Filipe viu Francisco no domingo e veio a Fátima agradecer. Na "terra do silêncio" reza-se pelo Papa do "coração grande"

Centenas de peregrinos passaram esta terça feira pelo santuário de Fátima. Falam já em saudade do Papa "único, amigo dos pobres e inclusivo" e houve quem viesse agradecer pela oportunidade de o ter visto de perto nas cerimónias da Páscoa, no Vaticano. Na capelinha das aparições houve silêncio, como o que se fez nas duas vezes que o Papa orou aos pés da imagem de Nossa Senhora.

22 abr, 2025 - 16:31 • Filipa Ribeiro



Vídeo: Fiéis rumam a Fátima para rezar por Francisco

A manhã voltou a despertar silenciosa no Santuário de Fátima. Ainda o sol começava a aparecer e dezenas de fiéis rezavam pelo Papa Francisco na capelinha das Aparições. A estas dezenas foram-se juntando mais grupos, somando centenas ao final da manhã desta terça feira.

Vieram de vários cantos do país e do mundo.

Filipe Barcelos é de Fortaleza, no Brasil. Com um casaco vermelho vestido, destaca-se na entrada do recinto do Santuário. Veio sozinho para agradecer a oportunidade que teve no último fim de semana. O jovem de 30 anos esteve no Vaticano para as cerimónias e para a celebração da Páscoa e foi um dos milhares de peregrinos que ouviu e viu Francisco pela última vez em público.

À Renascença, Filipe fala num momento que não vai esquecer. Viajou para a Europa na semana passada, com um grupo de amigos que continua em Roma pelo resto da semana. Confessa que tinha a "expectativa" de ver o Papa, mas sem grandes certezas.

Filipe recorda que ficou emocionado quando o Papa apareceu, no último sábado, "de cadeira de rodas diante do túmulo de São Pedro para rezar". Estava também ele na Praça de São Pedro para participar na vigília. Mas foi no domingo de Páscoa que teve oportunidade de ver Francisco mais de perto. "No domingo ele faz a oração e decide descer. Nessa altura, fiquei muito emocionado", conta Filipe que recorda o momento "muito bonito em que o Papa abençoou muitas crianças".


O jovem brasileiro estava ainda em Roma esta segunda-feira, quando anunciaram a morte do Papa Francisco. Mal soube, rumou de imediato para a Praça de São Pedro.

Filipe Barcelos considera que Francisco "foi um homem caridoso, com um coração muito grande", porque "pensava muito nos que mais precisavam de ajuda".

Decidiu vir a Fátima agradecer os dias que teve no Vaticano e, a caminho da recitação do terço, o jovem sublinha à Renascença que Francisco "ensinou desprendimento dos bens materiais e a colocar Cristo em primeiro lugar". E recorda a abertura que houve na Igreja, com "um olhar cristão e católico para a ecologia e para a pobreza, relembrando às pessoas que Deus nos ama".

Com várias velas na mão, a caminho da Capelinha das Aparições, segue um grupo de seis jovens vindos da Suíça. São amigos e no grupo estão dois lusodescendentes. Alexandra Santos quis mostrar as tradições da terra dos pais aos colegas.

Conta que foi "um choque" saber da morte do Papa e não esconde a tristeza por já não conseguir ver o Papa Francisco: "É difícil para nós, porque íamos este Verão ao Jubileu." A caminho dos 18 anos, Alexandra lembra a influência de Francisco sobre os jovens. "Eu vi muitos amigos meus a ir à igreja por causa do Papa", conta.


Em direção à Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Maria Nela, de 65 anos, segue emocionada. Veio com a família do Algarve para cumprir a visita que faz todos os anos ao Santuário de Fátima, mas desta vez foi "mais especial".

Numa luta contra as lágrimas, Maria refere-se ao Papa Francisco como "um homem da reconciliação, do amor e da paz" que "foi grande para a Igreja e uma referência para os mais velhos e para os mais jovens". Maria lembra que o Papa deixou ainda "uma mensagem para os governantes pensarem".

Ao lado, mais tranquilo, o marido fala numa "grande perda para a Igreja" e de um Papa que foi "com o qual mais se identificou". Manuel Mira espera que o próximo Papa "seja igual" a Francisco — mas "mais novo" e, já agora, "português", para "se mostrar ao mundo que Portugal tem paz e amor".

Da Moita, Maria Soares veio com a filha a Fátima por razões pessoais, tendo agora estendido as orações ao Papa. Afirma que Francisco "veio remodelar e mudar as identidades para a aceitação de todos na Igreja" e fala de um legado que "está num bom caminho e tem de ser continuado".

Guarda na memória a viagem que fez a Roma, onde conseguiu ver Francisco. Diz que lhe "ficou muito na memória a mensagem contra as armas e a favor da paz".


Fátima, "a terra do silêncio"

O Santuário de Fátima foi sempre paragem obrigatória para o Papa Francisco, que esteve na Capelinha de Aparições duas vezes. A primeira foi em 2017, a propósito do centenário das Aparições. A estreia de Francisco na Cova de Iria ficou marcada pelos 10 minutos de silêncio cumprido pelos milhares de peregrinos, enquanto Francisco se ajoelhou aos pés da imagem de Nossa Senhora de Fátima. O Papa tinha já confessado a D.José Ornelas que considerava Fátima a "Terra do Silêncio".

A mesma imagem voltou a repetir-se na segunda visita de Francisco a Fátima, em 2023, por altura da Jornada Mundial da Juventude. Dessa vez, o período de silêncio foi mais curto, mas a visita reforçou a mensagem do Papa de que a "Igreja é para todos". Nessa última viagem, Francisco rezou na Capelinha das Aparições com jovens reclusos e jovens doentes.


Artigos Relacionados