Num Alentejo que se sente "completamente esquecido", o voto é sobretudo "antissistema"

O Chega continua a ganhar espaço numa região de "total esquecimento". A maioria vota no partido de André Ventura por "desilusão" com a esquerda ou pelo "discurso sobre o mundo rural". Em Elvas e Moura, os resistentes à esquerda não compreendem a mudança política na região e culpam a comunidade cigana. Numa viagem pelo Alentejo, encontramos um antigo vizinho de Luís Montenegro que está desiludido com o primeiro-ministro e um imigrante que vive em Portugal há 13 anos, mas não pode votar.

06 mai, 2025 - 07:30 • Filipa Ribeiro



No Alentejo, os "partidos de esquerda são uma desilusão completa"

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Com o sol no alto a indicar que já passa da hora de almoço, José Condessa, Mário Gertrudes e José Miguel estão sentados à sombra num dos bancos de madeira junto à Câmara Municipal de Moura, no distrito de Beja.

Três amigos que há um ano votavam à esquerda, desta vez estão separados no espectro político: um deles — Mário Gertrudes, sentado ao meio — vai votar no Chega, enquanto José Condessa se manterá fiel à CDU e José Miguel ao PS.

À esquerda no banco está José Condessa. Militante do PCP há mais de 40 anos, afirma que votou "sempre na CDU e a família também”. O agricultor, quase reformado com 67 anos e natural de Moura, não consegue compreender como é que a cidade — que era considerada comunista — está a passar tão repentinamente para outro extremo.

“Não consigo perceber. Saem de um ponto para o outro, deixam completamente a esquerda para irem para o extremo direito”, lamenta, olhando para o amigo Mário Gertrudes, que está sentado ao seu lado e que irá votar no Chega, depois de no ano passado ter votado no Bloco de Esquerda.

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Mário confessa que não está muito convencido a ir votar. É provável que vá e, se for, vai votar no Chega. Depois do que aconteceu nos últimos anos na política, e com as recentes polémicas, acredita que “não vale a pena” ir votar.


Os três amigos: José Condessa, que votará CDU, à esquerda; Mário Gertrudes, que pretende votar Chega, ao meio; e Armando Casimiro, que votará CDU, à direita. Foto: Filipa Ribeiro/RR
Os três amigos: José Condessa, que votará CDU, à esquerda; Mário Gertrudes, que pretende votar Chega, ao meio; e Armando Casimiro, que votará CDU, à direita. Foto: Filipa Ribeiro/RR

Apesar da insatisfação, está mais inclinado para participar nas eleições, como sempre fez. E agora, aos 59 anos, prepara-se para virar à direita: se votar não tem dúvidas de que será no Chega — ou “no partido do Ventura”, como o descreve.

Quando afirma que é em Ventura que quer votar, os amigos riem-se. Mário confessa que André Ventura “lhe parece diferente” e que, no fundo, “também não sabe se irá fazer diferente dos outros”. Conta que, como ele, a maioria das pessoas na terra vota no Chega porque “estão fartas do PS e do PSD”.

Enquanto ouve as justificações de Mário, José Condessa avança com aquela que acredita ser a maior razão para esta mudança: a comunidade cigana. Para o agricultor, “a culpa é do PS", depois de a autarquia ter andado a "distribuir cabazes pela comunidade cigana", dando a entender que a comunidade é beneficiada. Todos os amigos concordam com o militante da CDU.


“Como é que esta gente vota na direita, se tiveram um regime de direita quase 50 anos em cima?”, pergunta Armindo Casimiro, 90 anos, que sempre votou CDU

Mais calmo, na ponta do banco, está José Miguel. Tem 80 anos e votou sempre no Partido Socialista. Diz que não lhe interessa quem está no partido, porque será sempre “simpatizante dos socialistas”. “Eu gosto do PS e pronto”, afirma.

José Miguel acaba por sair quando o tema muda para a guerra na Ucrânia, que José Condessa acredita que tenha levado à perda de votos do PCP, devido à associação do partido com a Rússia. No lugar vago senta-se mais um comunista, atento à conversa: Armindo Casimiro tem 90 anos, é bibliotecário reformado e sempre votou na CDU.

Diz que também não compreende o crescimento do Chega em Moura. “Como é que esta gente vota na direita, se tiveram um regime de direita quase 50 anos em cima?”, questiona.

Armando ainda se recorda do tempo de ditadura e das dificuldades que passou para comer e comprar roupa. “Trataram tão mal e eles votam na direita.”

Interrompido por Mário, aquele que está inclinado a votar no Chega, Armando fica irritado e inicia-se um bate-boca sobre pólos opostos — esquerda versus direita —, até cada um ir à sua vida e o banco ficar vazio.

Não há consensos sobre em que partido votar nas eleições do próximo mês, mas todos concordam que o Alentejo “está esquecido, completamente”.


Gregória Serez votou no PS, mas quer "dar mais tempo" a Luís Montenegro e desvaloriza o caso da empresa familiar. Foto: Filipa Ribeiro/RR
Gregória Serez votou no PS, mas quer "dar mais tempo" a Luís Montenegro e desvaloriza o caso da empresa familiar. Foto: Filipa Ribeiro/RR

A máxima é partilhada mais à frente, a uns metros dali. Num salão de beleza, um grupo de clientes divide-se entre o PS e o PCP, mas a proprietária conta que este ano vai trocar o PS pela AD.

Gregória Serez “quer dar mais tempo" a Luís Montenegro e desvaloriza o caso da empresa familiar com o facto de que “toda a gente tem direito a uma vida e a um passado”. A esteticista adianta que não consegue acompanhar toda a a atualidade, mas que não confia em Pedro Nuno Santos.

Em tom murmurante, usa o mesmo argumento utilizado pelo grupo de amigos no banco de rua. “O Chega cresce por causa da comunidade cigana daqui”, diz.

No ano passado, o Chega foi a segunda força política mais votada em Moura, com 30,45% dos votos. Entre mais de seis mil pessoas que foram votar no concelho, duas mil colocaram uma cruz no partido de André Ventura. Em 2022, o partido tinha recebido pouco mais de mil votos — cerca de 18%.

Nas últimas eleições legislativas, neste concelho de Beja, o PS venceu o Chega por cerca de 200 votos, quando em 2022 tinha recebido quase mais mil e quinhentos que o partido de direita.

Voltando ao centro da cidade raiana, encontramos um jovem que ajudou nesta aproximação do Chega a primeira força política em Moura.

Gonçalo tem 31 anos e está numa esplanada com amigos, a beber uma cerveja ao final da tarde. Votou pela primeira vez no ano passado, para validar o Chega, e este ano vai voltar a votar no partido de André Ventura.


Gonçalo tem 31 anos e votou pela primeira vez no ano passado, para validar o Chega. Este ano vai voltar a votar no partido de André Ventura. Foto: Filipa Ribeiro/RR
Gonçalo tem 31 anos e votou pela primeira vez no ano passado, para validar o Chega. Este ano vai voltar a votar no partido de André Ventura. Foto: Filipa Ribeiro/RR

Natural de Moura, é agricultor e defende que o Chega é o único partido “que está a puxar mais para o mundo rural e a favor das touradas”.

Apesar dos casos polémicos no partido, desvaloriza o que aconteceu e realça a atitude de André Ventura. Diz que em todos os partidos “acontece porcaria” e que Ventura tinha dito que “iria atuar e atuou”.


Entre as últimas duas eleições legislativas, o Chega passou de ser a terceira força política em Elvas para se tornar o principal partido. São Vicente e Ventosa foi a freguesia onde esta subida mais se notou.

O jovem avança que “confia em André Ventura”, apesar de saber que nem todos os deputados que venham a ser eleitos são como o líder do partido.

Para Gonçalo, o Chega não é de extrema direita: o rótulo vem do discurso e do tom utilizado por André Ventura e pelo comportamento de alguns deputados no parlamento.


Os indecisos nem sequer vão votar ou são os eleitores "mais informados"?


A desilusão e o efeito Mercadona dos novos partidos

O investigador no ISCTE, João Carvalho, destaca que o crescimento do Chega resulta principalmente da mobilização da abstenção. O investigador doutorado em Ciência Política pela universidade britânica de Sheffield realça que nos casos de Beja, Portalegre e Évora "é possível ver que há uma relação entre a redução da abstenção e o aumento do voto no Chega".

João Carvalho sublinha à Renascença que o "declínio eleitoral dos partidos de esquerda dos últimos anos" aconteceu no Alentejo "já antes de o Chega aparecer" e dá nota de que a região é essencialmente movida por voto "antissistema". E refere ainda que há investigações científicas já realizadas onde é possível perceber que "o voto do Chega a nível nacional tem sido mais forte nos distritos em que havia menos voto nos partidos mainstream [PS e PSD]".


"É o efeito Mercadona: um supermercado novo que vem com uma moldura que já existia em muitos supermercados, mas que capta a preferência por ser um projeto novo, com propostas diferentes"

No caso do Alentejo, o investigador destaca que o partido antissistema mais votado era o PCP. João Carvalho acredita que a perda de votos no Partido Comunista está relacionado com o facto de o PCP ter apoiado a geringonça e providenciado apoio parlamentar ao governo minoritário do PS. "As pessoas que consideram que os políticos são corruptos e que estavam mobilizados pelo voto antissistema, acabam por desistir e afastam-se do partido [PCP]", diz.

No ano passado, o Chega quadruplicou o número de deputados em relação a 2022 e cresceu 11 pontos percentuais no número de votos. Um crescimento que se deu "num contexto bastante favorável ao discurso populista", segundo João Carvalho, "devido ao caso da demissão do antigo primeiro-ministro, António Costa, por uma investigação de corrupção, ao caso da Madeira e das gémeas luso-brasileiras". Este ano, de acordo com o investigador, "o contexto não é tão favorável" porque não há investigações criminais sobre Luís Montenegro e o caso Spinumviva.

Quanto aos casos judiciais conhecidos nos últimos meses, que envolviam deputados e membros do Chega, o especialista em Ciência Política diz que "nunca vão afetar o apoio eleitoral". João Carvalho defende que o eleitorado do Chega "não é facilmente desmobilizado", realçando que "os partidos de extrema-direita, quando desaparecem, é por conflitos internos e não porque o eleitorado desiste".


João Carvalho, investigador e especialista em Ciência Política no ISCTE. Foto: DR
João Carvalho, investigador e especialista em Ciência Política no ISCTE. Foto: DR

A única forma de haver uma desilusão neste eleitorado, de acordo com o investigador, "era caso o Chega se aproximasse do arco do poder, ou fizesse parte de uma coligação", pois afastaria o voto de protesto e antissistema.

Na reportagem da Renascença, os eleitores foram apontando a comunidade cigana como culpa para o crescimento do Chega, mas os que assumiram o voto no partido justificaram com a descrença nos outros partidos. Ora, o investigador João Carvalho também sublinha que o Chega "é mais alimentado pelo sentimento antissistema e anti-partidário do que pelo sentimento anti-imigração".

João Carvalho dá como exemplo os novos passos do PSD sobre a imigração. "O PSD procura capturar o voto do eleitorado do Chega através de medidas contra a imigração, mas a perceção da corrupção está disseminada e eu não espero que medidas anti-imigração reduzam a mobilização do Chega", diz, destacando que "a campanha de André Ventura é associar Luís Montenegro a José Sócrates e não Montenegro à invasão de imigrantes".

O investigador sustenta que "não será uma surpresa" se em maio o Chega conseguir aumentar o eleitorado. "Ainda tem muitos abstencionistas para ir buscar, que são pessoas movidas pelo descontentamento com a política e sentimentos anti-partidários". João Carvalho destaca que o eleitorado associado a partidos com as características do Chega "não são desmobilizados por declarações como as de André Ventura, que disse ter uma casa de 30 metros quadrados, quando afinal tem uma casa de 70 metros quadrados".

João Carvalho associa ainda o fenómeno dos novos partidos ao mundo dos hipermercados. "É o efeito Mercadona: um supermercado novo que vem com uma moldura que já existia em muitos supermercados, mas que capta a preferência por ser um projeto novo, com propostas diferentes."


Em Elvas, lamenta-se o "esquecimento total" do Alentejo

A 130 quilómetros de Moura, e a uma viagem de quase duas horas de carro atravessando o Alqueva, está a freguesia de São Vicente e Ventosa de Elvas, no distrito de Portalegre. Foi a freguesia onde o Chega conseguiu o melhor resultado nas últimas legislativas e este ano não deverá ser diferente.

Na aldeia, o Chega teve 49% dos votos e o apoio é percetível logo à entrada. A chegar pela Estrada Nacional 246, considerada uma das mais bonitas do Alentejo e do país, somos recebidos por uma pastelaria com mini-mercado onde o proprietário, Mário Gonçalves, é militante do Chega.

Com 37 anos, já teve um passado na política. Em 2017, foi candidato pelo CDS-PP à Câmara Municipal de Monforte, de onde é natural, mas em 2023 passou a ser militante do Chega. Acredita que é necessário dar uma oportunidade a André Ventura: "Não vejo outra alternativa e temos que dar uma oportunidade a quem nunca lá esteve".

Ao mesmo tempo que Mário defende o voto no partido Chega, quem está pela pastelaria a tomar o pequeno-almoço acena com a cabeça.

O dono da pastelaria São Vicente considera que o país "anda desgovernado há mais de 50 anos por vários partidos de esquerda e direita como PS, Bloco de Esquerda, PCP e PSD. Mário Gonçalves reconhece, ainda assim, que não sabe se André Ventura vai conseguir fazer o que promete, mas rejeita qualquer ideia de que os casos conhecidos que envolvem membros do Chega afetem a credibilidade do partido.

Mário recorre de imediato à polémica sobre Miguel Arruda, o deputado suspeito de roubar malas, para defender que não se pode comparar com "outros casos tão graves nos outros partidos", defendendo que no PS, PSD e Bloco de Esquerda tem havido "muita corrupção e compadrio" e que, por isso, "não se pode dizer que o Chega é mau".


Mário Gonçalves acredita que o país "anda desgovernado há mais de 50 anos" e culpa PS, Bloco de Esquerda, PCP e PSD. Foto: Filipa Ribeiro/RR
Mário Gonçalves acredita que o país "anda desgovernado há mais de 50 anos" e culpa PS, Bloco de Esquerda, PCP e PSD. Foto: Filipa Ribeiro/RR

Entre as últimas duas eleições legislativas, o Chega passou de ser a terceira força política em Elvas para se tornar o principal partido — e São Vicente e Ventosa foi onde esta subida mais se notou.

No total das freguesias, o partido liderado por André Ventura teve mais de quatro mil votos em Elvas — mais cerca de 600 que o PS —, o que representou 36,53% dos votos.


"Votei nos partidos de esquerda, mas neste momento são uma desilusão completa", lamenta Domingos Passareiro.

À espera do café, Domingos Passareiro um dos clientes da pastelaria, reforça que "pelo menos André Ventura vai correndo com eles de lá para fora". O pequeno empresário do sector da agricultura defende que as pessoas "não têm escrito na testa que são corruptos" e que a diferença é que no Chega os deputados "são afastados de imediato pelo líder do partido", enquanto que "os outros não são afastados, chegando a ser protegidos".


Benavente. Viagem ao interior do votante que passou do PS para o Chega em dois anos


Domingos, de 58 anos, perde a conta aos anos em que a junta de freguesia é do PS. Confessa que sempre foi simpatizante de partidos de esquerda e que foi a "desilusão" que o empurrou até ao Chega há dois anos. "Votei nos partidos de esquerda, mas neste momento são uma desilusão completa", afirma por duas vezes.

Natural de São Vicente e Ventosa, admite que Luís Montenegro o deixou "bastante insatisfeito" e que é o descontentamento das pessoas com a corrupção no PS e no PSD que as leva a votar no Chega.

Domingos Passareiro critica o até agora primeiro-ministro por não ter impedido a queda do Governo. "Mete a moção de confiança sabendo o resultado e agora quer apontar o dedo ao PS e ao Chega quando a culpa foi dele", afirma, acrescentando que Montenegro deve dar mais esclarecimentos sobre a sua empresa familiar.


Domingos Passareiro confessa que sempre apoiou partidos de esquerda, mas que são uma "desilusão". Foto: Filipa Ribeiro/RR
Domingos Passareiro confessa que sempre apoiou partidos de esquerda, mas que são uma "desilusão". Foto: Filipa Ribeiro/RR

Durante a conversa, Mário Gonçalves reforça que nas autárquicas "é diferente", uma vez que, nas eleições locais, vota sempre na pessoa e no trabalho demonstrado.

Ainda com Domingos Passareiro na pastelaria, lamenta o "esquecimento total" do Alentejo. Naquele espaço todos concordam que a região sempre foi esquecida e que há falta de emprego: "As pessoas de Elvas vão para Espanha trabalhar".

Para o dono da pastelaria, a única coisa que o faria mudar o voto seria o regresso de Pedro Passos Coelho ao PSD.

O sossego da aldeia, em Elvas, parece desaparecer quando se pergunta sobre o Governo. A insatisfação não deixa ninguém indiferente. Atravessando a rua principal, encontramos o único cartaz sobre política. É do partido Chega, ainda das eleições do ano passado, e está já bastante desgastado.

Numa praceta, junto a uma fonte com água, fica o restaurante Pompílio, onde trabalha um conterrâneo do primeiro-ministro. Jaime Pereira tem 60 anos e vive há 40 no Alentejo, mas é natural de Espinho, onde os pais foram vizinhos dos pais de Luís Montenegro.


Jaime Pereira tem votado quase sempre no PSD e é natural de Espinho, onde os seus pais são vizinhos dos pais de Luís Montenegro. Foto: Filipa Ribeiro/RR
Jaime Pereira tem votado quase sempre no PSD e é natural de Espinho, onde os seus pais são vizinhos dos pais de Luís Montenegro. Foto: Filipa Ribeiro/RR

Foi na coligação do atual primeiro-ministro que votou no ano passado e tem votado quase sempre no PSD, mas não deixa de estar desiludido: "Apesar de ter apresentado algumas promessas que conseguiu concretizar, deixou cair o Governo quase propositadamente", lamenta.

Desta vez, ainda não sabe se vai votar na AD novamente, mas irá certamente às urnas. "Senão votar no partido que votei sempre, voto em branco", garante.

Apesar de ser um conhecido de quando era jovem de Luís Montenegro, e de sempre tê-lo considerado como alguém de confiança, confessa que não é isso que lhe garante o voto no primeiro-ministro. Jaime assegura, com todas as polémicas sobre os rendimentos e casas, que a família de Montenegro "já tinha posses" e que todos têm o direito a ser "considerados inocentes".

Quanto à realidade da região, o funcionário no restaurante considera que "está a falhar informação" para as pessoas que votam no Chega e confessa que o aumento do apoio na direita resulta do discurso de "André Ventura sobre os ciganos em que as pessoas acreditam".


Yassien está em Portugal há 13 anos e continua à espera de nacionalidade portuguesa. Ainda não vai votar nesta eleições. Foto: Filipa Ribeiro/RR
Yassien está em Portugal há 13 anos e continua à espera de nacionalidade portuguesa. Ainda não vai votar nesta eleições. Foto: Filipa Ribeiro/RR

Ao lado de Jaime, a servir às mesas e a atender no balcão está Yassien, um jovem marroquino que veio para Portugal há 13 anos. Diz que "nunca teve um dia de desemprego" e que continua à espera da nacionalidade. Como não é ainda português, não vai conseguir votar nestas eleições.

À reportagem da Renascença, Yassien confessa que não tem estado muito atento à política, mas que nas redes sociais acompanha os vídeos do Chega, com quem concorda em alguns pontos e discorda noutros.

O jovem considera que "tem sentido" o discurso do Chega a defender que os imigrantes devem trabalhar e "dar um bom exemplo", mas que não se deve fechar o país. "Portugal sempre foi um país de emigração, muitos portugueses emigraram e por isso as oportunidades têm que ser para todos", ressalva.

Já nas entradas, à espera do almoço, estão José e Ana Pinheiro, um casal que vive em Fronteira, o concelho de Portalegre onde o PS continua a ter mais expressão. José é a prova disso: sempre votou no PS e assegura que este ano não fará diferente.


José Pinheiro Foto// Filipa Ribeiro RR
José Pinheiro Foto// Filipa Ribeiro RR

Enquanto a mulher ainda não sabe em quem vai votar, engrossando o grupo dos indecisos, José defende Pedro Nuno Santos como o único com provas dadas como governante e "experiência executiva" e confessa ter sido surpreendido com o caso da empresa familiar e das casas de Luís Montenegro. "Sabia que era advogado, mas ficamos a saber que afinal é multimilionário", ironiza.

José Pinheiro considera que o atual primeiro-ministro deve dar mais esclarecimentos e que a sua situação não deve ser comparada com a de Pedro Nuno Santos: "A empresa do pai de Pedro Nuno Santos é um negócio a sério, já era grande. Nada tem em comum com a situação de Montenegro. Isto não é ter vida própria, é ter um esquema para ser financiado, que é inadmissível", defende.

José Pinheiro conta ainda ter ficado surpreendido com o crescimento do Chega no distrito de Portalegre, confessando esperar "que depois dos últimos casos no partido, as pessoas abram os olhos".

No Alentejo, o vento continua a soprar com calma, mas a viragem política da esquerda para a direita nas legislativas parece ter margem para evoluir.


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