Aquela manhã de 11 de junho tinha tudo para ser o começo de um dia absolutamente normal. Joana tem 43 anos. Naquele dia, saiu de casa e levou a filha à escola. A seguir, ia trabalhar. Mas já não foi. Seguiu-se uma sucessão muito confusa de acontecimentos. Alguns deles, de difícil reconstituição.
“De repente, comecei a sentir uma forte dor de cabeça… Como se a cabeça estivesse a ser apertada. Estava a conduzir, encostei e desmaiei. E depois de desmaiar, é que ficou tudo muito confuso”, recorda.
Tanto quanto consegue lembrar-se, depois do apagão momentâneo, “estava à porta de casa”, mas achava que tinha iniciado o trajeto entre a Póvoa de Varzim e o Porto para entrar ao serviço na redação da agência Lusa.
“Dei por mim a tentar ligar para o meu pai, o que é um bocado estranho, tendo em conta que ele morreu há cinco anos… Liguei para uma amiga minha, que era funcionária dos bombeiros onde o meu pai costumava estar, e pedi-lhe para, quando o meu pai lá chegasse, para me ligar."
A estupefação do outro lado da linha fê-la perceber que algo não estava bem: “Então, essa minha amiga começou a perguntar onde é que eu estava e foi quando me apercebi que estava à porta de casa. E que não era suposto estar."
A confusão aumentava. Joana foi aconselhada a ligar para o 112 mas, em vez disso, telefonou para a Linha SNS 24 que, de imediato, a encaminhou para o Hospital da Póvoa de Varzim.
Quando lá chegou, começou a perder o controlo dos movimentos do lado direito. Ainda soube dizer o nome. E pouco mais.
“E se eu ficar assim?..."
“Comecei a sentir a cara petrificada, como aquela sensação de anestesia no dentista”, rememora.
Desorientada, ainda tentou levantar-se, mas a enfermeira da triagem foi perentória: “Não se mexa que está a ter um AVC.” O pensamento imediato foi “ela está maluca, eu não tenho idade para isso”.
Mas estava mesmo a acontecer. Joana foi levada de emergência para a Via Verde AVC do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos.
“Vem aí a miúda do AVC." É das poucas coisas que Joana se lembra de ouvir no momento da admissão.
“A pessoa mais nova a seguir a mim que tinha tido um AVC tinha perto de 70 anos”, relata esta jovem sobrevivente de AVC, jornalista de profissão.
O problema continua a ser mais frequente em idades acima dos 65 anos, mas, nos últimos anos, a incidência em faixas etárias mais baixas tem estado a aumentar.
Ainda assim, é estranho ver alguém tão jovem dar entrada num hospital por causa de um problema destes.
Joana ficou internada durante uma semana numa enfermaria mista da unidade de AVC. Quando entrou, perguntaram-lhe se estava ali porque não havia lugar noutro serviço.
“Não, tive um AVC”, respondeu. O olhar que lhe devolveram foi de previsível incredulidade. “Acontece.”