Depois de Pedrogão, o medo
A opção de Mário Bruno enviar relatórios de ponto de situação via email para o CDOS, enquanto o SIRESP esteve em baixo, é um reflexo direto da tragédia de Pedrogão Grande em 2017, onde morreram 66 pessoas. Esta foi a primeira vez que o comandante dos Bombeiros Voluntários de Alvaiázere tomou tal escolha.
Porquê? “Não me posso esquecer que tenho um colega meu a braços com problemas na Justiça, porque não passava pontos de situação, dizia que não passava pontos de situação. E ao que sabemos muitas vezes passava e a fita do tempo foi cortada. Portanto, para isso que não aconteça novamente, nós comandantes também temos que nos defender.”
Mário refere-se a Augusto Arnaut, antigo comandante dos bombeiros voluntários de Pedrogão Grande, que está a ser julgado por 63 crimes de homicídio e 44 de ofensa à integridade física, todos por negligência. Em maio deste ano, o Ministério Público defendeu que fosse condenado a uma pena mínima de cinco anos de prisão efetiva.
Para o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, desde Pedrogão Grande gerou-se um clima de medo. “É normal que qualquer comandante se sinta com algum receio que, a ocorrer uma situação de averiguação ou imputação de responsabilidades, possa vir a acontecer aquilo que não devia a acontecer. Quem devia estar no tribunal, quem se devia ter chegado à frente é o sistema”, diz.
Segundo António Nunes, a diretiva DECIR 2022 – que define a hierarquia de responsabilidades no combate aos incêndios rurais - é deficitária, por dar o controlo do dispositivo de incêndios à Proteção Civil e não salvaguardar os interesses dos bombeiros.
“Não nos esqueçamos que no incêndio em Murça já houve em ponto pequeno tudo aquilo que se passou em 2017. Houve incêndios de grande intensidade, houve atrasos na montagem do posto de comando, houve um casal que ao fugir das chamas teve um acidente e morreu. Não houve com a dimensão de 2017, mas já houve”, atira.
A Renascença questionou o SIRESP sobre as falhas relatadas, mas, até à hora de publicação desta notícia, não obteve resposta.