19 mar, 2013 • Filipe d’Avillez
O Papa Francisco pediu esta terça-feira "respeito por toda a criatura de Deus", "pelo ambiente onde vivemos" e apelou a que se "cuide carinhosamente" de todas as pessoas, "especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis". O pedido começou por ser dirigido de forma especial a quem exerce cargos de poder.
"Queria pedir, por favor, a quantos ocupam cargos de responsabilidade em âmbito económico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: sejamos 'guardiões' da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiões do outro, do ambiente; não deixemos que sinais de destruição e morte acompanhem o caminho deste nosso mundo", disse o Papa durante a homilia da missa inaugural do seu pontificado, no Vaticano.
Esta missão tem várias dimensões, explica o Papa Francisco: "É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração. É cuidar uns dos outros na família: os esposos guardam-se reciprocamente, depois, como pais, cuidam dos filhos, e, com o passar do tempo, os próprios filhos tornam-se guardiões dos pais. É viver com sinceridade as amizades, que são um mútuo guardar-se na intimidade, no respeito e no bem. Fundamentalmente tudo está confiado à guarda do homem, e é uma responsabilidade que nos diz respeito a todos. Sede guardiões dos dons de Deus", referiu o Papa.
Usando como exemplo São José, esposo de Maria e figura paterna na educação de Jesus feito homem, cuja solenidade se celebra esta terça-feira, o Papa explicou que a primeira missão do santo é precisamente de ser guardião: "Guardião de quem? De Maria e de Jesus, mas é uma guarda que depois se alarga à Igreja".
O Papa sublinhou que este dever de custódia, de guardião, deve ser imitado por todos e deve estender-se também a toda a criação. Esta preocupação claramente ambiental não é restritiva e baseia-se naquilo a que Bento XVI já tinha chamado "ecologia humana", ou seja, uma preocupação ecológica que tem o homem no seu centro.
"A vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas tem uma dimensão antecedente, que é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro de Génesis e nos mostrou São Francisco de Assis", disse o Papa, evocando aqui o santo que está na origem da escolha do seu nome.
"Quando o homem falha nesta responsabilidade, quando não cuidamos da criação e dos irmãos, então encontra lugar a destruição e o coração fica ressequido", prosseguiu. Depois, deixou uma nota de esperança: "Guardar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança".
Durante a homilia, o Papa referiu ainda que não se deve "ter medo" da bondade. "Para 'guardar', devemos também cuidar de nós mesmos. Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida; então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso coração, porque é dele que saem as boas intenções e as más: aquelas que edificam e as que destroem. Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura."
"Verdadeiro poder é o serviço"
Depois do apelo ao cuidado pela criação e à necessidade de "guardar as pessoas", o Papa Francisco fez a ponte como o ministério próprio de São Pedro, que agora é o seu: "Jesus Cristo deu um poder a Pedro, mas de que poder se trata? À tríplice pergunta de Jesus a Pedro sobre o amor, segue-se o tríplice convite: apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas".
E no centro da sua preocupação, como tem feito explicitamente desde o início do seu pontificado, o Papa coloca os mais pobres e fracos: "Não esqueçamos jamais que o verdadeiro poder é o serviço, e que o próprio Papa, para exercer o poder, deve entrar sempre mais naquele serviço que tem o seu vértice luminoso na Cruz; deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de São José e, como ele, abrir os braços para guardar todo o Povo de Deus e acolher, com afecto e ternura, a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais fracos, os mais pequeninos, aqueles que Mateus descreve no Juízo final sobre a caridade: quem tem fome, sede, é estrangeiro, está nu, doente, na prisão".
No início da homilia, o Papa fez ainda uma referência a Bento XVI, recordando que este dia de São José é também o do santo do nome de baptismo do Papa Emérito - Josef.
Antes ainda de se lançar na ideia principal do seu texto, o Papa Francisco saudou também os representantes de outras confissões cristãs, mantendo todavia uma distinção, que sempre foi usada por Bento XVI, entre as Igrejas e "comunidades eclesiais". As primeiras são aquelas que, segundo a Igreja Católica, mantêm os sacramentos e ordens válidos e entre as outras incluem-se as reformadas e protestantes, cujas ordens religiosas não são reconhecidas por Roma e que por isso não têm todos os sacramentos válidos.
Saudando ainda as outras comunidades religiosas e delegações políticas e civis, a única referida explicitamente é a judaica. Recorde-se que a eleição do Papa argentino foi muito bem recebida por esta comunidade.