Justiça. Acabar com os “brandos” costumes
No entender do Chega, a justiça portuguesa “é branda”, especialmente perante crimes graves como a violência doméstica, os crimes sexuais ou os crimes económicos. (Ao mesmo tempo que defende um “Estado de Direito”, recusa “o princípio da reinserção social como eixo da pena” – minando um dos pilares da justiça democrática.)
Como resposta, então, propõe medidas como a introdução da pena de prisão perpétua com possibilidade de revisão após o cumprimento de parte da pena.
Outra ideia é a introdução da castração química de carácter temporário para agressores sexuais reincidentes, defendida como uma “sanção acessória de tratamento para a inibição da líbido”. (Estas medidas só podem ser concretizadas por meio de uma revisão Constitucional; mais adiante, abordaremos esse tópico).
Além do agravamento das penas, o partido quer rever o regime de prescrição de crimes, particularmente os de abuso de menores e os relacionados com corrupção, para impedir que “megaprocessos se arrastem durante décadas” sem condenações.
Pretende também rever o regime da violência doméstica, aumentando penas e alargando a aplicação de prisão preventiva, e reformar os crimes sexuais, de modo a refletir a “gravidade social” que lhes reconhece.
O Chega propõe uma reforma estrutural do processo penal, visando simplificar e acelerar os procedimentos. Defende a revisão da fase de instrução, limitando prazos e clarificando funções, bem como a reformulação do regime de recursos penais, para impedir bloqueios de eficácia por via de litígios extensos.
O programa do partido prevê ainda que se “instituam regras jurídicas que obviem o fenómeno da prolixidade nas peças processuais penais” e que se "racionalize" o acesso ao Supremo Tribunal de Justiça, limitando a sua utilização a casos prioritários.
No plano das infraestruturas e logística, o partido propõe acabar com tribunais instalados em contentores ou espaços provisórios e rever o regime da arbitragem na justiça tributária, exigindo a intervenção obrigatória do Ministério Público em casos que envolvam dinheiros públicos.
Na dimensão humana da justiça, o partido defende a valorização dos profissionais judiciais, propondo “regimes especiais de aposentação para magistrados e oficiais de justiça”, concursos para preenchimento de vagas, atualização salarial e revisão dos estatutos profissionais.
A nível prisional, o programa inclui melhorias das condições de trabalho, reforço de técnicos de reinserção social, separação das carreiras de reinserção e administração prisional, bem como instalação de sensores e inibidores de sinal nos estabelecimentos para travar o tráfico de telemóveis e drogas.
O acesso económico à justiça também é uma preocupação: o partido defende a revisão do Regulamento das Custas Processuais e do regime de apoio judiciário, apontando que “terá acesso à justiça quem a pode pagar”, o que considera “inaceitável numa sociedade moderna”.
Por fim, a luta contra a corrupção – uma das principais bandeiras do partido. O Chega quer lançar uma nova Estratégia Nacional Anticorrupção para 2025-2028, com reforço da Direção Central de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira, mais meios para a Polícia Judiciária e melhor articulação com as inspeções gerais e entidades internacionais.
Propõe também apreensão de bens antes da sentença final, proibição de exercício de cargos públicos para condenados por corrupção e a criação do crime de enriquecimento ilícito.