Autarca de Seia reivindica “mesmas armas dos grandes centros”
A Câmara Municipal de Seia aposta em diversos serviços de proximidade na área da saúde, por exemplo, mas para o autarca Luciano Ribeiro, a luta contra o despovoamento é uma competição sem as mesmas armas dos grandes centros.
“O despovoamento é o maior problema de Portugal do interior. É um círculo vicioso: havendo menos pessoas, há menos eleitores, e menos votos e isso vê-se na representação no parlamento, em que o distrito da Guarda tem 3 representantes. Esta situação leva a mais polarização, a maior centralidade em Lisboa, quando nós temos algumas dificuldades, principalmente este território, no que diz respeito às acessibilidades rodoviárias, quando a gente fala em TGVs, aeroportos em centenas de milhões de euros, há territórios, como o caso de Seia, que precisavam de uma variante para chegar mais depressa ao comboio. Demoramos 25 minutos a chegar ao comboio em Nelas, quando podíamos chegar em 10. E mais grave do que isso, os acidentes são constantes, os atropelamentos são constantes, a dificuldade de viver nessas aldeias que são atravessadas pela N231 é maior, e, portanto, quando ouvimos falar sempre de milhões para aeroportos, no Porto, que antes era uma ponte, agora já são mais duas, em Lisboa, que era uma ponte, agora são mais duas pontes e mais um túnel, há sempre centenas de milhões para dar resposta ao problema da concentração populacional, que vai levar a mais concentração populacional, ainda que dispersa naquele território e na margem sul. Para territórios do interior, como Seia, Gouveia e Oliveira do Hospital, não há uns míseros 50 milhões de euros para prolongar um pouco o IC6, não é? Nem é para o terminar, é para o prolongar. E, portanto, nós não competimos com as mesmas armas”, desabafa.
"É um círculo vicioso: havendo menos pessoas, há menos eleitores, e menos votos e isso vê-se na representação no parlamento. Esta situação leva a mais polarização"
Sem as mesmas condições dos grandes centros, nomeadamente a nível de acessos rodoviários, Luciano Ribeiro assume que “é difícil convencer um visitante, alguém que queira investir em Seia”, porque “uma pessoa demora menos para vir do aeroporto do Porto até Viseu (cento e muitos quilómetros), do que para fazer os últimos 45 quilómetros entre Viseu e Seia”. Assim, o autarca conclui que “o despovoamento consegue-se combater criando oportunidades, primeiro qualidade de vida” e adianta: “precisamos de competitividade económica, boas empresas, bons empregos e com bons salários, para que este círculo se possa inverter e aí tem de haver uma ajuda sem dúvida do Estado Central”.
“Não quero ser catastrófico, mas a verdade é que estamos a desonrar o trabalho que foi feito dos reis que fundaram Portugal quando conquistavam território e a primeira coisa que faziam era estabelecer população para marcar o território”, diz ainda Luciano Ribeiro, justificando o crescimento dos movimentos populistas, com o abandono do interior. “Há um certo sentimento, e por isso se vê que junto à raia, seja do lado de Espanha, seja do lado de Portugal, os partidos radicais têm mais votos, porque há um sentimento de esquecimento, de desprezo”, observa.
Sobre estratégias contra o despovoamento, o autarca de Seia revela que o objetivo de “estancar esta hemorragia demográfica, só vai ser possível ‘importando’ bebés de 18 anos, de 20 anos, seja para estudar, seja para trabalhar”. Mas para isso, sublinha: “precisamos ter as mesmas armas dos outros, precisamos ter as mesmas condições de acesso a transportes públicos, ter as mesmas condições de acesso aos centros de decisão e, com isso, ter condições de competitividade para atrair empresas”.
“O que faz perder população são os óbitos”
Em 2021, o concelho de Seia tinha 21.125 habitantes e em 2011 o número era de 24.102 moradores permanentes, uma perda de 12% da população residente. Seia tem 21 freguesias e 120 lugares que têm sofrido com a perda de população. Fontão já não tem habitantes permanentes e há pelo menos outras duas aldeias que não chegam a meia dúzia de habitantes.
Ainda segundo dados do INE, além do Fontão, que em 2011 tinha dois habitantes e atualmente não tem residentes, há mais dois lugares com menos de seis habitantes, ambos na União de Freguesias de Vide e Cabeça. Trata-se de Abotoreira (tinha três habitantes em 2021, mais um que em 2011) e de Casas Figueiras (tinha cinco habitantes em 2021 e em 2011 registava sete).
“Basta olhar para os dados, infelizmente a maior parte da perda da população que temos é pela mortalidade, portanto, ao contrário do que a gente pensa, que as pessoas vão-se todas embora, o que nos faz, de facto, perder a população são mesmo os óbitos, porque a população foi envelhecendo ao longo das últimas décadas, e não tendo havido reposição ou tendo havido uma maior debandada em décadas anteriores, em particular fruto da crise das monoindústrias, dos lanifícios e dos têxteis, hoje torna-nos o problema um pouco mais difícil”, considera o presidente da Câmara Municipal de Seia.