“A Europa tem uma visão errada do Brasil”, diz cardeal brasileiro
23 jul, 2012 • José Pedro Frazão
O Brasil é o maior país católico do mundo, tem o maior número de bispos e está a um ano de receber as jornadas mundiais da Juventude.
Dois dos principais responsáveis da Igreja brasileira sublinham que a pobreza não cede em tempos de maior prosperidade económica no Brasil. O Cardeal de São Paulo diz que " a economia é um dado ilusório" e o Arcebispo do Rio diz que é preciso "aprofundar a fé" no Brasil.
Estes são os desafios da Igreja no maior país da América do Sul, que está a um ano de receber milhões de jovens para as Jornadas Mundiais da Juventude.
Um país continental tem de tudo e em grande escala. Quando D. Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, olha para a Igreja brasileira encontra múltiplos desafios, mas também uma força muito significativa num país em mudança. “Somos actualmente o maior episcopado do mundo, ao mesmo tempo há uma pujança de trabalhos pastorais. Há uma grande unidade com o Santo Padre nas preocupações pastorais de evangelização e doutrina.”
“Ao mesmo tempo sofremos a influência do que se passa na Europa, a secularização, o consumismo, como o que se passa nos EUA, e também com os ataques que a Igreja sofre. Creio que esses aspectos, embora não sejam sentidos da mesma forma por toda a gente, também chegam à Igreja”, considera ainda.
No Ano da Fé, a Igreja brasileira não pode passar ao lado desse desafio, diz D. Orani Tempesta: “Requer hoje um novo tipo de evangelização, um aprofundamento da fé. Creio que isso, neste Ano da Fé, nos questiona sobre como trabalhar este aspecto, que embora tenhamos umas boas experiências, precisa de ser difundido e democratizado”.
Depois, há ainda a assistência material que a Igreja continua a fornecer em largos números apesar do crescimento económico dos últimos anos. A arquidiocese do Rio apoiou directamente mais de dois milhões de pessoas em 2011, sem contar com a assistência de grupos específicos ligados à Igreja como as Caritas.
Apesar da melhoria económica que leva ao reaparecimento da classe média no Brasil, a realidade é mais negra que a dos números do PIB. O Cardeal de São Paulo, D. Odílio Scherer, chega a dizer que a Europa está errada na forma quase idílica como vê hoje o Brasil.
“Essa diferença é muito grande, a pobreza ainda existe, é muito alargada. No exterior tem-se uma visão muito errada da nossa situação na América Latina porque se olham apenas os índices económicos, a economia é um dado ilusório, porque não se olha o desenvolvimento social e ambiental.”
“Se tomarmos em conta outros critérios, veremos que ainda temos muito que fazer e que a Europa tem um conceito errado do que se passa no Brasil”, diz D. Odílio, que dirige a maior arquidiocese do Brasil, a terceira maior do Mundo.