Balanço das autárquicas: PSD faz cinco em linha, PS resiste (q.b.) e Chega engasga-se

O PSD perdeu capitais de distrito, mas dominou nas cinco maiores autarquias do país. O PS caiu nas metrópoles, mas safou-se nas distritais. O Chega, que sonhava com dezenas de câmaras, teve de se contentar com três. Entre avanços e tropeços, uma certeza: nenhum partido ganhou tudo, tudo, mas todos parecem ter algo a reclamar como conquista.

13 out, 2025 - 03:41 • Fábio Monteiro



PSD conquistou as cinco maiores câmaras do país e foi o vencedor da noite. Fotos: Lusa, com edição de Rodrigo Machado
PSD conquistou as cinco maiores câmaras do país e foi o vencedor da noite. Fotos: Lusa, com edição de Rodrigo Machado

Luís Montenegro pode ter perdido quatro capitais de distrito, mas certamente não perdeu a noite. Nestas eleições autárquicas, o PSD conquistou as cinco maiores câmaras do país — Lisboa, Porto, Vila Nova de Gaia, Sintra e Cascais — e roubou assim (ao PS) a presidência da Associação Nacional de Municípios Portugueses.

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No final da noite, o primeiro-ministro e líder do PSD foi claro: “Voltámos a ser o maior partido português. Obtivemos uma vitória histórica nos cinco maiores concelhos do país e estamos em condições de liderar a Associação Nacional dos Municípios Portugueses e a Associação Nacional das Freguesias.”

E se relativamente a acordos de Governo com o Chega continuam a existir linhas vermelhas, sobre a possibilidade de negociações locais com o partido de André Ventura ficou o sinal: “Não há nenhuma linha traçada pela direção nacional. Cada autarca sabe da sua responsabilidade. A democracia faz-se com diálogo, não com imposições.”


Moedas e Duarte: duas vitórias no fio da navalha

Carlos Moedas venceu em Lisboa com mais 30 mil votos do que em 2021. Conseguiu oito vereadores, mas ficou a um da maioria absoluta. No discurso de vitória, afirmou: “Os lisboetas falaram. Decidiram continuar connosco mais quatro anos. Temos muito trabalho para fazer. Mas acreditem: valerá a pena.”

Sobre a relação com a oposição, foi claro: “Os lisboetas não querem instabilidade. Querem estabilidade na pluralidade. E isso exige um esforço de diálogo. Exigirá muita responsabilidade.”

No Porto, também o ex-ministro Pedro Duarte protagonizou uma das principais vitórias da noite para o PSD. “O Porto elegeu um novo líder para o Norte de Portugal. Vamos ser uma voz contra o centralismo exacerbado do nosso país.”

O social-democrata (sem maioria absoluta) rejeitou entendimentos com o Chega: “Não ponho em cima da mesa qualquer espécie de acordo com o Chega, mas tenho o dever de dialogar com todos.”


PS renasce nas capitais, mas fica atrás em número de câmaras

Apesar de ficar com menos presidências de câmara do que a Aliança Democrática (128 contra 135), o PS contentou-se com vitórias simbólicas.

Conquistou cinco capitais de distrito — Coimbra, Faro, Viseu, Évora e Bragança — e José Luís Carneiro fez questão de frisar o significado político desse resultado: “Para os que entendiam que estávamos em perda definitiva, o PS mostrou vitalidade e os portugueses voltaram a confiar no PS.”

O secretário-geral socialista apontou ainda que o partido teve o “voto de confiança do eleitorado urbano”, e acrescentou: “Há três meses ninguém imaginava que podíamos disputar Lisboa ou o Porto taco a taco.”

Sobre os objetivos não cumpridos, José Luís Carneiro confessou: “Não conquistámos tudo o que queríamos, mas alcançámos vitórias difíceis de imaginar. O PS está presente em todo o país.”

Em relação ao crescimento do Chega, Carneiro foi direto: “O Chega, que prometia 60 câmaras, ficou atrás da CDU e do CDS. As pessoas sabem distinguir entre ruído e responsabilidade.”


Chega tropeça nas próprias promessas

Prometera conquistar dezenas de câmaras e tornar-se o grande protagonista da noite, mas André Ventura viu o Chega ficar-se por três autarquias: Albufeira, Entroncamento e São Vicente. A desilusão ficou evidente no discurso.

“Hoje não vencemos. Esta não era a vitória que queríamos, nem a sua amplitude. Mas vamos lutar para vencer.”, afirmou o líder do partido.

Durante a campanha, Ventura garantira que era “impensável” o Chega ficar atrás da CDU ou do CDS. Após os resultados, tentou relativizar: “A política é um exercício de responsabilização. O país ficou mapeado com as cores do Chega. É um primeiro passo.”

Ainda assim, admitiu: “Não atingimos todos os objetivos. Mas vencemos as primeiras câmaras municipais da nossa história. A próxima vez será diferente.”


Livre e Bloco estagnam, CDU encolhe, CDS resiste

Na esquerda, o Bloco de Esquerda e o Livre mantiveram posições residuais. Mariana Mortágua classificou o resultado como “moderado” e reconheceu: “Foi uma noite difícil. Mas estamos onde sempre estivemos, com as pessoas.”

Rui Tavares destacou os mandatos obtidos em Felgueiras e Coimbra, onde o Livre integrou coligações vitoriosas: “Queremos ser um partido autárquico, que governa com propostas concretas. Elegemos grupos parlamentares municipais e isso mostra que há espaço para alternativas progressistas.”

A CDU perdeu sete câmaras e ficou com 12. Paulo Raimundo foi o primeiro líder a reagir: “É um resultado negativo, sim. Mas também é um sinal de resistência. Recuperámos câmaras como Mora, Montemor-o-Novo, Sines e Aljustrel. Isso mostra que perdas não são inevitáveis.”


“Como é que é, Lisboa?” Do speaker Moedas ao “abração” a Pedro Duarte: o filme da noite eleitoral

No campo oposto, o CDS-PP festejou o que considera ser o início de um novo ciclo. Nuno Melo foi recebido com cânticos e aplausos e declarou: “O CDS está aqui para ficar. Mantivemos todas as câmaras, e participámos em várias vitórias. Contra os que nos davam como mortos, mostramos que somos relevantes.”

Já a Iniciativa Liberal ficou satisfeita com eleição de (apenas) dois vereadores em listas próprias, em Braga e Castelo Branco. “Dois vereadores é um resultado extraordinário e mostra que a IL é um partido que consegue ter uma abrangência territorial extraordinária para um partido com tão pouco tempo de existência e já todos estes feitos”, disse Mariana Leitão.


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