Salesianos de Lisboa são a melhor escola nas Artes Visuais. Mas onde vive o ensino artístico em Portugal? Veja o mapa

Há mais 50 escolas no Ranking das Artes Visuais e a média geral subiu mais de um valor. Numa lista sempre dominada por escolas públicas, é uma privada que chega ao primeiro lugar. “A pequena família das Artes” dos Salesianos de Lisboa ensina os miúdos como pequenos profissionais.

04 abr, 2025 - 00:00 • Salomé Esteves



Ranking das Escolas. Salesianos de Lisboa são a melhor escola nas Artes Visuais. Ilustração: Salomé Esteves/RR
Ranking das Escolas. Salesianos de Lisboa são a melhor escola nas Artes Visuais. Ilustração: Salomé Esteves/RR

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Na casa das artes dos Salesianos de Lisboa, é mais um dia de meter as mãos na massa. Os alunos do 10.º ano do curso de Artes Visuais estão a preparar um mural em alto relevo com traço de Almada Negreiros. Cada aluno é uma peça e cada peça é singular.

É também esta a filosofia do ensino das Artes Visuais nos Salesianos de Lisboa que, este ano, chegaram ao primeiro lugar no ranking para as Artes Visuais da Renascença, com uma média de 14,79 valores.

Mas neste ranking, as contas são feitas a outras disciplinas. Pelo terceiro ano consecutivo, o ranking das Artes Visuais ordena as escolas do ensino secundário com mais de 50 provas realizadas nos exames nacionais de Geometria Descritiva, Desenho e História da Cultura e das Artes.

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Para José Morais, diretor dos Salesianos de Lisboa, o curso de Artes Visuais é uma mais valia para todos: não só para os alunos do curso, como para a cultura da escola. Todos os alunos — das humanidades às ciências e às artes — trabalham em conjunto, num “contexto global”.

“O curso de artes visuais fica muito mais rico por trabalhar com outros colegas, que têm outros objetivos. E vice-versa", acrescenta José Morais, em conversa com a Renascença.

Nesta escola, em que a lista de espera é longa, os alunos de Artes Visuais são tratados como os profissionais que um dia serão: há projetos reais e criam-se pequenos ateliês multidisciplinares, em que cada aluno tem o seu papel.

José Morais explica que há sempre a preocupação de atender “ao potencial e às singularidades de cada um”. E é assim, acrescenta, que se cria uma “relação afetiva muito próxima com os alunos”.

“Os miúdos” da “pequena família das Artes” trabalham competências humanas, como a “capacidade, a segurança, a confiança, e às vezes até a literacia artística” para aprender “a lidar com a adversidade”, explica António Martins, o professor responsável pelo curso de Artes Visuais.


Alunas de Artes Visuais dos Salesianos de Lisboa trabalham num projeto de cerâmica. Foto: Salomé Esteves/RR
Alunas de Artes Visuais dos Salesianos de Lisboa trabalham num projeto de cerâmica. Foto: Salomé Esteves/RR

O curso, inspirado nas “virtudes e nos defeitos” do ensino profissional, aposta em “mais ferramentas” e em “níveis de rigor, exigência e profundidade” em todas as matérias das Artes Visuais. Porque para o professor, que arquitetou o curso de Artes Visuais dos Salesianos há 25 anos, a aprendizagem começa com o corpo docente. “Para nós é muito importante também, como profissionais que estamos a formar gerações, termos a capacidade de nos transmutarmos constantemente”, explica António Martins em conversa com a Renascença.

“Para nós é muito importante também, como profissionais que estamos a formar gerações, termos a capacidade de nos transmutarmos constantemente”, diz o professor António Martins

Este ano, as públicas abrem espaço às privadas nas Artes Visuais

Apesar de nunca terem chegado ao primeiro lugar do ranking para as Artes Visuais, os Salesianos de Lisboa sempre foram a escola privada com médias mais altas. Mas o colégio não está sozinho. Numa lista sempre dominada por escolas públicas, este ano, também a segunda classificada é privada. O Externato Marista de Lisboa entra pela primeira vez no ranking das Artes Visuais, com 63 provas e 14,71 de média total.

A primeira escola pública neste ranking é a Escola Secundária do Restelo, presença assídua nas melhores escolas em Artes Visuais, com 14,68 valores de média.

Na verdade, as escolas privadas são discretas no ranking das Artes Visuais. Mesmo nos dados brutos do Ministério da Educação, onde há 127 escolas privadas, apenas quatro oferecem cursos de Artes Visuais no ensino secundário.


Nos Salesianos de Lisboa, as condições do ensino artístico estão acima da média do tradicional ensino das Artes Visuais em Portugal. À semelhança do que acontece nas escolas artísticas de Soares dos Reis, no Porto, e António Arroio, em Lisboa, os alunos têm acesso a formação em contexto de trabalho, oficinas equipadas para várias técnicas e a tecnologia diferenciadora. Mas esta não é a realidade para grande parte das 142 escolas no Ranking das Artes Visuais.

Ainda assim, as contas da Renascença mostram que, todos os anos, há mais alunos inscritos nas provas de Geometria Descritiva, Desenho e História da Cultura e das Artes. Nesta edição, há mais 50 escolas no ranking do que no ano passado. Além disso, a média também subiu mais de um valor: de 13,16 para 14,79.


Nos Salesianos de Lisboa, os alunos do secundário do curso de Artes Visuais têm um espaço próprio para desenvolver os seus projetos. Foto: Salomé Esteves/RR
Nos Salesianos de Lisboa, os alunos do secundário do curso de Artes Visuais têm um espaço próprio para desenvolver os seus projetos. Foto: Salomé Esteves/RR

Uma subida geral que vem de subidas em todas as provas

A média mais alta no exame de História da Cultura e das Artes disparou quase quatro valores de 13,4 (Colégio de Gaia em 2023) para 17,16, na Escola Secundária de Barcelos.

Na Geometria Descritiva, também se verificou uma subida, mas menos acentuada: de 13,8 valores na Escola Secundária de Santo Tirso, no ano passado, para 14,76 na Escola Secundária Professor José Augusto Lucas, em Oeiras.

E na prova de Desenho, os alunos também tiveram melhores resultados, fazendo saltar a média de 16,71 para 17,95. Tanto na última edição como nesta quem obteve os melhores foram os alunos da Escola Básica e Secundária de Ermesinde, com 19 provas.

A Soares dos Reis e a António Arroio, as duas escolas artísticas das artes plásticas em Portugal, tiveram prestações muito diferentes nesta edição. Enquanto a Escola Artística António Arroio trepou 10 lugares neste ranking, mesmo com 641 provas (o número mais alto da lista), a Soares dos Reis caiu nove lugares, para o 28.º. Na escola do Porto, os alunos fizeram 523 provas.

Onde se aprendem artes em Portugal?

Além destas duas escolas, os dados brutos do Ministério da Educação listam quatro outras escolas artísticas, mas especializadas no ensino das artes performativas: a Escola Artística de Música e de Dança do Conservatório Nacional de Lisboa, a Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Braga, e a Escola Artística do Conservatório de Música do Porto.

Mas o ensino das artes acontece muito além destas seis escolas e nem todas aquelas que oferecem cursos de Artes Visuais e de Artes Performativas chegam ao ranking das Artes Visuais da Renascença - por terem provas a menos ou por serem, por exemplo, escolas profissionais.

Ao todo, em Portugal, 93 escolas oferecem cursos artísticos do 10.º ao 12.º ano. O que quer dizer que nas restantes escolas com provas de Geometria Descritiva, Desenho e História da Cultura e das Artes, os alunos se autopropuseram para as fazer.

Consulte o mapa interativo para explorar onde se ensinam Artes Visuais e Artes Performativas, no ensino secundário, em Portugal.


Enquanto Lisboa, Porto, Braga e Coimbra têm ampla oferta de ensino tanto nas artes visuais como nas artes performativas, há distritos em que os alunos não têm essa opção em nenhuma escola. Estudantes do ensino secundário de Bragança, Guarda, Santarém e Vila Real que queiram ter uma educação artística, têm de a procurar nos distritos vizinhos.


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