Francisco, o Papa "todo-o-terreno" que privilegiou as margens

Preparava-se para se retirar quando foi eleito Papa. Acabou por assinar um pontificado de proximidade, colocando sempre em evidência os mais desfavorecidos. O bispo que vinha "do fim do mundo" avançou com a reforma da Cúria e apostou na descentralização. Mesmo quando a saúde se agravou, nunca abrandou o ritmo de trabalho.

21 abr, 2025 - 09:10 • Aura Miguel



O Papa que veio do "fim do mundo" para nos desarrumar

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Jorge Mario Bergoglio foi um Papa de estreias, em vários aspetos: o primeiro que veio do continente americano, o primeiro jesuíta da história a ocupar a cadeira de Pedro, o primeiro a escolher o nome Francisco e o primeiro a rezar com o povo na sua apresentação.

Aos 76 anos, o arcebispo de Buenos Aires, figura carismática da igreja latino-americana, já tinha pedido a resignação por limite de idade canónica e preparava-se para viver numa residência para o clero mais idoso. Mas, no dia 13 de março de 2013, a sua vida sofreu uma reviravolta.


“Habemus Papam”. Há 12 anos, foi assim que o mundo conheceu Francisco

Filho de emigrantes italianos, diplomou-se como técnico químico e mais tarde entrou para a Companhia de Jesus. Foi professor em vários colégios jesuítas e estudou teologia em Buenos Aires e na Alemanha, onde aprofundou a sua devoção a “Maria, desatadora dos nós”.

Ordenado padre em 1969 e bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992, foi promovido a arcebispo coadjutor da mesma diocese, em 1997, e, nove meses depois, após a morte do cardeal Quarracino, torna-se arcebispo de Buenos Aires. Mais tarde, no Consistório de 21 de fevereiro de 2001, João Paulo II cria-o cardeal. Nessa altura, Bergoglio pediu aos fiéis argentinos para não o acompanharem a Roma e destinar aos pobres o dinheiro da viagem.


Com um estilo “todo-o-terreno”, manifestou desde sempre a sua preferência pelos mais pobres, desfavorecidos, sem-abrigo, idosos, pessoas doentes e portadoras de deficiência. Francisco optou por um pontificado de proximidade, com muitas visitas-surpresa, incluindo a uma loja de discos, a uma farmácia para comprar sapatos ortopédicos e a um oculista para mudar de lentes. Várias vezes desabafou que sentia a falta de andar a pé pelas ruas de Roma e entrar, com amigos, numa pizzaria.

Ao longo destes anos, avançou com a reforma da Cúria, apostou na descentralização, defendeu maior colegialidade dos episcopados, a sinodalidade e até a “conversão do papado”. Valorizou a responsabilidade dos leigos e uma maior presença feminina na Igreja, incluindo em lugares de decisão e Dicastérios do Vaticano.


12 anos em 14 momentos. Os marcos do pontificado de Francisco

Apesar dos vários problemas de saúde, Francisco nunca abrandou o seu ritmo de trabalho, incluindo na reta final do pontificado. Ao adoecer no início do Jubileu, manteve uma agenda carregada de encontros, até ser internado a 14 de fevereiro.

Entre tantos outros projetos, ficou por cumprir um dos seus grandes sonhos: assinalar os 1700 anos do Concílio de Niceia, com uma viagem à Turquia, na esperança de testemunhar mais um passo no caminho da tão desejada unidade dos cristãos.


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