Perguntas e respostas
O que são e para que servem os cardeais?
13 fev, 2015 • Filipe d'Avillez
O que é e o que implica ser cardeal? Quem pode ser cardeal? O que fazem os cardeais hoje? Saiba tudo.
É já este sábado que o Papa Francisco eleva mais 20 homens à dignidade de Cardeal da Igreja Católica. Entre eles encontra-se D. Manuel Clemente, o Patriarca de Lisboa. A Renascença explica o que é um cardeal, o que faz e a sua importância na Igreja.
Mas o que é e o que implica ser cardeal?
Na sua origem, os cardeais eram o clero da diocese de Roma que aconselhava o Papa no Governo da Igreja. Nesse sentido, o cargo sempre existiu, mesmo que informalmente, uma vez que o Bispo de Roma sempre contou com esse aconselhamento.
Mas com o passar dos séculos e sobretudo à medida que, com a melhoria das comunicações, o Papa passava a ter uma palavra mais directa a dizer no governo de regiões mais distantes de Roma, começaram a ser incluídos entre os cardeais clérigos, normalmente bispos, de outros lados, dando assim ao colégio cardinalício uma representatividade maior.
Contudo, o sentido original do termo não se perdeu completamente, pelo que ainda hoje, aos novos cardeais é atribuída uma paróquia de Roma, da qual ficam, simbolicamente, responsáveis.
A divisão de categoria dos cardeais também é um reflexo destas origens. Há cardeais-bispo, cardeais-presbítero e cardeais-diácono. Na prática, porém, a distinção é mais simbólica do que outra coisa.
Quem pode ser cardeal?
Teoricamente qualquer clérigo católico pode ser cardeal, mas na prática essa distinção reserva-se normalmente a altos funcionários da Cúria Romana e responsáveis de dioceses importantes no mundo.
Existem alguns cardeais que não são bispos, mas são casos raros e as nomeações são quase sempre honoríficas, normalmente atribuídas quando as pessoas em causa já são velhas. Mesmo nesses casos o normal seria o nomeado ser feito bispo também, mas alguns pedem dispensa, sobretudo jesuítas, que por regra devem evitar promoções eclesiásticas.
Historicamente há uma série de dioceses que são conhecidas como sendo “cardinalícias”, isto é, o seu bispo, ou arcebispo, habitualmente seria feito cardeal pouco tempo depois de assumir o cargo. Dioceses como Madrid, Lisboa, Veneza, Westminster, Paris e Bruxelas, por exemplo, entram nesta categoria. Na maioria dos casos, contudo, tratava-se apenas de uma questão de tradição. Lisboa é provavelmente a única diocese que tem esse privilégio posto por escrito.
Em todo o caso, o Papa Francisco já deu claros sinais de se estar a afastar dessa prática. Com o segundo consistório deste pontificado, dioceses como Bruxelas e Veneza continuam sem cardeal e outras nomeações têm vindo de locais totalmente imprevistos, como de dioceses obscuras em países como o Haiti, Cabo Verde ou mesmo Tonga, uma pequena ilha no Pacífico.
O que fazem os cardeais hoje?
Têm duas funções principais. A primeira é de aconselhamento do Papa. De tempos a tempos são convocados consistórios e os cardeais encontram-se em Roma para discutir ou debater assuntos da ordem do dia do Governo da Igreja. Os conselhos dados não são vinculativos, mas permitem ao Papa e à Cúria Romana ter uma melhor noção do que pensam e com o que se preocupam os católicos no terreno, em várias partes do planeta.
Mas o papel mais visível dos cardeais é, sem dúvida, a responsabilidade de elegerem o próximo Papa quando o incumbente morrer ou, como no caso de Bento XVI, resignar. Recorde-se, aliás, que Bento XVI anunciou publicamente a sua resignação precisamente durante um consistório.
Nem todos os cardeais podem votar num conclave para eleger o novo Papa. Apenas os que têm 80 anos até à data do início do Conclave podem participar no mesmo. O número vai variando, mas não deve exceder os 120.
Os cardeais reunidos em conclave podem, teoricamente, eleger qualquer homem baptizado para o cargo de Papa mas, na prática, optam quase sempre um dos seus.