Os dois maiores partidos têm a responsabilidade de se entenderem sobre o futuro do país e se não o fizerem são “criminosos” – a acusação é de António Barreto. O sociólogo, ex-ministro e actual presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos encerra o ciclo de entrevistas “Três anos de troika. E agora?”, realizadas no âmbito da parceria entre a
Renascença e o
Jornal de Negócios.
Nesta entrevista, António Barreto começa por dizer que, passados três anos, o país está melhor em certos aspectos, mas também está igual noutros e pior noutros. Mas, acrescenta, que há muito por fazer e que vai demorar décadas. Por isso mesmo, os maiores partidos deviam entender-se.
“Os dois grandes partidos têm hoje uma responsabilidade que, se não a assumirem, são verdadeiros criminosos. São ‘hooligans’. Se o PS e o PSD hoje não se prepararem para encontrar soluções duráveis e sustentáveis para os próximos cinco ou dez anos são verdadeiros ‘hooligans’ da política, que só estão interessados em ganhar as eleições europeias ou do ano que vem”, afirma Barreto, que reconhece que esses mesmos partidos não dão sinais de serem capazes de estar à altura das responsabilidades: “A maior parte dos sinais que eles dão é que não são capazes nem querem.”
Barreto coloca uma especial responsabilidade no PS. “Devia ter sido o PS - não era a aceitar - era a fazer as propostas. Era ao PS que competia dizer ao Governo ‘nós estamos prontos, estamos prontos para rever a Constituição se for preciso, para fazer um programa conjunto do QREN, para começar a fazer uma experiência com os orçamentos e para preparar a reforma do Estado e estamos disponíveis para criar as estruturas necessárias de debate, de discussão, de estudo para que nos próximos cinco anos possamos fazer isso, independentemente de qualquer calendário eleitoral”, diz o sociólogo, para quem a tentativa de consenso durante a crise política do Verão passado foi “uma verdadeira coreografia de aparências”.
António Barreto considera que, ao fim destes três anos, o país está melhor nalguns aspectos, mas pior noutros e que é preciso mudar o método, tomar medidas ainda mais selectivas. “Se não for mudado o rumo, se não for mudado o método, nos próximos anos, os portugueses não aguentam. Sobretudo os mais pobres, os mendigos, os desempregados, os mais velhos, aí o país não aguenta. O que é que isso significará não sei? Nunca se sabe. Podem fugir, emigrar, ficar doentes, revoltar-se, provocar motins, perturbar a ordem pública… Não sei …”, reflecte o sociólogo, que ressalva: “Não estamos afogados, à beira do drama, da tragédia como estávamos há três anos.”