Entre a agitação habitual no maior hospital do país, descemos ao piso inferior, onde fica a Unidade de Medicina Paliativa. Na mesa redonda, onde habitualmente reúnem e nos recebem, está um folheto da altura em que a Equipa Intra-hospitalar de Cuidados Paliativos foi criada. Amélia Matos é uma das fundadoras. É a enfermeira-gestora deste grupo que inclui, para além das duas médicas, sete enfermeiras, uma assistente social, um assistente religioso e uma assistente técnica. Mas, há lugares em falta.
“Temos uma lacuna brutal atualmente, não temos nenhuma psicóloga atribuída à equipa”, começa por dizer. Admite que seriam precisos muitos mais profissionais. “Para aquilo que queremos fazer, sim. Foi criada, legalmente, a intenção de abrir um serviço integrado de cuidados paliativos, mas nós também deixámos de ser um hospital, passámos a ser um centro hospitalar, e neste momento uma Unidade Local de Saúde (ULS). O serviço integrado de cuidados paliativos implicará uma estrutura mais organizada, com apoio domiciliário, e não há uma equipa comunitária de suporte em cuidados paliativos para ser parte da nossa equipa”.
Um dos problemas é a vasta área que abrangem. “Como ULS alcançamos um número de população imensa, abrangemos o hospital de Santa Maria, o Pulido Valente, os centros de saúde de Lisboa Norte e da área de Mafra”.
As consultas de psicologia na unidade de paliativos, e noutros serviços, estão a ser asseguradas pelos profissionais da Equipa de Apoio Psicossocial, criada em 2019 graças ao financiamento privado anual da Fundação La Caixa, e que tem um protocolo com a administração do hospital.
“Aqui sinto-me mais enfermeira”
Dora Santos é enfermeira. Trabalhou 10 anos em pneumologia antes de fazer parte da Equipa Intra-hospitalar de Cuidados Paliativos, onde está há oito anos e onde sente que cresceu como profissional.
“Esta experiência, para mim, foi a desocultação de uma equipa que desconhecia, que vê a pessoa como um todo: a família, perceber onde mora, com quem mora, quem o ajuda nas compras ou a adquirir medicação, quem o acompanha ao hospital, às consultas e tratamentos. Porque temos aqui pessoas com uma trajetória de doença muito longa, com muito sofrimento, muitos tratamentos, muitas horas passadas no hospital, e perceber a trajetória da pessoa, não só de vida, mas de doença, quais são as necessidades e em que é que nós, profissionais de saúde e membros desta equipa multidisciplinar, a podemos ajudar a melhorar o seu dia-a-dia é muito importante. Podem ser as últimas semanas, os últimos meses, mas podem ser os últimos anos. Por tudo isto, aqui sinto-me mais enfermeira. Sinto-me mais enfermeira”, partilha.
A necessidade de reforço de meios é evidente, mas Dora é muito pragmática na avaliação que faz. “Sim, o ideal era ter mais equipas, mas nunca conseguiremos chegar ao ideal. Apesar de não termos todos os recursos, fazemos a diferença na vida daquela pessoa. Não fazemos a diferença em 200 pessoas, mas fazemos em 50."
O mais importante, e que tentam fazer sempre, é conseguir dar o melhor em equipa, e atender às necessidades dos doentes. “Conseguimos ter uma equipa que cresce, que dá resposta a um simples telefonema de alguém que do outro lado está a cuidar do seu familiar. E conseguimos, naquele momento, atender o telefone e dizer que pode dar este medicamento, fazer assim, pode posicionar, pode fazer uma determinada intervenção que vai fazer a diferença. Ou encaminhamos para atendimento, aqui ou a urgência. Por isso, não temos o ideal, mas temos o melhor de uma equipa verdadeiramente responsável para com os doentes, e as suas famílias."