Petrusya é a única desta mesa-redonda que não chegou a Portugal como refugiada. Mora há mais de 20 anos em Lisboa. Chegou pela mão de uma sobrinha e vive agora com os netos e uma das duas filhas. A outra ficou na Ucrânia.
“Ligo todos os dias. Quando não falo com ela, sabe todo o mundo. Fico preocupada, o dia todo a chorar”, conta aos colegas de painel, num misto de embaraço e nervosismo que reflete no riso tímido e nos jeitos que vai dando ao lenço.
Anna também sabe o que é esta preocupação, apesar de tentar mostrar que é “sempre ser muito relaxada”. Todos os dias envia fotografias ao seu pai – para lhe mostrar o neto, o trabalho, os sítios que visita, os amigos que conhece. As respostas são poucas, sucintas e, às vezes, demasiado espaçadas.
“Responde-me sempre com um emoji. Quando ele não me responde uma ou duas semanas, ou quando não consigo falar com ele, já estou muito preocupada… Sei lá, fico logo a pensar ‘será que ele já não está vivo?’”, desabafa.
Trump, Putin e Zelensky entram num bar
Apesar de o desejarem, nenhum deles acredita que a guerra vai acabar rapidamente: “Pelo menos, mais quatro anos”, diz o boletim de previsões de Ilya, o mais concreto do grupo.
Tatyana é mais contida e prefere não se comprometer com um prazo. Não se coíbe, no entanto, de tentar explicar por que razão a paz ainda não chegou à Ucrânia.
“Só com ajuda da União Europeia e dos Estados Unidos. A Ucrânia, sozinha, não consegue resolver a situação”, afirma, num tom que Petrusya aproveita para também apontar o dedo aos parceiros da Ucrânia. “Esta não é só a nossa guerra. É de toda a Europa. Estamos a aguentar esta guerra”.
"Tenho amigos portugueses, já sei a língua. Está tudo bom. Tudo o que era mau, já esqueci."
Os últimos dias têm sido de muita atenção às notícias e de tentar perceber o que se pode ou não esperar das primeiras pistas para negociar a paz. Entre este núcleo duro, Donald Trump é um nome incontornável, é certo, mas muito pouco popular.
“Sem palavrões”, pede Ilya a Petrusya, quando lhe perguntamos o que diria ao presidente dos Estados Unidos. Petrusya não se quer comprometer com uma resposta, mas Anna assume a dianteira – não gosta nem de Trump nem das promessas que tem ouvido.
“Eu não acredito que vá ajudar assim muito. Não tenho confiança neles. Eles falam para as pessoas uma coisa e entre eles – os políticos, os presidentes – acontece outra coisa. Eles nunca vão dizer a verdade”.