Mudar a canalização ao país
Uma das dificuldades associadas ao H2V é o seu transporte e armazenamento. Apesar de estarmos a falar de um gás, o hidrogénio não pode ser transportado nas mesmas condutas e gasodutos que o metano (o dito gás natural).
“O metano é uma molécula grande, que ocupa um bocado de espaço. Agora, imagine o que é ir à pesca com uma rede para pescar carapaus e uma rede para pescar atuns. E é exatamente disso que estamos a falar. O hidrogénio é a molécula mais pequena que existe. Precisamos de uma rede ultrafina”, explica Pedro Horta.
Ou seja: caso no futuro o H2V se torne essencial à rede energética, será necessário mudar toda a “canalização” do país.
Em Portugal, em muitos dos “complexos industriais” onde já há produção de H2V, o consumo ocorre no local. Existem, ainda assim, exceções, como a Floene, no Seixal, que adiciona uma pequena percentagem (perto de 12%) de H2V na sua rede de distribuição de metano, criando assim uma espécie de “gás natural aditivado”.
“A questão da distribuição e transporte do hidrogénio é uma parte muito importante dos custos. Diria que corresponde a metade dos custos do H2V para o utilizador final”, estima o investigador da Universidade de Évora.
Pelo menos na teoria, Portugal está em boa posição para desbravar caminho no armazenamento do H2V.
Como tem uma “densidade energética alta”, o hidrogénio pode ser utilizado para armazenar energia proveniente de fontes renováveis. “Neste momento, estou com muito sol, muito vento, e não consigo consumir isto tudo. Então, vou guardar. Ou vou guardar numa barragem ou na forma de hidrogénio.”
O H2V pode ser, por via de processos químicos, constituído como um combustível líquido. “Há uma parte significativa da economia que nós não vamos conseguir eletrificar. Ou pelo menos, facilmente. O caso de processos de alta temperatura na indústria e transporte de longo curso. São consumos energéticos que não fáceis de eletrificar. À partida, vão estar sempre um pouco dependentes de combustíveis líquidos ou gasosos”, explica Pedro Horta.
Assim que se perceba que há um mercado, o investigador acredita que a indústria vai desenvolver a tecnologia necessária – “motores de combustão, queimadores para hidrogénio” - para tornar este cenário real.
“Isto é realista? É, mas há aqui um conjunto de questões que tem de ser resolvido. E podem ser resolvidas de forma fiscal, de forma de incentivos públicos, há muitas ferramentas para resolver estas coisas. Aliás, as mesmas que utilizamos para começar a utilizar petróleo à bruta, como fazemos hoje. Teve de haver apoios públicos e subsídios. Teve de haver e ainda há. É uma aposta política.”
Resta saber se a política já não estragou a fama do Hidrogénio Verde. O ex-ministro Luís Mira Amaral não nega esse “risco”. “Mas a culpa é de quem foi megalómano, era ignorante e não ouviu quem sabia.”