Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.
Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.ptQue tipo de reparação é que poderia ajudá-la?
Não sei muito bem. Acho que o mínimo que se pode fazer pelas
vítimas é prestar-lhes apoio psicológico. É colocar ao [seu] dispor
alguém que se preste a escutá-las, a entendê-las e a validar os seus
sentimentos. Acho que isso é muito importante.
Acredito que, tal como eu, a maioria das vítimas nunca contou a ninguém
A psicoterapia que faz neste momento tem algum contributo externo ou é paga à sua custa?
Paguei até há bem pouco tempo sempre tudo à minha custa, durante
três anos. Neste momento, a diocese ofereceu-se para pagar um x de
consultas.
Tem havido já vários pedidos de perdão por parte da hierarquia da Igreja em Portugal. Como é que os vai sentindo?
Sinceramente, não é coisa que a mim me diga muito. Importante
mesmo é pedirem desculpa à própria pessoa e fazerem alguma coisa em
relação à pessoa acusada, isso sim. Isso para mim é válido. Agora, vir
para a comunicação social, seja o que for, como pedidos de desculpa, a
mim sinceramente não me diz nada.
Contou que esteve muito tempo
em silêncio. 22 anos. Há um silêncio à volta deste tema. Na sua opinião,
o que explica que em Portugal, ao contrário de outros países, não haja
uma associação de vítima ou outra manifestação mais visível da sua voz?
Portugal é ainda muito profundamente católico, e por isso é
difícil às próprias vítimas lidarem com isto, porque a própria Igreja,
[enquanto] instituição continua a ter bastante poder. Acho que as
pessoas têm medo. Têm medo não só de denunciar, de se manifestar, mas
têm medo também, muitas vezes, daquilo que [a denúncia] poderá fazer à
sua própria vida. Acredito que, tal como eu, a maioria das vítimas nunca
contou a ninguém. Os esposos não sabem, os filhos não sabem, os amigos
não sabem, a família não sabe. Não é fácil para um esposo ou uma esposa
perceber que estamos há tantos anos casados e nunca souberam desta
situação. As relações familiares, matrimoniais são profundamente
abaladas.
Que impacto é que o abuso foi tendo, ao longo do início da sua vida adulta, nas suas relações, namoros?
Teve uma influência muito grande, porque, como deixei de confiar
nas pessoas, isso não me permitiu ser completamente honesta com aqueles
que me rodeavam, com as pessoas mais próximas de mim, com as minhas
relações de namoro e até de casamento. O meu marido só soube quando fui
fazer a denúncia. E então as nossas relações são um bocado alteradas,
porque não são genuinamente verdadeiras. Há ali um pormenor que falta,
que para eles é um pormenor extremamente importante, e que para nós um
pormenor que queremos profundamente esquecer. E depois, na entrega de
uma relação isso então afeta muito.
Teve momentos de depressão ao longo deste período?
Só depois da denúncia.
Aí já com acompanhamento da psicoterapia?
Sim.
Como é que está hoje?
Estou em reconstrução.
Continua a rezar todos os dias?
Sim.
E a ir à missa?
Sim. [Mas] nem sempre. Tem alturas em que me custa mais.
Deus continua a ocupar um lugar importante?
Muito importante.
O que pode dizer a outras
pessoas que tenham sido vítimas e que, tal como a Alexandra, tenham
silenciado o abuso durante décadas?
Acho que é importante que cada uma encontre alguém em quem possa
confiar. Temos o direito de não viver sozinhos com este assunto, de
poder partilhá-lo e encontrar alguém que nos acolha. Não é que nos
entenda, mas que nos aceite e que nos estime com a nossa história. E
sobretudo que as pessoas a quem contem [o que aconteceu] não lhes façam
certas questões que magoam, como por exemplo: “Porquê agora?” “Porquê
passado tanto tempo?”, “Esquece isso, isso já lá vai”. Estas são das
piores coisas que se pode dizer a uma vítima, porque para nós é como se
continuasse a acontecer hoje. E se não dissemos há mais tempo, foi
porque não conseguimos. Então, há que acolher esta não capacidade de
partilha, de aceitar e não julgar. Estar ali.
Se
foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e
há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas,
um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que
possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia
de Jesus.
Telefone: 217 543 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care,
projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia
crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada,
bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores. São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São
constituídas por “especialistas de diversas áreas”, “recolhem
denuncias” e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar, do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt