
“Salvo por Deus” para tornar “a América grande outra vez”, Donald Trump está de volta. O 45.º Presidente dos EUA (e agora 47.º) regressou ao Capitólio, esta segunda-feira, e tomou posse perante o olhar atento dos antecessores, rodeado pela família, apoiantes e potenciais “oligarcas” - nas palavras do ex-presidente Joe Biden.
Se esperanças houvesse que, com mais quatro anos nos ombros e duas tentativas de assassinato depois, o milionário norte-americano pudesse ter ficado mais brando ou moderado, essas foram dissipadas assim que tornou a ter um púlpito, com o brasão dos Governo e um microfone, diante de si.
Como por decreto, afirmou que vai resgatar o país após quatro anos de "declínio": “A era de ouro da América começa agora.”
Num discurso com lógica maniqueísta, prolífico em ataques às políticas do Partido Democrata e uma cota-parte de vitimização, Trump não se coibiu de fazer promessas e desenhar um futuro “excecional”.
“A nossa soberania será reclamada, a nossa segurança vai ser restaurada”, afirmou. “Os pilares da nossa sociedade estão doentes. Temos um governo que recusa defender as nossas fronteiras e o nosso povo. O nosso país já não consegue fornecer serviços básicos.”
Expansionismo “is back”
Sem perder tempo, o novo Presidente dos EUA anunciou uma série de medidas que pretende implementar no curto-prazo.
Entre as quais, está uma repetição do primeiro mandato: declarar “emergência nacional” na fronteira com o México. E uma grande novidade: a criação de um Serviço de Receitas Externas, para amealhar dinheiro das tarifas internacionais que pretende impor à China, Canadá e outros países.
O mais provável é que, nos próximos dias, mais medidas sejam conhecidas. A Reuters avança, por exemplo, que Trump pretende retirar os EUA do Acordo de Paris, tal como fez em 2017 – uma decisão potencialmente “catastrófica”, já alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Na emissão especial da Renascença que acompanhou a tomada de posse, Augusto Santos Silva, ex-ministro socialista e antigo presidente da Assembleia da República, apontou outro grande perigo codificado nas palavras de Trump: o expansionismo territorial.
O recém-empossado presidente afirmou querer “retomar” o canal do Panamá. “A China está a operar o Canal do Panamá e nós não o demos à China. Demo-lo ao Panamá e vamos tomá-lo de volta.”
“A meu ver, a frase mais perturbadora foi quando Trump diz que os EUA são uma nação que cresce, vão continuar a crescer e a expandir-se territorialmente. Isso é muitíssimo preocupante, a ideia da expansão territorial dos EUA, que depois é particularizada com a referência expressa ao Canal do Panamá, mas, também, no subtexto dessa frase volta à questão da Gronelândia”, disse Santos Silva.

Na plateia, a aplaudir
Ao contrário do que é tradição, a cerimónia de tomada de posse não decorreu nas escadas do Capitólio, mas antes na rotunda, uma das salas principais do edifício. Assim, apenas 800 pares de olhos puderam assistir, ao vivo, ao momento quem Trump pôs a mão na bíblia, perante o juiz do Supremo John Roberts, e fez o juramento.
Mal pisou a sala, Trump foi recebido com uma salva de aplausos. Como num comício, alguns dos presentes começaram a entoar: “EUA, EUA, EUA.” Algo muito diferente aconteceu, minutos antes, quando Mike Pence entrou na sala: ouviram-se apupos.
Entre os 800 convidados, estiveram muitos bilionários do setor tecnológico. Elon Musk, Mark Zukerberg e Jeff Bezos eram (convidados) esperados. Mais surpreendente foi a presença de Sundar Pichai, CEO do Google, Sam Altman, CEO da OpenAi, Sergey Brin, co-fundador do Google, Tim Cook, CEO da Apple, e Shou Zi Chew, CEO do TikTok.
Com uma lista de convidados e ausências digna de uma tese de ciência-política, Trump pode também ter dado já um sinal quanto às afinidades políticas da nova administração.
Se Joe Rogan, o podcaster norte-americano, teve direito a um lugar, a embaixadora da Ucrânia nos EUA, Oksana Markarova, não. (Talvez não por acaso, Vladimir Putin apelidou hoje Trump de “corajoso” e disse estar disposto a dialogar com a nova administração.)
Solene, garantindo ser um “pacificador”, mas sempre ao ataque, Trump prometeu “uma revolução do senso-comum” nos próximos quatro anos. Rodeado por uma equipa de equipa de fiéis "trumpistas", apoiado por alguns dos empresários mais poderosos do planeta e com a oposição democrata em cacos, o 47.º Presidente dos Estados Unidos promete derrubar o "establishment".

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