Ao contrário dos outros casais jovens que já têm famílias numerosas, Manuel tem apenas um filho pequeno. O bairro das Pedreiras é a sua casa desde 2006. Veio com os pais e acabou por ficar quando casou. Como muitos outros na comunidade, "à medida que iam casando [ele e os irmãos] iam construindo barracas".
Com o filho quase agarrado às suas pernas, junto ao armário onde está a televisão, Manuel confessa que ambiciona ter uma casa e que o seu objetivo é trabalhar para dar uma vida melhor à família. "Quero uma vida em que chego a casa e tenho a minha mulher e os meus filhos com higiene e sem correr perigos."
É precisamente a falta de segurança e a "sobrevivência" do filho que diz ser o mais difícil. Lamenta não conseguir dar-lhe "estabilidade para ele brincar" num local cheio de "cobras, ratos e até cavalos".
Portugal é o país onde os cidadãos ciganos mais se sentem discriminados
De acordo com um inquérito da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (RFA), divulgado no início de outubro, 63% das pessoas da comunidade cigana em Portugal já se sentiu discriminada. Valor que aumentou em 1% entre 2021 (ano em que foi realizado o último estudo) e 2024.
Um dos pontos onde os ciganos afirmam ter sido mais discriminados foi na procura por trabalho: 70% diz ter experienciado algum tipo de tratamento desigual no período em que procurava emprego.
O presidente da Associação de Mediadores Ciganos, Prudêncio Canhoto, desde 2014 tenta fazer a ponte entre a comunidade e a Câmara Municipal de Beja. À Renascença diz que "nenhum cigano" está a trabalhar, apesar da procura. Prudêncio sublinha que a discriminação sobre pessoas ciganas tem aumentado desde que surgiu o partido Chega. "O Chega é que está a mexer muito com isto. Sempre houve pessoas contra, mas agora há mais. Estavam escondidas", lamenta.