Siga-nos no Whatsapp

VIDAS INVISÍVEIS

O que são os Amigos P'ra Vida? "É poder impactar o futuro de alguém da melhor forma"

09 abr, 2025 - 06:15 • Ângela Roque

Liliana Vitorino conheceu os Amigos P'ra Vida durante a pandemia e tornou-se "Família Amiga" de Suad. A jovem, de 20 anos, diz que foi "na altura certa" e que a sua vida "mudou para melhor". Neste episódio, falamos deste projeto da associação Candeia que, sem as "amarras" legais de outras respostas de acolhimento, procura criar uma "rede" de apoio para os jovens fora das instituições.

A+ / A-
Vidas Invisiveis ok
Ouça o podcast Vidas Invisíveis

Muitos jovens retirados aos pais ficam sem retaguarda de apoio fora das instituições onde estão acolhidos. Para que essa rede possa ir sendo construída a associação Candeia criou o projeto Amigos P'ra Vida, que procura encontrar famílias amigas, ou pessoas singulares, que se disponibilizem a ajudar, sem que isso implique um vínculo legal como a adoção, por exemplo, mas garanta aos jovens uma retaguarda e acompanhamento próximo para o que precisarem.

Foi essa a vontade de Liliana Vitorino, de 45 anos, assim que teve conhecimento desta solução. Com uma filha de 13 anos, e uma relação de 20 com o seu companheiro, António, agradou-lhe o lado prático e simples deste projeto, que sendo diferente do que é uma família de acolhimento ou adotiva, pode significar muito para a vida dos jovens.

Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui

"Não precisamos de fazer coisas muito grandes e ir muito longe para mudar o mundo. Podemos mudar o nosso mundo e o mundo de uma criança ou jovem com coisas simples. Mesmo que não seja virem viver connosco, sentirem que têm uma família. E não precisa de ser pai/mãe, não precisa de ser família tradicional, pode ser uma pessoa sozinha, um adulto, pode ser um amigo. É saber que podemos mudar a vida e impactar o futuro de alguém da melhor forma possível. Vale muito a pena!", garante.

Diretora de marketing numa empresa multinacional, Liliana estranha que tudo o que diz respeito ao acolhimento das crianças e jovens em risco passe ao lado da maioria das pessoas. "A falta de informação é brutal", diz. E lamenta que medidas como esta dos Amigos P'ra Vida, e outras, permaneçam desconhecidas.

"Se eu olhar à minha volta, e não considero que esteja rodeada de pessoas com pouca formação, ninguém tem informação sobre o que é o apadrinhamento, como é que funcionam as instituições, o que é o acolhimento... então acolhimento é assim uma palavra quase nunca usada!", conta, considerando que este desconhecimento leva a muitos preconceitos em relação às crianças que vivem em instituições.

"Para ser honesta, eu própria tinha. E quando comecei a ir à instituição para conhecer a Suad vi que era diferente. Não estamos a falar de jovens delinquentes, são jovens, crianças que tiveram azar, se calhar, como há adultos com azar na vida".

"Acima de tudo é dar amor"

Suad, de 20 anos, ganhou esta família amiga já na fase adulta, depois de ter saído do acolhimento. Fala do impacto que o projeto pode ter, e que mesmo sem ser uma adoção, ou outra medida mais formal, dá estabilidade aos jovens. No seu caso diz que foi uma oportunidade de esperança, na altura certa da vida.

"Acima de tudo é dar amor! Este apoio muda imenso a vida da criança ou do jovem. A minha mudou, para melhor! Sou muito feliz com a minha família. Eu costumo dizer que foi um fruto que Deus preparou para mim e que tive que passar pelo que passei para conseguir estar em paz na minha família".

Neste momento, a jovem está mesmo a viver em casa de Liliana, que considera a sua família. "Eu hoje em dia não digo 'a minha família amiga', porque não considero que seja a minha família amiga. Considero que é a minha família, que o António é o meu pai, a Liliana é a minha mãe e a Maria é a minha irmã. E é mesmo engraçado que até os meus amigos à minha volta dizem 'então a tua família?'. E digo 'vou para a minha casa', não digo 'vou para casa da minha família amiga'".

Os Amigos P'ra Vida, da associação Candeia, podem ser famílias ou pessoas singulares, adultos, que acompanhem os jovens de uma forma mais personalizada, mesmo quando continuam a viver nas instituições. O objetivo é terem rede de suporte cá fora, onde a família biológica lhes falhou. Os candidatos e todo o processo são acompanhados.

Suad baseia-se na sua própria experiência para deixar, no entanto, um alerta - muitas vezes o que é melhor para a criança não é a família biológica. É preciso estar atento aos sinais, porque insistir no erro condiciona o futuro de muitos jovens.

"Mesmo quando a resposta da família biológica não é a mais segura para a criança, continua-se muito a tentar reforçar, e muitas vezes veem-se crianças a sair da instituição, voltarem para a família e depois terem de voltar para a instituição. E isto é um peso muito grande para a vida da criança, porque é colocar uma esperança contínua numa coisa que os próprios adultos já veem que não é possível".

O Vidas Invisíveis é um podcast Renascença em parceria com a associação Candeia, com novos episódios à quarta-feira. Disponível em todas as plataformas podcast.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+