A ativação do artigo 5.º - a superpoderosa cláusula que estipula que um ataque contra um membro da Aliança Atlântica é considerado um ataque contra todos – depende sempre de um pedido formal, com várias etapas, complexas e que exigem consenso.
Em primeiro lugar, tem de ser pedida, por parte do país atacado, uma consulta ao artigo 4.º que, na prática, vai obrigar a uma reunião entre as nações para discutir a ameaça à integridade territorial, independência política ou segurança. Só nesse encontro – no chamado Conselho do Atlântico Norte, o mais importante órgão de decisão política da aliança – é que se discute a ativação do artigo 5.º e o envio de elementos das forças de resposta da NATO para as zonas mais críticas.
“Nada na NATO obriga as nações a enviarem para as diferentes frentes de combate tudo o que têm. Aliás, é uma má prática. Uma boa prática é colocar o armamento certo em função das ameaças, garantido que existem reservas estratégicas. A guerra, mais tarde, pode multiplicar-se e as nações ficam desprotegidas”, salienta Poêjo Torres.
E há plano para os 2% do PIB?
Por um lado, a ameaça híbrida, por outro, o compromisso público de colocar o investimento em defesa os 2% do PIB ainda este ano. O governo é cada vez mais pressionado por vozes no setor para apresentar um plano de investimento em defesa, que deve chegar apenas depois da cimeira da NATO.
De zero a dez, diria que a probabilidade de se concretizar uma ameaça é um oito. Só nos falta a ameaça física, que espero que não cheguemos lá
Para Manuel Poêjo Torres, o essencial é que o governo se foque em construir uma estratégia que permita aumentar as capacidades do país em várias frentes, nomeadamente na defesa antiaérea, antimíssil e da costa portuguesa.
“Fazia a diferença termos radares de última geração? Fazia. Fazia a diferença termos capacidades de dissuasão com bombardeiros estratégicos furtivos? Fazia. Fazia a diferença termos sistemas de mísseis, sistemas antimísseis e antiaéreos de última geração? Claro que fazia”, defende, pedindo também um investimento especial em drones que permitam à Marinha “neutralizar ameaças”.
Na perspetiva de Francisco Proença Garcia, a prioridade também tem de passar pelos recursos humanos militares. Além de um “vencimento digno”, as condições de trabalho nas forças armadas devem ser pensadas de uma forma mais ampla, pensando na “motivação, principalmente dos jovens, através de missões internacionais”.
Quanto à eventual reintrodução do serviço militar obrigatório, este académico recusa que essa seja uma possibilidade, salientando que “precisamos de tropas profissionais”. Ainda assim, o sistema atual, apenas com o Dia da Defesa Nacional, é “para mudar”.