Nos últimos meses, a Volkswagen ameaçou cortar milhares de postos de trabalho, reduzir salários e fechar fábricas na Alemanha. "Estamos todos assustados", relatou uma funcionária aos jornalistas durante um protesto em Hannover, no início do mês.
"Muitas das pessoas que estão quase a reformar-se têm medo de perder o emprego. Eu sou mãe de dois filhos. Desloco-me mais de uma hora todos os dias para vir trabalhar para aqui. Adoro o meu trabalho. Não o quero perder."
Não é só a Volkswagen que tem reportado dificuldades. Em novembro, a fornecedora de peças Bosch anunciou que, nos próximos oito anos, deverá extinguir 5.500 postos de trabalho, sobretudo na Alemanha. A Schaeffler, outra fornecedora do setor, anunciou que deverá despedir cerca de 4.700 pessoas na Europa e fechar duas fábricas. A norte-americana Ford revelou que pretende eliminar 4.000 postos de trabalho, sobretudo na Alemanha e no Reino Unido. A francesa Michelin planeia encerrar duas fábricas; a medida deverá afetar 1.250 trabalhadores.
O admirável mundo elétrico
Vários fatores explicam esta crise no setor automóvel: os custos de produção dispararam nos últimos anos, a procura europeia diminuiu e a concorrência asiática é cada vez mais forte. O emblemático carro alemão parece perder terreno para uma nova geração de veículos.
A China é atualmente o maior produtor mundial de carros elétricos, ultrapassando a Alemanha. O investimento chinês no desenvolvimento de baterias e software durante mais de uma década está a dar frutos.
Segundo Thomas Puls, do Instituto da Economia Alemã em Colónia (IW), a China e outros concorrentes da Alemanha partiram em vantagem na corrida pelos veículos elétricos: "Tanto a Tesla como as fabricantes chinesas, em particular, têm as suas origens na indústria elétrica. E há uma grande diferença entre construir um veículo como empresa "elétrica" - comprando a fornecedores externos os componentes de que não se tem sequer ideia, como o chassis - e tentar 'eletrificar' um produto existente", como fazem as fabricantes alemãs tradicionais.
"É sabido que a integração do software é um problema para as fabricantes tradicionais", refere Puls em declarações à Renascença.