a palavra dele é sempre para nos animar. E não foi uma vida fácil, a do Aurélio. É uma referência profissional e pessoal”.

José Luís Ramos Pinheiro, gerente do Grupo Renascença Multimédia, também tem um enorme rol de recordações para desfiar sobre esta “personificação da rádio” que se “reinventa todos os dias na vida profissional”. Mas há uma que destaca – o sentido de humor.

“A presença sempre alegre e bem-disposta, em que as anedotas às vezes são as mesmas, mas o Aurélio tem uma capacidade de as recriar como imaginação e uma criatividade que só podiam vir de alguém da rádio”.

A boa disposição que, assume o próprio Aurélio, tem razão de ser. “Sou uma pessoa que dedicou à rádio toda a sua paixão”.

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