Depois de lembrar que em vários países europeus, a opção tem sido prolongar o funcionamento das centrais nucleares, acredita que a decisão espanhola de as encerrar, tomada em 2019, deve encarar as atuais circunstâncias, e dessa forma, criar "um periodo mais largo de transição para substituir a energia nuclear pelas energias renováveis".
"A decisão de prorrogar tem de ser tomada em muitos poucos meses, porque senão, o encerramento será irreversível. É verdade que, de momento, estão a trabalhar apenas com o objetivo de encerramento, a não ser que lhes deem instruções diferentes. Dai esta preocupação, porque esta decisão tem de ser tomada já".
Arroyo acredita que as empresas proprietárias da central nuclear - com a Iberdrola, a Endesa e a Naturgy - estarão dispostas a manter a produção de eletricidade, mas de forma diferente: sem tantos impostos á produção, cujos sucessivos aumentos nos últimos cinco anos retiraram a rentabilidade do negócio. A Renascença contactou a Iberdrola, a maior proprietária da Central Nuclear de Almaraz, que se escusou a prestar declarações, remetendo-as para o Fórum Nuclear espanhol: uma associação civil que representa os interesses do sector, mantendo o peso da energia nuclear na matriz energética de Espanha. O Fórum também não mostrou disponibilidade para conceder uma entrevista.
Até agora, nenhuma das empresas proprietárias da Central manifestou a intenção de manter a produção de energia.
O presidente da Câmara de Comércio aponta o dedo ao governo, que acusa de se escudar no entendimento com as empresas elétricas quanto ao encerramento de Almaraz, que prevê que sejam elas, as empresas, a solicitar o prolongamento do funcionamento da central.
"Claro, as empresas dizem que pedem esse prolongamento, se houver um ajuste dos impostos para tornar as centrais viáveis. Porque senão não são viáveis".
A aposta clara é nas energias renováveis, segundo o presidente da Camara de Comércio. Mas isso requer uma transição, e até que ela se produza, "não podemos dar um tiro num pé na economia da Extremadura nem de Espanha", que também vai sofrer e que vai acabar a importar energia nuclear de França, que é o que vai acontecer.
"É absurdo tudo o que se está a passar", remata Arroyo, confessando que ninguém gosta que na sua terra desapareçam postos de trabalho e riqueza. Sobretudo "numa região e numa província como a de Cáceres, cujo principal problema é o despovoamento, em que as pessoas abandonam as nossas cidades e povoações, sobretudo nas zonas rurais".
O presidente da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Cáceres, garante existir um estudo que indica que "o despovoamento pode aumentar em 36 por cento", caso se verifique o encerramento da central nuclear.
A segurança nuclear
Haverá quem tenha a sua opinião quanto ao que é a energia nuclear. Mas essa perceção mudou muito nos últimos trinta anos.
"Hoje considera-se uma energia verde e limpa por parte da União Europeia, e que dá garantias de estabilidade e de fornecer eletricidade a um preço estável e competitivo. Há trinta anos considerava-se que o tema da segurança das centrais nucleares não estava garantido, que havia um período imenso até que fossem aprovadas. Creio que tudo isso se transformou", adianta Gabriel Arroyo.
Mas há quem não pense assim: Maximo Garcia é o presidente da Associação de Afetados pela Central Nuclear de Almaraz, que foi perdendo associados, ao longo dos anos.
"Já somos muito poucos. As pessoas têm medo. Ameaçaram muita gente, meteram-lhes medo, não queriam que falassem, ameaçaram toda a gente, desde políticos a empresários, a todos. Tentam calar toda a gente, silenciar tudo", garante Máximo, que assegura que as fugas radioativas continuam a ocorrer.
"Em janeiro, houve uma avaria no dia 9 e outra no dia 13. Duas numa semana. Eles não querem gastar o dinheiro a repará-la e por isso, há cada vez mais problemas", garante, ainda que as entidades oficiais, que asseguram o bom funcionamento da central, não tenham reportado qualquer incidente.
"Não gastam dinheiro na manutenção porque não lhes interessa que a central continue a funcionar". E assim sendo, Máximo é perentório.
"Sim, a central vai encerrar. O governo concorda com o encerramento, assim como as empresas, a quem não interessa produzir energia nuclear porque é cara, suja, radioativa e assassina. Produz muitos danos. Na Extremadura já produzimos 30 por cento da nossa energia com solares, com as eólicas e com a nuclear".
Francisco Ferreira, da Associação Ambientalista Zero, também não acredita que os dois reatores de Almaraz continuem em funcionamento para além do previsto.
"As exigências de segurança que atualmente uma central nuclear tem são muitíssimo maiores, comparativamente com aquelas que temos em Almaraz”. E por isso mesmo, diz, “será necessária uma grande remodelação para que ela continue a funcionar. E isso, obviamente, tem custos absolutamente incomportáveis que o governo de Espanha teria de algures cobrir, e não é essa a intenção".