A alguns metros da campa, o diácono Vasco Rebelo, 67 anos, ergue a voz.
“Para quem acredita e tem fé, é um até já, até um dia destes. Para quem não acredita, é o adeus definitivo. Mas nós somos pessoas de fé e acreditamos que um dia destes lá nos vamos reencontrar com o nosso irmão. (…) Dai-lhe, Senhor, o eterno descanso entre o esplendor da luz perpétua, e a sua alma e a alma de todos os fiéis defuntos, pela misericórdia de Deus, descansem em paz.”
Termina a oração e começa o trabalho. A terra cai em golpes compassados, o som seco das pás a cobrir a urna até desaparecer. Só Bruno Caldeira se aproxima da sepultura e permanece junto ao caixão até ao fim. Vera Rola observa de longe. O voluntário José Ferreira também se mantém afastado.
“O silêncio é uma forma diferente de se dizer aquilo que se diz com o choro. O importante é que a partida foi acompanhada”, diz o psicólogo.
À volta da campa, os quatro coveiros trabalham em silêncio. Puxam, levantam, atiram — e calcam, até que o caixão desaparece sob a terra batida. São sempre quatro para cada enterro, um ritual repetido várias vezes por semana. O mais novo é Cláudio Pereira, 30 anos, há apenas um ano no cemitério. “Fazemos muitos funerais destes, em que não aparece ninguém. É muito recorrente", conta. "São funerais completamente em silêncio, não há família, é só mesmo os agentes funerários, os coveiros e uma pessoa responsável da Santa Casa”, conta.