Apesar da insatisfação, está mais inclinado para participar nas eleições, como sempre fez. E agora, aos 59 anos, prepara-se para virar à direita: se votar não tem dúvidas de que será no Chega — ou “no partido do Ventura”, como o descreve.
Quando afirma que é em Ventura que quer votar, os amigos riem-se. Mário confessa que André Ventura “lhe parece diferente” e que, no fundo, “também não sabe se irá fazer diferente dos outros”. Conta que, como ele, a maioria das pessoas na terra vota no Chega porque “estão fartas do PS e do PSD”.
Enquanto ouve as justificações de Mário, José Condessa avança com aquela que acredita ser a maior razão para esta mudança: a comunidade cigana. Para o agricultor, “a culpa é do PS", depois de a autarquia ter andado a "distribuir cabazes pela comunidade cigana", dando a entender que a comunidade é beneficiada. Todos os amigos concordam com o militante da CDU.
“Como é que esta gente vota na direita, se tiveram um regime de direita quase 50 anos em cima?”, pergunta Armindo Casimiro, 90 anos, que sempre votou CDU
Mais calmo, na ponta do banco, está José Miguel. Tem 80 anos e votou sempre no Partido Socialista. Diz que não lhe interessa quem está no partido, porque será sempre “simpatizante dos socialistas”. “Eu gosto do PS e pronto”, afirma.
José Miguel acaba por sair quando o tema muda para a guerra na Ucrânia, que José Condessa acredita que tenha levado à perda de votos do PCP, devido à associação do partido com a Rússia. No lugar vago senta-se mais um comunista, atento à conversa: Armindo Casimiro tem 90 anos, é bibliotecário reformado e sempre votou na CDU.
Diz que também não compreende o crescimento do Chega em Moura. “Como é que esta gente vota na direita, se tiveram um regime de direita quase 50 anos em cima?”, questiona.
Armando ainda se recorda do tempo de ditadura e das dificuldades que passou para comer e comprar roupa. “Trataram tão mal e eles votam na direita.”
Interrompido por Mário, aquele que está inclinado a votar no Chega, Armando fica irritado e inicia-se um bate-boca sobre pólos opostos — esquerda versus direita —, até cada um ir à sua vida e o banco ficar vazio.
Não há consensos sobre em que partido votar nas eleições do próximo mês, mas todos concordam que o Alentejo “está esquecido, completamente”.