Especialistas dizem que é possível melhorar a economia criticada por Francisco

27 nov, 2013 • Filipe d’Avillez

Henrique Pinto, director da revista Cais, vê na exortação apostólica do Papa um convite a mudar mentes e corações no mundo empresarial.  

Especialistas dizem que é possível melhorar a economia criticada por Francisco
O Papa tem razão nas críticas que faz e é possível melhorar o modelo económico, consideram dois especialistas ouvidos pela Renascença. Jorge Líbano Monteiro, secretário-geral da Associação Cristã de Empresários e Gestores, e Henrique Pinto, director da revista Cais, estão de acordo com o Papa quando este diz “não” a uma “economia que mata”.

Mas Jorge Líbano Monteiro vai mais longe e considera que o texto do Papa contém mais do que meras críticas abstractas ao capitalismo: “Essa é uma verdade e é um apelo que não só este Papa como os outros têm vindo a fazer noutras encíclicas. Mas não é só isso, o Papa não faz só uma crítica, mas pede-nos a todos que nos envolvamos na transformação da realidade e conseguirmos trazer ao mercado a ética e os valores que diz serem necessários.”

Lendo a exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”, que foi publicada na terça-feira e é apresentada em forma de livro já na quinta, encontram-se muitas críticas ao modelo mas nenhuma solução. Sendo certo que não cabe ao Papa apresentar alternativas económicas, fica a dúvida se haverá ou não um modelo alternativo de economia que sirva melhor que o actual.

“Não sei se existe um modelo alternativo, mas que existe forma de melhorar o modelo actual. A ACEGE tem ajudado os líderes empresariais a trazer ética e valores para a realidade do mundo económico. Não acredito numa transformação imediata e total desta realidade mas é claro que através de posturas empresariais diferentes, trazendo os valores, o coração, o amor para o mundo dos negócios, acredito que podemos fazer a diferença”, diz Jorge Líbano Monteiro.

O Papa fala, por exemplo, na necessidade de uma redistribuição da riqueza, mas não chega a dizer se esta deve ser voluntária, dependendo da consciência de quem tem mais, ou se coerciva, gerida pelo Estado.

Henrique Pinto prefere olhar a questão por outra perspectiva: “Haverá momentos em que é preciso fazer coercivamente uma distribuição daquilo que é de direito de todos, mas gostaria que isto acontecesse porque as pessoas de facto entendem que este bem é de todos por direito e não porque alguns são generosos e distribuem a aqueles que por azar nunca tiveram acesso aos mínimos de bem-estar”. 

“Estas soluções que existem passam por uma transformação do coração humano, e da sua mente, para entender que a sustentabilidade de todos depende da cooperação”, conclui.

Francisco diz ainda aquilo que a Igreja repete há muito, que a actual crise financeira tem na sua raiz uma crise de valores. Por isso mesmo Henrique Pinto teme que uma vez resolvida a questão material, se regresse ao modelo antigo. O director dá o exemplo das empresas que têm feito acções de solidariedade para ajudar os mais necessitados: “Lamento dizer que às tantas, com o fim da crise, as empresas voltem a um comportamento que nos levará a uma crise maior do que aquela que estamos a viver”.

Há bastante novidade no “A Alegria do Evangelho”, mas é sobretudo ao nível da linguagem e do estilo, mais do que na substância. O secretário-geral da ACEGE acredita que até os empresários não católicos estão a ouvir a mensagem: “o seu estilo muito simples e muito profético marca e consegue atingir muito mais pessoas do que aquelas que normalmente são vistas como pertencentes à Igreja. Mais do que a teoria este documento leva-nos a uma prática que todos reconhecemos. Isso é tocante.”