04 nov, 2025 - 11:00 • The Conversation/Reuters
Se alguma vez se perguntou porque é que a girafa tem um pescoço tão comprido, a resposta parece óbvia: permite-lhe alcançar as suculentas folhas no topo das altas acácias africanas.
Só as girafas têm acesso direto a essas folhas, enquanto os mamíferos mais pequenos têm de competir entre si junto ao solo. Esta fonte de alimento exclusiva parece permitir que a girafa se reproduza durante todo o ano e sobreviva melhor a períodos de seca do que as espécies mais baixas.
Mas o pescoço comprido tem um custo elevado. O coração da girafa tem de gerar pressão suficiente para bombear o sangue a vários metros de altura até à cabeça. A pressão arterial de uma girafa adulta é normalmente superior a 200 mm Hg – mais do dobro da maioria dos mamíferos.
Como resultado, o coração de uma girafa em repouso consome mais energia do que o corpo inteiro de um ser humano em repouso, e até mais energia do que o coração de qualquer outro mamífero de tamanho comparável. Contudo, como mostra um novo estudo publicado no Journal of Experimental Biology, o coração da girafa tem alguns ajudantes não reconhecidos na sua batalha contra a gravidade: as suas pernas longas, muito longas.
No novo estudo realizado pela Universidade de Pretória, na África do Sul, foi quantificado o custo energético de bombear sangue numa girafa adulta típica e comparado com o de um animal imaginário com pernas curtas mas um pescoço mais comprido, capaz de alcançar a mesma altura das copas das árvores.
Este ser era uma combinação ao estilo de Frankenstein - entre o corpo de um antílope-africano (o eland) e o pescoço de uma girafa, a que foi dado o nome de “elafa”.
Foi então descoberto que este animal gastaria uns impressionantes 21% do seu orçamento energético total a alimentar o coração, em comparação com 16% na girafa e 6,7% nos humanos.
Ao elevar o coração mais próximo da cabeça através das suas pernas longas, a girafa “poupa” cerca de 5% da energia obtida dos alimentos. Ao longo de um ano, esta poupança energética equivaleria a mais de 1,5 toneladas de alimento – o que poderia significar a diferença entre a vida e a morte na savana africana.
No seu livro How Giraffes Work (Como Funcionam as Girafas), o zoólogo Graham Mitchell revela que os antepassados das girafas tinham pernas compridas antes de desenvolverem pescoços longos.
Isto faz sentido do ponto de vista energético: pernas compridas facilitam o trabalho do coração, enquanto pescoços compridos o tornam mais difícil.
No entanto, a evolução de pernas longas também teve um custo. As girafas são obrigadas a abrir as patas dianteiras para beber água, o que as torna lentas e desajeitadas a levantar-se e fugir se surgir um predador.
As estatísticas mostram que as girafas são os mamíferos mais propensos a abandonar um poço de água sem beber.
O custo energético do coração aumenta em proporção direta com a altura do pescoço, por isso tem de existir sempre um limite. Um dinossauro saurópode, o Giraffatitan, surge com a cabeça a 13 metros do chão no Museu de História Natural de Berlim.
O seu pescoço mede 8,5 metros, o que exigiria uma pressão arterial de cerca de 770 mm Hg para que o sangue chegasse à cabeça – quase oito vezes mais do que se observa no mamífero médio. Isto é pouco plausível, pois o custo energético do coração para bombear o sangue teria ultrapassado o custo energético de todo o resto do corpo.
Os dinossauros saurópodes não poderiam levantar a cabeça tão alto sem desmaiar. De facto, é improvável que algum animal terrestre na história tenha excedido a altura de uma girafa macho adulta.