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"Zero Desperdício" contra a fome

16 abr, 2012 • Ângela Roque

Movimento é lançado esta segunda-feira em Lisboa, por iniciativa da associação "DariAcordar". No Parlamento, a recolha dos excedentes alimentares já está a ser feita há três semanas.

"Zero Desperdício" contra a fome
É lançado esta segunda-feira, em Lisboa, o movimento "Zero Desperdício", iniciativa da associação "DariAcordar". A Assembleia da República foi das primeiras instituições a aderir ao projecto – desde 26 de Março que a comida que sobra nos refeitórios de S. Bento é recolhida e distribuída a quem precisa por uma equipa da Junta de Freguesia da Lapa e das Oficinas de S. José.

O Colégio Salesiano de Lisboa já apoia mais de 90 famílias carenciadas através do seu projecto de solidariedade Solsal, mas nunca tinha distribuído comida pronta. E a logística não é fácil, refere a coordenadora do SolSal, Alexandra Constantino: "Tanto as cuvetes como a mala têm de ser hermeticamente fechadas, para manter a temperatura com que a comida sai do restaurante. E tem de ser distribuída no máximo de três horas".

Todo o material foi adquirido pelas Oficinas de S. José, que também fornece a carrinha que faz o transporte. A equipa que faz a recolha é fixa: António, funcionário dos salesianos, Ana Maggiolli, educadora social do SolSal, e Diana Almeida, psicóloga da Junta de Freguesia da Lapa.

Recolha Diária no Refeitório
A recolha é feita todas as tardes a seguir ao almoço e a quantidade do que é doado determina o número de beneficiários em cada dia. As pessoas são contactadas por telefone, enquanto a comida é distribuída por caixas de plástico descartáveis.

Diana Almeida explica que "cada agregado leva para cada pessoa uma sopa e uma destas refeições". "Muitas destas pessoas não têm gás ou vivem sozinhas ou num quarto, não podem confeccionar comida - por isso, é a maneira de terem uma refeição pronta."

Alexandra Constantino diz que, no início, nem sabiam bem que quantidades pôr: "A ideia inicial era ter uma caixa para a sopa e outra para o conduto. Depois percebemos que a caixa da sopa era muito pequenina. Temo-nos estado a ajustar, também com o 'feedback' que as pessoas nos dão, se é muito, se é pouco".

Tanto a Junta da Lapa como o SolSal têm sinalizados os casos mais graves e são esses que recebem este apoio de emergência. É o caso de Mara Rizia, 45 anos, professora desempregada, que está em Portugal há cinco anos sem conseguir trabalho e que garante que esta ajuda está a ser fundamental: "Isto tem-nos alimentado, matado a nossa fome, à minha família e a muitas outras que aqui vêm".

As famílias vão buscar as refeições ao edifício do colégio. O presidente da Junta de Freguesia da Lapa, João Nuno Ferro Nuno, espera em breve conseguir distribuir algumas também ao domicílio.

"Até agora o que sobrava ia para o lixo”
O refeitório do Parlamento é explorado pela ICA - Indústria e Comércio Alimentar. O administrador, Luis Moura, saúda a iniciativa da associação "DariAcordar", porque, até agora, por imposição da lei, tudo o que sobrava dos almoços ia directamente para o lixo.

Cristina Correia, dhefe de divisão do Aprovisionamento e Património da Assembleia da República, diz que este é um projecto irrecusável, ainda mais em tempo de crise, e acredita que, ao assumir a sua responsabilidade social desta forma, o Parlamento pode servir de exemplo para outras instituições.


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