Criticado por muitos, sobretudo no Ocidente e na Velha Europa, Bento XVI deixou sempre claro que as palavras do Papa e a doutrina da Igreja não se podem adaptar nem adulterar em função de modas ou oportunismos.
“O Papa não é um soberano absoluto cujo pensar e querer são leis. Pelo contrário: o ministério do Papa é a garantia da obediência a Cristo e à sua palavra. Ele não deve proclamar as próprias ideias, mas vincular-se constantemente a si e à Igreja à obediência da palavra de Deus perante todas as tentativas de adaptação, de adulteração e todo o tipo de oportunismo.”
Um mundo rendido ao Papa da razão
Direto ao assunto e com palavras certeiras, Bento XVI traçou diagnósticos realistas sobre o homem contemporâneo e as feridas da sociedade. Impedido por alguns professores de discursar na Universidade Romana “La Sapienza”, reuniu, no entanto, grandes consensos entre intelectuais, homens de cultura e estadistas.
Viajou o quanto pôde, incluindo a lugares complicados, como o Líbano e Cuba e há um traço comum a todas essas viagens apostólicas: às previsões de um falhanço mediático, com cobertura noticiosa negativa, missas campais vazias e desinteresse geral da população, seguia-se a admiração por um sucesso triunfal, com “casa cheia” em todo o lado e um mundo cultural rendida ao Papa da razão.
Entre todas as viagens destaca-se aquela feita a Portugal, onde o Papa até teve de ir à janela da casa onde estava a dormir para, com sorriso na cara, mandar calar os jovens que velavam em ambiente festivo. Diz-se que chegou a Portugal cansado e saiu com novo vigor. Talvez isso o tenha ajudado a aguentar mais três anos, até se render mesmo ao cansaço e fraqueza em fevereiro de 2013.
Criado num ambiente "mozartiano"
Nascido numa pequena aldeia da Baviera, Marktl am Inn, a 16 de Abril de 1927 (Sábado Santo), Joseph Ratzinger foi batizado nesse mesmo dia.
O seu pai era comissário da polícia, por isso passou a infância e adolescência em Traunstein, perto da fronteira com a Áustria e foi neste ambiente, por ele próprio definido “mozartiano”, que recebeu a sua formação cristã, humana e cultural.
O período da juventude não foi fácil. Naqueles tempos de regime nazi vivia-se um clima de grande hostilidade contra a Igreja Católica, mas foi precisamente aí que o jovem Joseph descobria a sua vocação. Nos últimos meses da II Guerra Mundial foi obrigado a integrar os serviços antiaéreos alemães. No final da guerra, voltou para o Seminário e foi ordenado padre em 29 de Junho de 1951.